Olhar estrangeiro: Comissão técnica nigeriana volta à Copa após frustrações

Emeka Enyadike

Do SuperSport (Nigéria)*

Stephen Keshi jogou pela Nigéria na Copa do Mundo de 1994 nos Estados Unidos como capitão, mas como técnico, ele e seu antecessor, Shuaibu Amodu, parecem azarados. modu era técnico, tendo Keshi como assistente, quando a Nigéria se classificou para a Coreia do Sul e Japão em 2002, mas após o terceiro lugar na Copa das Nações Africanas de 2002, em Mali, ambos foram demitidos antes da Copa do Mundo.

Keshi então classificou Togo para a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha, mas novamente, após levá-la à  Copa das Nações Africanas de 2006 no Egito, foi novamente demitido.

Amodu retornou como técnico da Nigéria nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul, novamente classificando a seleção, e novamente ficando em terceiro lugar na Copa das Nações Africanas  de 2010, em Angola. Mas, de novo, ele foi sacado após a contratação do sueco Lars Lagerback três meses antes do torneio.

Neste ano, entretanto, Keshi e Amodu parecem ter superado o azar apesar de todos os obstáculos. Keshi conquistou a Copa das Nações Africanas  na África do Sul, no ano passado, e classificou a Nigéria nas eliminatórias para o Brasil 2014, enquanto Amodu é o diretor técnico da Federação de Futebol da Nigéria. O "Chefão", como Keshi é afetuosamente chamado, sobreviveu às tentativas de contratação de um técnico estrangeiro e finalmente dirigirá a equipe na Copa do Mundo.

Se alguma vez existiu um estilo de jogo nigeriano, Keshi saberia, e ele finalmente conseguiu fazer os Super Águias jogarem com toque e objetividade, uma característica da geração dourada que se classificou para a Copa do Mundo de 1994 nos Estados Unidos, tendo Keshi como capitão e sob comando do técnico holandês Clemens Westerhof.

Aquela equipe teve sucesso no esquema 4-3-3 e, como Westerhof, Keshi também gosta de jogar dessa forma. Vincent Enyeama retornará à Copa do Mundo como goleiro e capitão, sua terceira participação depois de sua estreia na Coreia do Sul e Japão em 2002, e depois na África do Sul em 2010, onde sua batalha com Lionel Messi, na derrota da Nigéria por 1 a 0 para a Argentina, foi um duelo memorável do torneio.

O zagueiro do Celtic, Efe Ambrose, deve jogar na lateral-direita, e Elderson Echiejile do Monaco é a primeira opção para a lateral-esquerda. Keshi convocou o veterano zagueiro do Norwich City e ex-capitão, Joseph Yobo, mas ele deverá começar no banco, já que Godfrey Oboabona e Kenneth Omeruo são a dupla preferida para a zaga. Omeruo, 20 anos, espera se apresentar bem para atrair outro clube, em vez de ser novamente emprestado pelo Chelsea, onde está tendo dificuldade para se firmar, e suas apresentações por empréstimo no Middlesbrough, na última temporada, certamente sugerem que ele poderia ser titular em vários outros clubes.

Omeruo e Oboabona demonstraram um grande entrosamento na Copa das Nações Africanas de 2013, mas o primeiro sofreu uma lesão na Copa das Confederações no ano passado, e em seu lugar entrou o zagueiro gigante Azubuike Egwuekwe, que é muito mais lento que os dois "O"s.

No meio de campo, Mikel John Obi é a referência, mas não na mesma posição em que conquistou sua reputação no Chelsea. Mikel é o oposto na Nigéria, onde é uma força mais criativa ao lado de Ogenyi Onazi da Lazio,  no papel de volante, e Victor Moses também mais recuado, apesar de haver a possibilidade de Moses se ver na reserva devido às necessidades de cada jogo.

O meia do Chelsea é um elo de ligação entre o meio de campo e o ataque, mas teve uma temporada difícil por empréstimo ao Liverpool, onde permaneceu no banco na maioria dos jogos. Sua falta de ritmo de jogo pode levar Keshi a optar por um meia mais convencional, possivelmente o jovem talentoso Ramon Azeez do Almería, ou o homem do Real Betis, Nosa Igiebor, ao lado de Onazi para dar a Mikel o tipo de liberdade que precisa.

Mikel poderia voltar ao seu papel de volante na partida crucial contra a Bósnia –que pode ser decisiva na definição da segunda vaga do grupo– para ajudar a reforçar a defesa, e também para ajudar na marcação a Edin Dzeko, mas é improvável que haja algum desvio do esquema tático 4-3-3, porque a força da equipe nigeriana é a velocidade dos seus atacantes.

