Olhar estrangeiro: lateral da Costa Rica admite que já pensou em suicídio
Estaban Valverde e Leonardo Pandolfo
Do Al Día (Costa Rica)*
Em maio de 2013, o lateral Heiner Mora disse "sim, eu já pensei em me matar, você sabe que muita gente tem medo de dizer isso, mas pensei." Um ano atrás, Mora estava jogando para o Honefoss na Noruega, mas ele estava muito triste e cansado porque seus filhos estavam na Costa Rica e ele começou a ter pensamentos suicidas.
Ele decidiu voltar à Costa Rica, apesar das consequências. Agora, Mora ainda está disputando uma questão legal na Fifa por conta de sua saída da Noruega, mas no campo ele se tornou um campeão costarriquenho com o Saprissa e está bem mais feliz agora que está a caminho do Brasil e da Copa do Mundo.
Perfil: Joel Campbell
Em março de 2011 a equipe de Costa Rica estava em Honduras se preparando para a Copa do Mundo sub-20 enquanto cresciam as especulações em relação a quais jogadores Ricardo La Volpe, o técnico, selecionaria para os amistosos sênior que aconteceriam contra a China e Argentina. Os jogadores jovens daquela geração, nascidos em 1992 e 1993, se reuniram para comprar ingressos para os amistosos; a maioria foi, mas Joel Campbell não. Quando um de seus colegas de equipe perguntou se ele queria ir, ele respondeu: "quero ir, e irei, mas como jogador". Em 18 de março, La Volpe tomou sua decisão e Campbell foi selecionada para a equipe sênior.
A principal virtude de Campbell é sua mentalidade. Pode-se pensar que a resposta dele foi apenas uma confiança juvenil, mas isso mais tarde se mostrou um verdadeiro reflexo de seu caráter.
"Eu sempre disse que o sucesso anda de mãos dadas com o sacrifício. Eu sempre disse que é preciso pensar em vencer. Nós o ensinamos a estabelecer objetivos para curto, médio e longo prazo", disse Humberto Campbell, pai de Joel. Como filho de uma família do futebol, a bola sempre foi uma parte fundamental de seu DNA e para seu pai era essencial desde cedo que ele aprendesse valores como disciplina e dedicação. Ele celebra seus gols com uma continência como uma referência a seus primos.
Michel, o técnico do Olympiakos que teve o jovem centroavante emprestado do Arsenal na temporada passada, disse: "quando você trabalha com Campbell você percebe sua capacidade, seu desejo de treinar". Isso é definitivamente uma herança de família. Joel tem três irmãos: Nekisha, Humberto e Katherine. Sua família é o segundo pilar em sua vida; o primeiro é Deus. Em sua aventura europeia, ele encontrou apoio de sua namorada, Maria Fernanda Cascante, que o acompanhou com frequência durante seus três empréstimos, para o Lorient da França, Real Betis da Espanha e Olympiakos da Grécia.
Roxana Samuels, mãe de Joel, revelou que antes de cada partida o filho lê o salmo 27. Essa prática começou por recomendação dela, mas se tornou a forma como Campbell consegue confiança para seus desempenhos.
Durante seu tempo no Olympiakos da Grécia, seu técnico e colegas de equipe puderam ver que teve para Campbell ter Maria com ele. "Ele é um afortunado por ter uma parceira [sua namorada] que o ajuda nesse sentido. Ele é um jogador que não é conhecido por suas conquistas atléticas, mas por sua habilidade de interagir com seus colegas", disse Michel. A família Campbell tem uma teoria de que não precisa enviar nada nem ninguém. "Todos com as mesmas condições são iguais", diz o pai.
No futebol, os técnicos que o dirigiram durante sua carreira o definem como um atacante rápido com uma grande capacidade de superar seus oponentes. Ele também tem ótimas habilidades com drible e é um bom finalizador. "Ele é tecnicamente bom e tem uma boa definição", avaliou Roberto Rios, assistente de Pepe Mel, técnico durante a estadia de Campbell no Real Betis.
Ricardo La Volpe na época ficou surpreso com a habilidade natural do atacante e até fez piada de que iria comprá-lo se estivesse no clube.
"A verdade, pessoal, eu digo hoje, é que ele é um jogador de dois a três milhões de euros, facilmente. Mas é preciso trabalhar com ele, ele é um cara com um futuro brilhante, se eu tivesse dinheiro, compraria", confessou La Volpe em 2011.
