Olhar estrangeiro: estrela de Honduras por pouco não se chamou Jairzinho
Gerson Gómez
Do El Heraldo (Honduras)*
Óscar Boniek García nasceu em uma época em que os astros do futebol mundial brilhavam intensamente. Seu pai, Óscar García, um jogador de futebol do Olimpia em Honduras, foi hipnotizado pelos nomes daqueles que gravaram seus nomes nos livros de história do futebol. Quando seu filho nasceu, ele deixou um bilhete para sua esposa com dois nomes para escolher: Boniek, em homenagem ao jogador polonês Zbigniew Boniek, que ganhou fama na Copa do Mundo de 1982, ou Jairzinho, em homenagem à lenda brasileira que cativou o mundo do futebol na Copa do Mundo de 1970. Sua mãe acabou optando pelo primeiro.
García está ciente da magnitude de ter o mesmo nome que um dos maiores astros da história da Juventus da Itália. Boniek é um nome que deixou sua marca nele, o motivo para, ao longo de sua carreira, ter dedicado tempo para analisar os gols do polonês postados online. "É muito bonito ter o mesmo nome que alguém que foi tamanho astro na sua época, e com humildade eu trabalho com afinco para que algum dia possa estar no mesmo nível dele. Eu espero representar bem o nome na Copa do Mundo", ele diz.
Boniek não é o único jogador de futebol na família. Seu pai deu aos seus filhos o direito de serem jogadores proeminentes em Honduras. Há Yovany Ávila, um lateral-esquerdo apelidado de "o Mosquito", que jogou por clubes como Olimpia e Marathón. E há Samir García, um lateral-direito que jogou pelo Motagua. E também o jovem Óscar García, um zagueiro que acabou de concluir sua primeira temporada no futebol profissional.
"E eu. O melhor de todos eles. Hahaha!", brinca Boniek com um grande sorriso em seu rosto, um sorriso pelo qual é renomado. "Eu tive muita sorte em como as coisas aconteceram, graças a Deus e por ter vindo de uma família do futebol." Boniek é identificado pelo grande sorriso. As pessoas em Honduras tendem a dizer que ele é o jogador que nunca fica furioso, está sempre rindo e brincando, e tentando espalhar sua felicidade para as pessoas ao seu redor. É muito raro vê-lo irritado com as coisas, e ele até mesmo sempre tem paciência para atender todos os jornalistas que pedem para falar com ele.
Mas sua história nem sempre foi tão doce. Como a maioria das crianças em Honduras, ele enfrentou dificuldades na infância. Ele sacrificou muitas das liberdades da infância para jogar futebol. Ele aprendeu os fundamentos básicos do jogo nas ruas de seu bairro, onde as pessoas costumavam sair apenas para vê-lo jogar, graças ao seu talento. Boniek é um dos poucos jogadores negros no futebol hondurenho que nasceu na capital Tegucigalpa –com a maioria dos jogadores negros provenientes da costa norte– e ele sempre jogou nas divisões inferiores da cidade. Seus laços com o Olimpia surgiram na adolescência. Mas antes que pudesse ser um astro, ele teve que passar por provações.
Após esperar por sua chance na equipe principal por cinco anos, Boniek foi emprestado para um pequeno time do interior do país chamado Real Patepluma, onde se tornou astro. Mas após não receber nenhum de seus salários, ele entrou em greve de fome. O clube não conseguiu concluir a temporada, perdendo seu lugar na liga após falir. Boniek retornou ao Olimpia, onde voltou a esperar atrás dos astros do time, como Wilson Palacios (o ex-jogador do Wigan e Tottenham, atualmente no Stoke City).
Boniek começou a exercer um papel chave em uma equipe do Olimpia que se acostumou a erguer troféus de campeonato. Seu talento era bom demais para o Campeonato Hondurenho e a mídia começou a vendê-lo para o mundo. Ele fez um teste no Paris Saint-Germain, da França, onde impressionou, mas não pôde permanecer. Ele retornou ao Olimpia, onde novamente ajudou a equipe a erguer o troféu nacional. A imprensa local novamente o associou ao Wigan Athletic, onde Maynor Figueroa e Palacios jogavam.