O retorno de Peter Odemwingie muda muita coisa, apesar de poder começar no banco. Graças a algumas apresentações impressionantes no Stoke City nos últimos cinco meses, sua versatilidade e experiência significam que ele pode substituir Moses e o parceiro Emmanuel Emenike na frente. O parceiro regular de Emenike no ataque, Brown Ideye do Dínamo de Kiev, não foi chamado para a grupo inicial de 30 jogadores pré-Copa do Mundo.

Odemwingie e Emenike também podem ser acompanhados de um ponta mais veloz, Ahmed Musa do CSKA de Moscou. Musa tem sido usado como centroavante com sucesso no CSKA, mas deverá aplicar sua arrancada devastadora pelas laterais do campo para se movimentar por trás dos zagueiros.

Perfil: Ogenyi Onazi

Ogenyi Onazi parecia ser apenas outro jogador desconhecido no interior atrasado do futebol nigeriano, até que o destino contribuiu para que ele despontasse no final de 2009. Onazi integrava a equipe da Nigéria que foi anfitriã do Mundial sub-17, um torneio que também contava com alguns dos melhores meninos no pedaço, incluindo Neymar, Philippe Coutinho, Isco, Koke e Mario Goetze.

Sempre competitiva nas categorias de base (a Nigéria venceu o Mundial sub-17 de 2013), os preparativos para aquela competição em casa foi um estudo sobre como não preparar uma equipe, já que o processo de escolha dos jogadores foi atrapalhado pela remoção de 17 atletas, depois de não passarem no teste de ressonância magnética, introduzido pela Fifa para acabar com os gatos no futebol.

Um novo técnico, John Obu, foi forçado a convocar vários substitutos, incluindo uma dupla de uma equipe patrocinada por uma igreja em Lagos, chamada My People, formada pelo pastor TB Joshua. Os dois jogadores eram o atacante Sani Emmanuel e Onazi. Inicialmente, foi o primeiro que chamou mais atenção, ao ser eleito o melhor jogador do torneio, após marcar cinco gols no caminho da Nigéria até a final, onde foi derrotada por 1 a 0 pela Suíça.

Toda a atenção dos olheiros se concentrou nele, mas o time italiano da Lazio ofereceu um teste aos dois amigos, antes de contratar ambos em 2011. Mas enquanto Sani teve dificuldades, Onazi se estabeleceu como volante. Ele foi promovido à equipe principal da Lazio aos 19 anos e fez sua estreia na Séria A na penúltima partida da temporada, entrando como substituto na vitória da Lazio sobre o Atalanta por 2 a 0.

Na temporada seguinte ele começaria a deixar sua marca, notadamente em uma apresentação chamativa contra o Tottenham pela Copa da Uefa, em White Hart Lane, e não demorou muito para a seleção nigeriana chamá-lo. Onazi fez sua estreia pelas Super Águias em casa, contra a Libéria, em um jogo crucial nas eliminatórias para a Copa das Nações Africanas de 2013, em Calabar, e em seu segundo jogo, um amistoso nos Estados Unidos, marcou seu primeiro gol pela Nigéria na vitória por 3 a 1 sobre a Venezuela.

Sua inclusão na seleção para a Copa das Nações Africanas de 2013 foi inicialmente como jogador complementar, mas depois de começar como substituto no empate no primeiro jogo com Burkina Fasso, ele se destacou naquele jogo e tem sido titular desde então.

Onazi fornece à mesma cobertura ao meia-armador da Nigéria, Mikel John Obi, que dá a Cristian Ledesma na Lazio e, apesar de seus bons passes, seu atributo mais forte e matar as jogadas dos adversários, o que lhe rende muitos cartões amarelos e também o motivo para não ter participado da Copa das Confederações de 2013, por causa de uma lesão.

Muitos acreditam que o fracasso da Nigéria em se classificar em seu grupo naquele torneio no Brasil foi devido à ausência de Onazi. Ele voltou à equipe para o Troféu Nelson Mandela  contra a África do Sul em Durban, e retornou à sua melhor forma na vitória da Nigéria por 2 a 0.

Eu passei quatro dias com a equipe em Durban e o que chamou minha atenção foi o caráter humilde de Onazi e sua religiosidade. Como ele me disse: "Deus e minha família são os dois elementos mais importantes da minha vida. Eu não estaria onde estou hoje sem eles".

Ele fala afetuosamente sobre passar suas folgas na cidade de Jos, na região central da Nigéria, com sua mãe e seus irmãos mais velhos, Oche e Agbo, com Oche sendo sua maior influência. Mas foi a mãe de Onazi que lhe comprou o material esportivo e o inscreveu nas equipes e torneios locais.

