Olhar estrangeiro: Estrela croata também é instalador de pisos e azulejos
Aleksandar Holiga
Tportal.hr (Croácia)*
Aparentemente, o atacante Mario Mandzukic nunca quis fazer outra coisa a não ser jogar futebol. Quando ele escolheu para qual colégio iria, revelou posteriormente seu pai Mato, Mandzukic foi para aquele mais próximo de casa. A ideia da principal estrela da Croácia na Copa do Mundo era não desperdiçar tempo precioso na viagem de ida e volta, para poder gastá-lo no playground próximo onde costumava ficar chutando bola por horas por dia.
O tipo de educação que ele recebeu naquela escola foi muito específica: além de jogador de futebol profissional, o atacante do Bayern de Munique também é um instalador de pisos e azulejos. Ao que parece, ele não mudou muito. Sempre que perguntado sobre seus hobbies, Mario Mandzukic alega não ter nenhum.
"Minha vida privada entediaria você", ele disse certa vez. "Eu prefiro passar meu tempo em casa com minha família e namorada." Ele também foi muito bem-sucedido em manter sua companheira, Ivana, longe da mídia. Eles nunca aparecem em público juntos, mas o nome dela é um dos dois escritos em suas chuteiras. O outro é o nome de seu cachorro. "Meu pug Leni me faz feliz" – foi seu único comentário a respeito.
Perfil: Ivan Rakitic
Todo verão, a cidade suíça de fronteira de Moehlin ganha vida por um dia. É o dia em que o filho mais célebre de Moehlin, Ivan Rakitic, traz um ar do futebol de ponta europeu para um lugar fora isso pacato, inserido de forma segura nas colinas arborizadas do cantão de Argóvia, ao sul da Alemanha.
Rakitic é dono do clube local NK Pajde, cujo nome pode ser mais precisamente traduzido do croata como "companheiros" ou "colegas". Ele joga nas divisões inferiores da Suíça e é um produto totalmente familiar: o pai de Ivan é o presidente, o tio dele é o diretor de futebol e seu irmão o assistente técnico. O próprio Ivan é o velho rico que sustenta a paixão.
"Sim, é isso mesmo, mas também é uma espécie de hobby pessoal", ele ri. "A maioria dos jogadores dali são velhos amigos, vizinhos, parentes... São as pessoas com as quais jogava quando era menino, são amigos de toda a vida. Nós temos uma atmosfera familiar no clube e gostamos de nos encontrar no campo de futebol. Eu ainda jogo às vezes, até mesmo treino com eles sempre que tenho chance."
Uma vez por ano fora da temporada, Rakitic pega seus outros amigos, alguns deles jogadores internacionais na Suíça e na Croácia, para virem à sua cidade natal jogar um amistoso contra o Pajde. Dizem nas ruas de Moehlin que ele até mesmo consegue que alguns de seus velhos amigos –como Manuel Neuer da Alemanha, que foi se companheiro de equipe no Schalke– contribuam para a verba do clube.
Seu local de nascimento significa muito para ele. Foi aqui que ele se apaixonou pelo país natal de seus pais, assistindo a Croácia jogando na Copa do Mundo de 1998. "Quando Robert Prosinecki marcou para nós contra a Jamaica", disse Rakitic ao "FourFourTwo", "eu fiquei tão feliz que corri para a sacada e escalei a cerca em euforia. Para ser justo, nosso apartamento era no primeiro andar, de modo que não teria um final trágico se eu caísse..."
Também foi aqui, quando Rakitic tinha 16 anos, que seu pai, Luka, teve uma conversa muito séria e com potencial de mudar a vida com um convidado distinto –um membro da comissão técnica de José Mourinho, que tentou levar Ivan ao Chelsea, oferecendo a Luka um emprego em Londres.
Naquela época, seu filho já se destacava nas categorias de base do Basel e a família recusou gentilmente a oferta, mas não sem muita consideração. E também foi aqui que Ivan informou ao seu pai a decisão de representar a Croácia –o jogador disse posteriormente que a família nunca o forçou a fazer a escolha, mas que seu pai derramou "lágrimas de alegria" ao saber. Não foi a decisão mais fácil de se tomar e a família estava sob imensa pressão. Na época, eles recebiam telefonemas anônimos e cartas lhes dizendo para deixarem a Suíça –até mesmo ameaças de morte– quase que diariamente, revelou posteriormente Luka Rakitic. Ivan sempre relutou em falar a respeito; ele esperou até que a poeira assentasse para poder falar.
Neste ano, a festa em Moehlin terá que esperar até depois da Copa do Mundo, onde Rakitic tentará conduzir a Croácia à glória –ou ao menos passar da fase de grupos. Ele agora é um dos principais jogadores da equipe e sua parceria em campo com Luka Modric, do Real Madrid, forma o eixo criativo mais empolgante da "Vatreni" desde a geração de bronze de 1998.
A equipe enfrentou algumas dificuldades na estrada para o Brasil, mas as coisas começaram a entrar nos eixos com o retorno de Niko Kovac. Também criado na diáspora, ele deu as boas-vindas ao novato de 19 anos nascido na Suíça à equipe como seu capitão em 2007; agora ele é o novo técnico de Rakitic.
