Olhar estrangeiro: Loco Abreu puxa lista de supersticiosos do Uruguai

Pablo Benítez

Do El Observador (Uruguai)*

  • Reuters

    Loco Abreu é um dos jogadores mais supersticiosos da seleção uruguaia

    Loco Abreu é um dos jogadores mais supersticiosos da seleção uruguaia

Como não há uma seleção sem superstições, no Uruguai cada um observa as suas. Ouvir música folk colocada por Scotti e Loco Abreu enquanto eles bebem o mate logo cedo de manhã. Usar as mesmas roupas. Respeitar mais do que nunca os lugares no ônibus e a ordem de entrada nos vestiários.

Talvez o membro mais supersticioso da equipe seja Sebastián "El Loco" Abreu. Ele tem uma peculiaridade e esta é hoje famosa  camisa do time de Lavalleja que seu pai, Washington Miguel, usou quando defendeu as cores da província [Lavalleja é uma das divisões administrativas do Uruguai]. Ela foi dividida em dois; a outra metade é azul clara de sua camisa do Uruguai. A camisa foi restaurada, reconstruída e até customizada com o brasão do Nacional, a bandeira e a foto de seus filhos Diego e Valentina.

Abreu admite que ele é um crente fervoroso. "Bem, eu faço um pouco de tudo. São coisas às quais eu me apego", El Loco disse ao El Observador que ele joga com um rosário e sua aliança de casamento, muito embora não seja permitido. Outra coisa que não pode ser ignorada é que Abreu carrega a Virgem de Verdun para toda parte. "Mas não é uma superstição", esclarece. "É para que ela nos proteja, para que ninguém tenha lesões graves e para que ela nos proteja quando viajamos", disse ele.

Na seleção uruguaia até "El Maestro", o técnico Tabárez sabe qual seu papel deve ser: "eu não sou supersticioso mas, no futebol, é inevitável se envolver. Se os jogadores acreditam que eu tenho que colocar uma certa gravata para continuar ganhando, eu coloco". Preste atenção no que ele terá em torno do pescoço no jogo de abertura do Grupo D contra a Costa Rica.

Perfil: Egidio Arévalo Ríos

Egidio Arévalo Ríos não tem o apelo de imagem de Luis Suáres, o talento de Diego Forlán, nem o poder de estrelato de Edinson Cavani. Mas ele personifica à perfeição os valores do jogador uruguaio: humildade, modéstia, garra e comprometimento.

Apelidado de El Cacha [significa o cabo de uma faca], Egidio, de 32 anos, joga como volante e é crucial para a equipe uruguaia no que diz respeito a recuperar a bola, e também em distribuí-la com segurança. Ele acabou de assinar com o clube mexicano Tigres depois de um empréstimo breve de seis meses para o Monarcas de Morelia, também no México.

Nascido na cidade costeira de Paysandú, ele começou jogando nas equipes juvenis do clube Bella Vista, da cidade, eventualmente chegando à equipe principal. "Eles pagam por jogo ganho, e não mensalmente como em Montevidéu [a capital], mas tenho boas memórias daquela época no Paysandú", ele se recordou em uma entrevista para o jornal uruguaio El Observador.

Como ele não ganhava muito dinheiro, combinou suas aventuras esportivas com bicos como pintor e pedreiro, junto com seu pai. Ele estudou carpintaria, embora sua mãe, Martha, tivesse que ir atrás dele para ir à aula. Quando chegou à equipe principal, em 1999, e conseguiu seus primeiros salários, ele ajudou sua família a pagar contas atrasadas. O Paysandú Bella Vista estava jogando na época no topo do campeonato uruguaio e depois de marcar um gol em uma partida contra o Defensor Sporting, que o Bella Vista ganhou por 4 a 1, começou a chamar a atenção de times maiores.

Ele foi contratado por outro clube chamado Bella Vista, a equipe que leva o mesmo nome mas é de Montevidéu e que havia ganhado seu único Campeonato Uruguaio em 1990. Ele assinou com eles em 2002 e embora Arévalo tenha continuado melhorando como jogador, seu clube foi rebaixado em 2004. Só em abril de 2006 que Tabárez o chamou pela primeira vez para treinar com a seleção uruguaia.

Em sua primeira sessão de treinamento com La Celeste, ele teve uma experiência incomum. Como seu salário não era suficiente para comprar um carro, El Cacha chegou de ônibus. "Levantei cedo - como sempre - para acordar as crianças, fiz um mate, fui ao ponto de ônibus e dois ônibus passaram sem parar porque estavam cheios. No dia seguinte eu acordei mais cedo porque não quis ficar nervoso de novo", disse ele na época.

O Peñarol foi sua próxima parada em 2006, e o salto para um clube grande melhorou seu jogo ainda mais. Treinado por Gregorio Pérez, ele foi o homem-chave em uma equipe que retirou os aurinegros de um período sombrio e os carregou para a final do torneio Clausura onde o Danubio os derrotou por pênaltis.

El Cacha marcou oito gols naquela temporada, dois deles no clássico contra o Nacional no torneio Apertura de 2006. Por volta daquela época ele ficou consciente de sua fama no Uruguai. As crianças gritavam seu nome, vizinhos que eram torcedores do Peñarol lhe agradeciam e os carros buzinavam para ele na rua.

"Eu não ligo para e-mail. Não ligo para computadores, ou livros", disse ele em uma entrevista depois daquele jogo inesquecível. O jornalista havia lhe oferecido enviar as fotos da matéria por correio eletrônico. Naquela época ele ainda não havia aprendido a dirigir, e seu colega de equipe Nelson Oliveira e até o jogador do time juvenil Maximiliano Bajter davam carona para ele.

