Olhar estrangeiro: Neymar equatoriano teve passagem apagada pelo Cruzeiro
Juan Fernando Guerrero e Alberto Guaranda Suárez
Do Ecuagol.com (Equador)
Fidel Martínez joga atualmente pelo Xolos Tijuana no México, mas o jogador de 24 anos iniciou sua carreira em sua província natal de Sucumbios, de onde também veio Antonio Valencia. Martínez foi inicialmente convocado para a seleção sub-20 nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro-07 e suas apresentações chamaram a atenção do clube brasileiro Cruzeiro, que o contratou em 2007.
Mas ele não se destacou lá e voltou para casa para jogar pelo Deportivo Quito, onde se tornou artilheiro e astro. Seu corte de cabelo faz com que Martinez seja conhecido como o "Neymar equatoriano" e ele gosta de tingir seu cabelo de cores diferentes e de formas chamativas.
Outra curiosidade sobre este jogador é sua comemoração dos gols, com movimentos de hip-hop, às vezes de rap, e certa vez ele levou um computador ao campo para comemorar. Ele é um dos jogadores favoritos da torcida, talvez por nunca deixar de vir ao Equador em suas folgas e por comprar milhares de brinquedos para dar para as crianças de sua província natal.
Perfil: Felipe Caicedo
A lágrima tatuada sob seu olho esquerdo reflete os tempos difíceis que Felipe Salvador Caicedo Corozo enfrentou em sua vida, especialmente quando era menino. Mas ele também diz que quando se olha no espelho, ela não deixa ele se esquecer de onde veio. Quando era menino, ele jogava futebol com seus amigos nas ruas de Guasmo, um bairro pobre e perigoso de Guayaquil, no Equador. Eles jogavam descalços na rua e com bolas surradas, mas sempre com o grande sonho de se tornarem jogadores profissionais.
Aos 9 anos, ele começou a jogar pelo Rocafuerte FC e –assim que se acostumou a jogar com chuteiras– seu futebol começou a crescer dramaticamente, logo passando a ser um dos jogadores mais importantes nas equipes jovens. Prova concreta disso veio quando foi convocado para a seleção sub-17 do Equador e as boas apresentações nos mundiais chamaram a atenção de grandes equipes da Europa.
Quando tinha 16 anos, o clube francês Lyon parecia ser o mais interessado nele; estava tudo quase pronto quando o Basel, da Suíça, se meteu e contratou o jovem "Felipao". Deixar o Equador foi uma decisão difícil para ele, mas, após receber o apoio de sua família, ele fez as malas e deu início ao seu sonho europeu. Os primeiros dias e meses foram muito difíceis na Suíça, ao não se acostumar com a nova vida, cultura e distância de seus entes queridos, mas com esforço e sacrifício, ele conseguiu gradualmente vencer jogos para o time "azul e vermelho" da Suíça, pelo qual marcou 16 gols em 44 jogos.
Durante este período na Suíça, ele também aproveitou a oportunidade para crescer fora do futebol, ao concluir seus estudos e se formar em ciência da computação. Após passar dois anos no Basel, o Manchester City se interessou e pagou 7 milhões de euros pela transferência, tornando Caicedo o jogador mais caro da história do Equador.
Na Inglaterra, ele jogou pelo City em 33 jogos e marcou oito gols, mas com o tempo perdeu a confiança do treinador, Roberto Mancini, e foi emprestado ao Sporting de Lisboa. Ele não se estabeleceu ali e logo foi emprestado ao Málaga na Espanha, em 2010, onde marcou quatro gols em 18 jogos. No ano seguinte teve suas melhores apresentações, emprestado ao Levante, onde foi o artilheiro com 14 gols na temporada 2010-2011.
No Levante, ele se transformou em ídolo da torcida e astro do time, também recebendo o prêmio La Liga de melhor estreante. Apesar disso, o Levante não podia pagar o preço pela transferência permanente do Manchester City e ele acabou seguindo para o Lokomotiv de Moscou. Após duas temporadas ali, onde marcou 11 vezes em 52 jogos, o jogador rodado de 25 anos agora joga pelo Al Jazira, nos Emirados Árabes Unidos.
Quanto a suas apresentações pelo Equador, Caicedo fez sua estreia em 2005, em um amistoso contra a Itália, quando tinha apenas 16 anos; ele então foi convocado para a Copa América na Venezuela, em 2007, e quatro anos depois teve boa atuação na Copa América na Argentina, onde marcou dois gols em três partidas, mas depois ficou ausente da Tri por cerca de um ano.
O motivo de sua ausência foi um suposto relacionamento ruim com o técnico, Reinaldo Rueda, que sentia que Caicedo prejudicava o bom ambiente na equipe. Mas bastou algumas boas apresentações do equatoriano pelo Lokomotiv para os torcedores pedirem seu retorno à seleção, e ele acabou sendo convocado para jogar nas eliminatórias sul-americanas para o Brasil. A decisão valeu a pena, já que Caicedo foi o artilheiro da seleção com 7 gols.
Caicedo está sempre ciente de onde nasceu, o motivo para ter criado uma fundação chamada "Felipao", que ajuda as crianças de Guayaquil, especialmente em seu antigo bairro. Quando visita sua cidade natal, ele costuma ser visto em eventos de caridade para ajudar os pobres; de algum modo tentar ser um "salvador", como em seu segundo nome.
Ele é torcedor do Barcelona de Guayaquil, um dos maiores clubes do país, e em várias ocasiões declarou que seu sonho é algum dia jogar pelo "ídolo do Equador". Mas ele também é um empreendedor, que recentemente lançou sua própria grife de moda chamada "Felipao", para a qual seus companheiros de equipe costumam ser modelos e postam fotos em suas redes sociais vestindo seus produtos.
Caicedo já reconheceu que seus filmes favoritos são os da série "Rocky", que ele assiste antes dos jogos, porque o inspiram, mas não para ser agressivo em campo. Caicedo gosta de fazer o que mais sabe –marcar gols. No Brasil, Felipe Caicedo jogará sua primeira Copa do Mundo e a falta de marcadores de gols desde a morte de Christian "Chucho" Benítez, significa que ele liderará o ataque de La Tri –e queira que marque os gols que a ajude a fazer história.
Como joga o Equador
Reinaldo Rueda tem uma missão muito difícil nesta Copa do Mundo. Após ser desclassificado na fase de grupos com Honduras na África do Sul, em 2010, o técnico tem uma segunda chance de ser uma das surpresas. Usando um esquema 4-4-2 e com a opção do 4-5-1 para uso das laterais e um centroavante solitário, o treinador tentará chegar desta vez à fase de mata-mata.
Um jogador que pode ser importante para o Equador desta vez é Enner Valencia. O meia-direita de 25 anos, que joga pelo Pachuca do México, foi deslocado para o ataque nas últimas cinco partidas, quatro jogos das eliminatórias e um amistoso. Nessa nova posição, ele se mostrou consideravelmente promissor, marcou dois gols e parece ser uma possível solução para o grande vazio deixado por Benítez.
Mas a grande pergunta agora é quem estará ao lado de Enner Valencia na frente. O ex-jogador do Manchester City, Felipe Caicedo, parece contar com a confiança de Rueda, apesar da temporada inconstante no Lokomotiv de Moscou e depois no Al Jazira dos Emirados Árabes Unidos. Mas a falta de outro jogador com a experiência necessária –Caicedo tem 15 gols em 48 convocações– o torna a única opção no ataque.
Há dois armadores na seleção de Rueda, o capitão Antonio Valencia e Jefferson Montero. Ambos são fundamentais para o ataque do Equador. Sua velocidade e experiência tornam Valencia, do Manchester United, tão valioso na defesa quanto no ataque. Montero, como Valencia no United, teve uma temporada difícil em seu clube, o Morelia do México, mas sua presença entre os titulares não é questionada, estando à frente de Fidel Martínez, João Rojas e Renato Ibarra, do Vitesse Arnhem. Uma das forças do Equador está no seu meio de campo. Jogadores como o perigoso Christian Noboa, do Dínamo de Moscou, e Segundo Castillo, têm muita experiência, podem passar rapidamente da defesa ao ataque e ambos ficam de olho no gol.
O principal problema do Equador está na defesa. Mesmo não tendo levado muitos gols nas eliminatórias (16 gols em 16 jogos), precisa ser mencionado que Rueda usou oito jogadores no miolo da zaga para encontrar a combinação certa. Sua melhor opção foi Frickson Erazo e Jayro Campos. Mas Campos sofreu uma lesão séria e não estará no Brasil, forçando Rueda a buscar uma alternativa. Erazo frequentemente é um reserva em seu clube, o Flamengo no Brasil, enquanto as outras opções, Jorge Guagua e Gabriel Achilier, não estão acostumados a jogar neste nível em seu clube, o Emelec do Equador.
A defesa é completada pelos laterais Juan Carlos Paredes e pelo veterano Walter Ayoví. Esta é uma área onde o Equador tem grandes problemas, e reduzir os espaços será vital contra seleções como Suíça e França, sem contar a velocidade e força física de Honduras.
A escalação de Equador provavelmente será esta contra a Suíça em 15 de junho: goleiro, Máximo Banguera; Juan Carlos Paredes, Jorge Guagua, Frickson Erazo, Walter Ayoví na defesa. Christian Noboa, Segundo Castillo, Jefferson Montero e Antonio Valencia no meio de campo. Enner Valencia como centro-avante, acompanhado por Felipe Caicedo.
Rueda está ciente de que individualmente o Equador pode não parecer uma ameaça, mas coletivamente pode ser uma força e isso poderá ser mais decisivo em uma Copa jogada em seu próprio continente. Combine o potencial da equipe com o elemento surpresa e nada pode ser descartado.
* Este artigo é parte da série "Olhar Estrangeiro", produzida por 32 veículos de mídia dos países que disputam a Copa do Mundo, como UOL, Guardian (Inglaterra) e France Football (França).
Tradutor: George El Khouri Andolfato