No empate de 2 a 2 contra a Itália, em novembro, no estádio Craven Cottage do Fulham, Onazi fez uma partida tão madura que levou o técnico, Stephen Keshi, a encher de elogios seu astro emergente. "Muita gente me faz perguntas sobre por que acreditava tanto nele quando o convocava para a seleção", disse Keshi. "Ele foi ótimo no ano passado –sempre melhorando, sempre exigindo a bola, apoiado os companheiros em dificuldades e mostrando alta consciência tática no calor da batalha. Como muitos de seus companheiros, ele só vai melhorar."

Boatos recentes ligaram Onazi ao Tottenham e ao Liverpool, e sem dúvida a Copa do Mundo será sua vitrine. Ele será o jogador que estimulará a seleção nigeriana no Brasil. Enquanto muitas das seleções se concentrarão em Mikel, fique atento à tenacidade de Onazi e uma de suas características menos conhecidas, a habilidade de chutar de longe com uma precisão mortal.

Onazi também contará com a companhia de dois outros daquela seleção sub-17 de 2009 – o volante Ramon Azeez, e o lateral-direito do Chelsea, Kenneth Omeruo. Infelizmente, o restante daquela seleção se perdeu na vastidão do futebol.

Jogo Rápido - Nigéria
  • Quem será o jogador que surpreenderá a todos na Copa?
    Odemwingie trará algo que esteve ausente na equipe durante a Copa das Confederações ?toneladas de experiência e um olho voltado ao gol. Aos 32 anos, é provável que esta seja sua última Copa. Sua fome de gols, somada com sua habilidade de chutar de longe com ambos os pés, sua habilidade nas bolas áereas, velocidade e passes precisos, significam uma boa chance de uma despedida de gala.
  • Qual é o jogador com maior probabilidade de decepcionar?
    Efe Ambrose acumulou grande experiência jogando como zagueiro na Liga dos Campeões e fez um grande torneio na Copa das Nações Africanas de 2013. Mas esta é a Copa do Mundo e ele pode ser pego fora de sua posição quando faz suas incursões no ataque, como vimos na Copa das Confederações. Se decidir permanecer na defesa, Musa ou qualquer um à direita poderá sentir falta de apoio.
  • Qual é a meta realista de sua seleção na Copa do Mundo e por quê?
    Qualquer coisa menos que as quartas de final não será aceita pelos torcedores. Mas primeiro a Nigéria terá que fazer algo que não conseguiu nos últimos 16 anos ?vencer uma partida de Copa. Caso se classifique, será muito difícil parar a Nigéria e há muita crença nesta equipe. Esta equipe vai surpreender muita gente e pode ir mais longe do que qualquer outra equipe africana no passado.

Curiosidades - Nigéria
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    Ogenyi Onazi
    O jogador de 20 anos estava jantando com seus irmão em Roma, em outubro de 2013, quando passou a suspeitar de um garoto vadiando nas proximidades. Suas suspeitas eram bem fundadas e, em segundos, o garoto bateu a carteira de um turista e fugiu correndo. Onazi perseguiu o garoto por cerca de 300 metros, finalmente o pegando e o levando juntamente com a carteira para o restaurante. Foto: Best Photo Agency & C / Pier Gia
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    Azubuike Egwuekwe
    O zagueiro dos Super Águias poderia ter virado madeireiro na Nigéria se não fosse por seu talento no futebol. Ele era aprendiz de seu pai, mas teve que escolher entre seguir os passos deste ou buscar uma carreira no esporte, pouco antes de começar a se profissionalizar pelo Nasarawa United, em 2006. "Eu era bom no comércio de madeira e dei muito lucro ao meu pai", ele se recorda. Foto: Best Photo Agency & C / Pier Gia
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    Vincent Enyeama
    O goleiro da Nigéria teve uma temporada brilhante em seu clube francês, o Lille, mas fora de campo nem parece um jogador de futebol. Seus companheiros de seleção o chamam de "Pastor", já que ele insiste em liderar as sessões de oração antes das refeições, treinos e partidas. "Vincent poderia facilmente ter aberto uma igreja", brincou o técnico da seleção, Stephen Keshi. Foto: Best Photo Agency & C / Pier Gia

* Este artigo é parte da série "Olhar Estrangeiro", produzida por 32 veículos de mídia dos países que disputam a Copa do Mundo, como UOL, Guardian (Inglaterra) e France Football (França).

Tradutor: George El Khouri Andolfato

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