Na Croácia, Rakitic é lembrado como uma figura trágica do último grande torneio da seleção, há dois anos. Ele teve a melhor chance de decidir o jogo da Euro 2012 contra a Espanha, mas Iker Casillas salvou sua cabeçada à queima-roupa, dada após correr meio campo e escapar da atenção de Sergio Busquets para receber o sublime cruzamento de Modric do bico da grande área. Poderia ter sido um momento definidor da carreira, mas ele apenas o inspirou a se empenhar ainda mais e Rakitic realmente decolou como jogador depois disso.
Ele se tornou capitão do Sevilha, seu terceiro clube profissional depois do Basel e Schalke 04, e se desenvolveu em um dos maiores destaques da Europa. Ele é tão versátil quanto seu domínio de línguas (Rakitic fala cinco línguas diferentes), assim como é capaz de jogar em praticamente qualquer posição no meio-campo: o "Todocampista", é o como o jornal espanhol "Marca" o apelidou.
Após uma temporada fantástica pelo Sevilha, este também será um período de grandes decisões para o jogador de 26 anos. Rumores de transferência o ligam a nomes estelares da Europa –com os finalistas da Liga dos Campeões, Real Madrid e Atlético Madri, entre os repetidamente mencionados possíveis pretendentes, assim como o Manchester United, Chelsea e Liverpool.
Permanecer em Sevilha, onde se casou com uma garota local e se tornou pai, também é uma opção, mas há poucos meses seu pai, Luka, disse à imprensa croata que seu filho faria "uma transferência recorde na história do futebol croata". Isso significaria superar a transferência de 30 milhões de libras de Luka Modric do Spurs para o Real Madrid –se ambos jogarem bem juntos pela Croácia na Copa do Mundo, eles poderiam até mesmo jogar juntos no Bernabéu.
Mas, independente do que aconteça nas próximas semanas, um clube certamente terá Rakitic em seus livros na próxima temporada –o NK Pajde de Moehlin.
Como joga a Croácia
Foram-se os tempos de experimentos táticos incessantes que resultaram na demissão de Igor Stimac, antes do jogo da repescagem para a Copa do Mundo contra a Islândia, em novembro. Diferentemente de seu antecessor altamente impopular, o novo técnico da Croácia, Niko Kovac, é inflexível em jogar no 4-2-3-1 passando a 4-1-4-1, como proclamou desde o início de seu trabalho. Essa formação pode extrair o melhor da dupla Luka Modric e Ivan Rakitic, mas ainda não resolve nenhum de dois velhos problemas: a falta de pontas de qualidade e a necessidade de equilibrar criatividade com marcação no meio-campo.
Apesar de Danijel Subasic estar se apresentando muito bem no Monaco, Stipe Pletikosa, 35 anos, ainda é a primeira opção para goleiro. Confiável em vez de espetacular, ele mantém essa posição há quase 15 anos. O capitão Darijo Srna, do Shaktar Donetsk, é incontestavelmente o lateral-direito, enquanto Vedran Corluka, do Lokomotiv Moscow, e Dejan Lovren, do Southampton, devem formar o miolo da zaga. A lateral-esquerda tem sido um ponto fraco permanente, o motivo para Kovac ter chamado de volta o quase esquecido Danijel Pranjic, atualmente no Panathinaikos.
Modric, do Real Madrid, e Rakitic, do Sevilha, deverão comandar o espetáculo no meio-campo. Mas também é preciso encontrar um lugar para Mateo Kovacic, o astro em ascensão da Internazionale, e a pergunta é, onde? É o mesmo dilema que Miroslav Blasevic teve como técnico da geração que ficou em terceiro lugar na Copa de 1998, que contava como Zvonimir Boban, Robert Prosinecki e Aljosa Asanovic: colocar todos os três meias em campo é tão arriscado quanto tentador.
Apesar de todos no trio atual serem taticamente inteligentes e bons roubadores de bola, eles não oferecem marcação suficiente; além disso, um foco excessivo no trabalho defensivo poderiam sufocar sua criatividade. A adição de um volante especialista –como o experiente, mas frequentemente questionado Ognjen Vukojevic, do Dínamo de Kiev– é a opção mais segura.
Neste caso, o jovem Kovacic poderia ser empregado como um ponta, posição na qual se sairia melhor do que ocorreu com Rakitic, que antes era rotineiramente (mal) usado em várias posições na seleção. Essa troca em particular está entre as coisas que Kovac está considerando para a partida de abertura da Copa contra o Brasil, em 12 de junho, quando seu astro do ataque, Mario Mandzukic, não estará disponível devido ao cartão vermelho recebido na vitória por 2 a 0 sobre a Islândia, no segundo jogo da repescagem.
O jogador do Bayern de Munique será substituído por Eduardo (Shakhtar Donetsk) ou pelo veterano Ivica Olic (Wolfsburg) –este último tem sido usado com frequência como armador pela Croácia, principalmente por necessidade, mas sua posição natural é como atacante. O companheiro de equipe de Olic, Ivan Perisic, deverá começar no outro flanco.
Tradutor: George El Khouri Andolfato