Olhar estrangeiro: lema da Grécia é "Atacar e defender como um só"
Stavros Drakoularakos
Do Sport24.gr (Grécia)*
Ataquem e defendam como um só -- a inscrição na camisa da seleção nacional da Grécia é precisa. A filosofia já existia quando Fernando Santos assumiu o cargo de Otto Rehhagel, o treinador que liderou a Grécia a seu momento mais glorioso, na conquista do título da Eurocopa em 2004. Ele apenas precisava garantir que não seria diluído enquanto a velha guarda era lentamente substituída por sangue novo. E foi o que fez.
A tática do time de Santos se baseia na disciplina e no foco tático, independentemente de quem é selecionado para jogar em campo. A formação 4-3-3 é a que levou a Grécia à glória em 2004 e não deverá mudar. O técnico português sempre favoreceu três meias apoiados por dois zagueiros centrais fortes na retaguarda. Seu objetivo é reduzir a distância entre as duas linhas, oferecer espaço muito limitado para passes curtos e rápidos fora da área e facilitar a transição para o ataque quando o oponente perde a posse de bola.
Os quatro defensores raramente apoiam o ataque, e isso lhes dá o luxo de se concentrar principalmente em manter sua posição ao invés de se expor enquanto tentam ultrapassar o adversário pelas laterais. Não é a tática mais excitante, mas faz o serviço, como descobriu a Rússia na Euro-2012.
No ataque as coisas são mais simples. Quando Giorgos Karagounis, o meia talismã que liga duas gerações do futebol grego, não está em campo, Georgios Samaras é o ponto de referência no ataque. Kostas Mitroglou lidera a linha ofensiva e, juntamente com Dimitris Salpingidis vindo pelos flancos, está na dianteira para receber passes profundos e cruzamentos.
Embora exista talento para o ataque, é com a defesa que a Grécia conta mais. Foi assim que chegaram à Copa do Mundo tendo sofrido apenas quatro gols em dez partidas. Foi a única maneira de compensar seus esforços do ataque medíocre que conseguiu dez gols, enquanto a Bósnia, que terminou em primeiro no grupo, marcou 30.
Mas não é o centro da estratégia da Grécia, é apenas o meio para atingir um fim. O segredo é seu espírito de equipe e sua disposição a sacrificar até a beleza do jogo, que se considera amplamente como uma consequência somente do talento no ataque, e substituí-la por sua própria versão do "jogo bonito" -- aquela em que um grupo de jogadores, minuto após minuto, jogo após jogo, torneio após torneio, se recusa a ceder às fraquezas do time e a compensa mantendo-se unidos e fazendo o que é necessário. Atacar e defender como um só. Isso é a Grécia.
Perfil: José Holebas
Durante a Copa do Brasil, poucos jogadores poderão contar a história de alguém que "partiu do zero" como o carismático lateral-esquerdo da Grécia, José Holebas. O alemão de origem grega ou, se você preferir, grego de origem alemã, fez sua primeira atuação profissional em 21 de setembro de 2007, com 23 anos, apesar de ter parado de jogar futebol alguns anos antes, em 2001.
Seu pai veio de Trikala, na Grécia, e sua mãe do Uruguai. José cresceu e começou a aprender futebol na Alemanha. Seu primeiro clube foi o Südring, quando tinha 7 anos. Ele jogou em clubes amadores até 2001, quando sua namorada engravidou e José, com 16 anos, decidiu parar. Precisava trabalhar dois períodos como ajudante de armazém para sustentar as despesas crescentes da família.
Um ano depois estava jogando novamente. Desta vez para valer. Em 2005 José teve sua primeira chance. Ele marcou 15 gols em 33 participações com o Viktoria Kahl, jogando como atacante. Foi o que o levou ao time B do Munique 1860 e, um ano depois, a seu primeiro contrato profissional com o time principal.
Foi em 2009 que seu treinador, Ewald Lienen, um homem de pensamento radical desde seu tempo de jogador, quando vestia depois dos jogos camisetas pela paz e contra a ameaça nuclear, aconselhou Holebas, então com 25 anos, a ficar na defesa e jogar como lateral-esquerdo.
As Moiras, as três deusas do destino na antiga mitologia grega, ainda tinham muitas surpresas a acrescentar à carreira futebolística de Holebas.
Um ano depois de ele ser aconselhado a trocar de posição, Lienen partiu para ser treinador do Olympiakos. Eles também precisavam de um lateral-esquerdo que pudesse defender mas também tivesse habilidades e mentalidade para ajudar no ataque pela esquerda. Lienen imediatamente contratou Holebas e lhe deu a oportunidade de jogar em um clube importante com potencial para a Liga dos Campeões. Dois meses depois, o Olympiakos foi derrubado da Liga dos Campeões e Lienen pagou por isso.
Holebas tinha sido novamente contratado por um treinador que não estava mais lá. Sofreu duras críticas nos primeiros meses no clube, enquanto lutava para entrar em forma e tendo de carregar o peso de ser contratado por um treinador fracassado. Quatro meses foi tudo de que ele precisou para começar a dar uma boa impressão ao novo técnico, Ernesto Valverde, que o usou no lado esquerdo do campo tanto na defesa quanto no ataque, dependendo do adversário.
Ele chamou a atenção de Fernando Santos, o treinador português da Grécia. Em novembro de 2011, José obteve a cidadania grega como "Iosef Holevas", e no dia 11 desse mês jogou seu primeiro amistoso, contribuindo para o gol que empatou a partida contra a Rússia em 1 a 1. Em 2012, José participou da seleção grega na Eurocopa. Saiu do time na terceira partida devido a fortes críticas de que sua tendência ao ataque estava ficando perigosa para a tática de sólida defesa habitual da Grécia. Ele entrou no jogo nos 30 minutos finais, atuou admiravelmente e ajudou a Grécia a manter a vitória de 1-0 contra a Rússia.
Holebas fez 20 participações para a Grécia e deverá ser titular na Copa do Mundo deste ano.
Este artigo é parte da série "Olhar Estrangeiro", produzida por 32 veículos de mídia dos países que disputam a Copa do Mundo, como UOL, Guardian (Inglaterra) e France Football (França).
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves