Olhar estrangeiro: esperança de Camarões está no ataque. E não é Eto'o
Arthur Wandji
Camfoot.com (Camarões)*
Samuel Eto'o é inquestionavelmente o astro da seleção de Camarões. Ele tem experiência, tendo jogado em quatro Copas do Mundo, e o retrospecto de duas vezes campeão da África, quatro vezes vencedor da Liga dos Campeões, o goleador mais prolífico na história da Copa das Nações na África, etc. Os olhos de milhões de torcedores em todo o mundo estarão voltados para ele. Mas o homem em quem a maioria dos torcedores camaroneses deposita mais esperança não é Eto'o, mas Vincent Aboubakar.
O jogador de 22 anos nunca foi campeão da África, Europa e nem mesmo da França, onde joga no modesto Lorient. Mas ele está começando a conquistar uma grande reputação. Ele já é bem conhecido em Camarões, onde foi astro do Cotonsport de Garoua e foi o único jogador de casa a ser incluído na seleção para a Copa do Mundo de 2010.
Ele não entrou em campo no torneio na África do Sul, mas depois foi para o Valenciennes, onde teve pouco impacto por três anos antes de sua transferência para o Lorient. Agora, suas apresentações durante uma temporada com Les Merlus foram tão espetaculares que já se fala em outra transferência, desta vez para um clube mais glamouroso. Ele terminou a temporada na França como terceiro maior artilheiro no Campeonato Francês, com 16 gols (e cinco assistências) em 32 jogos e escolhido o melhor em campo repetidas vezes. Ele integrou a curta lista para o Prêmio Marc-Vivien Foé, concedido ao melhor jogador africano na França.
Aboubakar foi o principal motivo para o Lorient ter evoluído de um dos favoritos ao rebaixamento a oitavo lugar na classificação final do Campeonato Francês. O técnico, Christian Gourcuff, merece muito crédito pela força coletiva de sua equipe e, sem dúvida, conseguiu extrair o melhor de Aboubakar.
"É óbvio que ele realmente precisa se sentir bem", disse Gourcuff. "Nós notamos isso imediatamente. Ele também precisa estar cheio de confiança para jogar." Aboubakar agora também desfruta da plena confiança do técnico de Camarões, Volker Finke, que provavelmente o considera um dos principais nomes na equipe no Brasil. Ele já tinha anunciado em fevereiro que Aboubakar certamente estaria no avião.
Aboubakar também é uma convocação com o qual todos os torcedores camaroneses concordam. Se estiver em plena forma, ele será um problema para as defesas do México, Croácia e Brasil no Grupo A. "Aboubakar realmente melhorou na finalização e desenvolveu sua postura em campo ao longo do ano", explica Henri Manga, um técnico camaronês. "Sua velocidade e finalização o tornam muito importante para a equipe de Finke, assim como sua habilidade com a bola. Ele é muito perigoso. É uma de nossas melhores armas e estou certo de que nossos oponentes estão cientes disso."
Caso os rivais de Camarões no grupo não estivessem cientes dele, o atacante lhes notificou sobre a ameaça que representava ao marcar um gol magnífico na derrota por 5 a 1 no amistoso contra Portugal, em março.
Como Camarões joga
É sempre difícil imaginar as intenções de um técnico, mas, provavelmente, Volker Finke empregará sua formação habitual 4-3-3 com Camarões no Brasil, escolhendo os jogadores que estiverem na melhor forma no momento.
Camarões não está abordando esta Copa do Mundo da mesma forma que fez em 1990, quando se tornou o primeiro país africano a chegar às quartas de final. Os tempos mudaram, assim como o futebol. E também é diferente o que está em jogo. Mas a atual seleção é estranhamente semelhante à de Roger Milla & companhia, de modo que é movida pela mesma determinação, combatividade e vontade de fazer história. Esses são atributos que Finke buscou fomentar para assegurar que a equipe se classifique no grupo.
Desde que assumiu a seleção em maio de 2013, Finke quase sempre usou o clássico 4-3-3, apenas ocasionalmente tentando um 4-4-2 ou 4-1-3-2. Os jogadores tendem a mudar muito, mas há algumas certezas. Charles Itandje quase certamente será o goleiro titular no Brasil, após uma boa temporada tanto internacional quanto em seu clube, o Konyaspor da Turquia, onde levou 45 gols em 33 partidas.
Nicolas N'Koulou e Aurélien Chedjou parecem ter se estabelecido como opções preferidas para o miolo da zaga nos últimos meses, apesar da temporada ruim em seus clubes. Por sua vez, Henri Bédimo provavelmente leva vantagem sobre Benoit Assou-Ekotto na lateral-esquerda, graças à excelente campanha no Lyon, onde, além de sólido na defesa, provou ser uma ameaça constante ao avançar ao ataque, encerrando a temporada com um gol e oito assistências. Allan Nyom pode estar um pouco à frente de Gaetan Bong e Dany Nounkeu na lateral-direita.
Há poucas certezas no meio-campo. Stéphane Mbia parece que ficará encarregado da responsabilidade de roubar as bolas após uma temporada esplêndida pelo Sevilha. Finke provavelmente colocará jogadores de maior mobilidade em torno dele, como Enoh Eyong, Jean II Makoun ou Alex Song do Barcelona, ou talvez até mesmo Salli Edgar, que foi a principal força por trás da volta do Lens à primeira divisão francesa.
Os maiores ativos de Camarões estão à frente. Samuel Eto'o, que será o capitão da seleção, provavelmente liderará o ataque, apesar de sua seca de gols ser uma preocupação. Vincent Aboubakar jogará à direita, de onde carregará o fardo pesado da expectativa. Ele foi a única luz brilhante na derrota por 5 a 1 no amistoso com Portugal neste ano, quando traduziu com sucesso sua forma soberba no Lorient da França para um palco internacional. Está menos claro quem começará à esquerda, com Finke tendo que escolher entre dois jogadores muito semelhantes, Eric Maxim Choupo-Moting e Pierre Wébo.
Este artigo é parte da série "Olhar Estrangeiro", produzida por 32 veículos de mídia dos países que disputam a Copa do Mundo, como UOL, Guardian (Inglaterra) e France Football (França).
Tradutor: George El Khouri Andolfato