Arsène Wenger, por sua vez, estava ouvindo, e assinou com o jogador que na época tinha 19 anos e jogava para o o Deportivo Saprissa, o principal clube da Costa Rica. Em agosto de 2011, Campbell se mudou para o Arsenal, mas Londres não estava destinada a ser seu lar por muito tempo.
O fato de ele não ter conseguido se qualificar para um visto permanente de trabalho significou que ele foi imediatamente emprestado para o clube francês Lorient, onde marcou três gols na temporada de 2011-12. Na temporada seguinte, na Espanha com o Betis, Campbell pode trabalhar no que na época era considerada sua fraqueza: seu trabalho de defesa.
Ele se desenvolveu sob as ordens de Mel, que teve uma passagem breve e infeliz no West Bromwich Albion na temporada passada, um jogo onde ele se concentrou em pressionar os jogadores da defesa do time adversário e trabalhar duro para retomar a posse de bola. Isso o ajudou infinitamente e, como o Manchester United descobriu na Liga dos Campeões na temporada passada, não há dúvidas quanto à capacidade de finalização dele. A Inglaterra e Roy Hodgson esperam não ver mais provas disso em Belo Horizonte em 24 de junho.
Seu gol contra o United mostraram quão longe ele chegou. Ele ainda tem apenas 21 anos, e embora haja muitas especulações de que Wenger assine com um ou dois atacantes famosos neste verão, não fique muito surpreso se Campbell, da Costa Rica, abrir caminho para o reconhecimento nos Emirados a partir de agosto, quando mais algumas pessoas conhecerão seu nome.
Como joga a Costa Rica
A formação favorita de Jorge Luis Pinto é o 5-4-1, embora com frequência ela se pareça mais com 5-2-3. Ele sempre usa três zagueiros, e dois laterais que não são inteiramente livres para atacar o tempo todo, mas certamente espera-se que eles façam isso sempre que podem. No meio-campo ele usa um meia defensivo e um mais versátil perto deste, preferencialmente um bom jogador de passes longos. O que deixa de fora três atacantes exclusivos: dois pontas ofensivos e um centroavante.
O esquema tático muda dependendo do jogo. Quando os oponentes têm a bola e atacam, Pinto gosta de seus dois meias centrais recuem e façam a primeira linha de defesa, com cinco jogadores atrás deles. Quando Los Ticos vai para o ataque, a linha de cinco se torna três e quase se reverte para um 3-4-3, ou um 4-3-3 se apenas um lateral atacar, que é uma tática que Pinto às vezes emprega.
Com Bryan Oviedo do Everton descartado por causa de sua perna quebrada, Pinto precisa encontrar um lateral esquerdo substituto. A Costa Rica deve começar a Copa do Mundo contra o Uruguai em 14 de junho com o goleiro Keylor Navas (Levante), atrás dos zagueiros Michael Umaña (do clube costarriquenho Saprissa), Geancarlo González (Columbus Crew) e Roy Miller (New York Red Bulls). Cristian Gamboa do Rosenborg começará do lado direito com Waylon Francis, jovem zagueiro do Columbus Crew, como um possível substituto para Oviedo.
No meio-campo Yeltsin Tejeda (Saprissa) é o primeiro volante e Celso Borges (AIK, Suécia) será o mais avançado dos dois. Os pontas serão Bryan Ruiz do Fulham, que passou a segundo metade da última temporada emprestado para o PSV Eindhoven, e Christian Bolaños (Copenhaguen), e o jovem e habilidoso atacante do Arsenal Joel Campbell, que ficou emprestado para o Olympiakos na temporada passada, será o centroavante.
Para Pinto não há nada mais importante do que a disciplina tática. Além do talento ou da habilidade de fazer a diferença, para o técnico da Costa Rica é essencial que os jogadores façam o que ele pede. Aqueles que não fazem, ficarão de fora da equipe.
Talvez seja por isso que muitos o considerem um treinador rígido e técnico que tende a limitar muitos de seus jogadores. Mas a verdade da questão é que sua fórmula deu a ele muito sucesso na qualificação, e em um grupo tão desafiador com a Itália, Inglaterra e Uruguai, o pragmatismo é a melhor esperança para a Costa Rica progredir.
* Este artigo é parte da série "Olhar Estrangeiro", produzida por 32 veículos de mídia dos países que disputam a Copa do Mundo, como UOL, Guardian (Inglaterra) e France Football (França).
Tradutor: Eloise De Vylder