Em 2007 ele se mudou para o exterior, assinando um contrato com o Monterrey do México onde ele não começou regularmente. Ele teve que voltar para jogar pelo Danubio por meio ano para conseguir ir para o exterior novamente, de volta ao México pelo San Luis.

Incapaz de mostrar suas qualidades no exterior, Arévalo voltou ao Peñarol em 2010 onde venceu o Campeonato Uruguaio de 2009-2010, antes de viajar para a Copa do Mundo na África do Sul, onde seu desempenho notável para a seleção foi encoberto pelos elogios a Forlán por seus gols ou Luis Suárez.

Foi um pouco inacreditável que Arévalo tenha permanecido jogando na liga local Uruguaia depois de seu desempenho na África do Sul. Ele só conseguiu deixá-la em 2011. O futebol então o levou para Tijuana no México, Palermo na Itália, o Chicago Fire nos EUA, Morelia de volta ao México e agora ao Tigres.

Mas o lugar onde está claro que El Cacha joga melhor é no Uruguai, como na Copa América de 2011, onde ele novamente participou de todos os jogos, venceu a copa e fez uma assistência para Forlán na final. Hoje em dia, contudo, como um veterano experiente com mais de 50 jogos pela seleção, Arévalo Ríos pelo menos aparece para treinar no La Celeste em seu próprio carro.

Como joga o Uruguai

Quando Óscar Tabárez começou sua segunda passagem como técnico da seleção uruguaia ele declarou categoricamente que suas equipes jogariam com uma formação fixa: a tradicional 4-3-3. Contudo, uma derrota sofrida em sua estreia na Copa América de 2007 na Venezuela (0-3 para o Peru) significou que suas ideias táticas tinham que ser mais flexíveis. O Uruguai não é um time que gosta de dominar a posse da bola. Ele não tem a capacidade para jogar um jogo baseado na posse da bola.

Mas ele tem seus pontos fortes. Eles são duros na defesa e na marcação no meio-campo e são letais no contra-ataque uma vez que seus maiores astros jogam no ataque, onde o estilo de penetração os torna perigosos de qualquer lado, particularmente nas alas desde que a equipe prescindiu de um armador depois de enfrentar a França em seu primeiro jogo da Copa do Mundo da África do Sul em 2010, que terminou em 0 a 0.

Tabárez gosta de montar suas equipes com base nos pontos fortes do adversário, para enfraquecê-lo e então libertar o potencial de seu time no campo.

Embora muita coisa ainda possa mudar para o técnico, é provável que na Copa do Mundo ele comece no jogo de abertura contra a Costa Rica com um esquema 4-4-2, com Fernando Muslera no gol, Maximiliano Pereira, Diego Lugano, Diego Godín e Martín Cárceres na defesa.

O meio-campo terá Cristhian Stuani, Arévalo Ríos, Walter Gargano e Cristian Rodríguez, com os dois grandes artilheiros, Edinson Cavani e Luis Suárez, pareados na frente. Se Suárez ainda não estiver recuperado de sua operação no joelho, como parece provável, a primeira alternativa é Diego Forlán.

Uma opção mais defensiva é que Álvaro González jogue no lugar de Stuani no meio-campo, o que daria à equipe uma base mais defensiva, embora talvez seja mais provável que isso aconteça nos jogos contra a Inglaterra e a Itália.

Nos jogos das eliminatórias, esta foi a estratégia mais usada, embora Tabárez também tenha variado as coisas, jogando com três homens na defesa (como na derrota de 0-4 para a Colômbia, portanto sem grande sucesso) ou com Suárez, Cavani e Forlán juntos no ataque com Forlán tendendo a ficar mais atrás para ditar as jogadas.

Jogo Rápido - Uruguai
  • Quem será o jogador que surpreenderá a todos na Copa?
    Esta é uma pergunta difícil de responder. Uma das características que define o Uruguai - tanto uma força quanto uma fraqueza - é que todos sabem a forma como ele joga e isso não mudou em quase 4 anos. Tabárez não é muito fã de surpresas; ele prefere métodos testados e aprovados. Levando isso em conta, uma surpresa poderia ser Lodeiro (do Corinthians). Ele pode trazer muita qualidade ao time.
  • Qual é o jogador com maior probabilidade de decepcionar?
    O capitão, Diego Lugano, enfrenta um enorme desafio: aos 33 anos de idade seus melhores dias parecem ter ficado para trás, embora ele seja um jogador-chave e líder do time. As apostas estão contra ele mas ele tem o desafio de provar que ainda é capaz.
  • Qual é a meta realista de sua seleção na Copa do Mundo e por quê?
    Muito vai depender de como Luis Suárez se recuperar, pelo que isso significa tanto em termos de futebol quanto de moral. Se ele se recuperar, o Uruguai é um time maduro capaz de pegar qualquer time. Dependendo da sorte, um cenário lógico é que eles consigam chegar às quartas de final.

Curiosidades - Uruguai
  • Best Photo Agency & C / Pier Gia
    Diego Forlán
    Forlán jogou como nº 10 na Copa de 2010, mas não costumava gostar. "Quando as eliminatórias começaram não nos deixar jogar com números altos. O preparador de uniformes disse que eu não poderia usar o 21, só até o 18. O nº 9 estava livre mas não é um número do qual eu goste. Havia o número 7 mas o El Cebolla [Cristián Rodríguez] estava usando. O nº 10 estava livre então eu disse 'deem para mim'" Foto: Best Photo Agency & C / Pier Gia

* Este artigo é parte da série "Olhar Estrangeiro", produzida por 32 veículos de mídia dos países que disputam a Copa do Mundo, como UOL, Guardian (Inglaterra) e France Football (França).

Tradutor: Eloise De Vylder

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