Mas a transferência não se materializou. Tendo ajudado o Olimpia a conquistar outro campeonato, ele aproveitou a oportunidade para pedir ao presidente do clube, Rafael Ferrari, que o vendesse para um clube estrangeiro. A certa altura até mesmo sua mãe (Ana María Ramírez) apareceu no estádio com uma faixa, pedindo ao clube que deixasse seu filho jogar no exterior. Foi apenas em junho de 2012 que Boniek partiu para a Major League Soccer (MLS).
Hoje, Óscar Boniek García, um jogador do Houston Dynamo na MLS, é um dos astros de Honduras na Copa do Mundo. O meia-direita, atualmente com 31 anos, estará em sua segunda Copa. Em 2010, ele esteve com a seleção na África do Sul, mas não conseguiu jogar nenhum minuto pela equipe de Reinaldo Rueda. Desta vez será diferente, pois ele sente que é a chance dele e de Honduras de mostrar ao mundo do que são capazes.
Como joga a seleção de Honduras
Luis Fernando Suárez, um homem acostumado a jogar bom futebol e a utilizar diferentes esquemas táticos, chegou a Honduras para descobrir que teria que adaptar seus ideais. Na "a H" não há um David Beckham ou o tipo de jogador capaz de carregar o time nas costas. Ele encontrou um grupo de jogadores jovens e explosivos, dinâmicos e ávidos por glória.
Assim, o técnico colombiano testou mais de 98 jogadores hondurenhos até encontrar aqueles chamados para a seleção para a Copa do Mundo. Suárez estabeleceu várias coisas, principalmente que a equipe jogará com quatro homens na defesa, e sem um camisa 10, um armador, mas sim com dois pontas que serão apoiados por dos meias. O mapa tático terá a aparência de um 4-4-2; apesar de Suárez também ter tentado jogar com um falso atacante em uma formação 4-5-1 (ou 4-6-0).
Depois da Copa do Mundo na África do Sul em 2010, quando Honduras pôde contar com astros como Amado Guevara, Danilo Turcios e até mesmo David Suazo ou Carlos Pavón – o maior artilheiro da seleção nacional– Suárez teve que trabalhar duro para encontrar uma equipe que pudesse levar Honduras ao Brasil em 2014.
Foi apenas depois do "milagre de Londres", onde a equipe jovem de Suárez nos Jogos Olímpicos de 2012 só foi parada pelo Brasil e seu astro Neymar nas quartas de final, é que ele encontrou algumas respostas.
Muitos jogadores da equipe olímpica foram promovidos para a seleção nacional e se desenvolveram em uma unidade coesa que surpreende a todos, apesar de não ser a equipe mais espetacular do planeta, mas uma equipe que joga de forma dinâmica e que não tem medo de empregar jogadas táticas complexas.
Honduras tende a jogar com dois volantes, frequentemente Wilson Palacios e Luis Garrido, e dois pontas, como Boniek García e Andy Nájar, que podem trocar de lado durante o jogo. O ataque é liderado por Carlo Costly e Jerry Bengtson indiscutivelmente.
Na defesa, Honduras é uma equipe que não muda muito. Dois veteranos são os líderes: Víctor Bernárdez (da equipe San Jose Earthquakes da MLS) e Maynor Figueroa, do Hull City. Apesar de, na Inglaterra, Figueroa ser conhecido apenas como lateral-esquerdo, primeiro pelo Wigan a agora pelo Hull, em Honduras ele joga no meio. Ambos os laterais jogam na Escócia. Na esquerda temos Emilio "Izzy" Izaguirre, o lateral-esquerdo do Celtic e, na direita, outra opção improvisada; Arnold "Arnie" Peralta, que joga como volante pelo Rangers, mas como lateral-direito por Honduras.
Peralta foi um dos jogadores que voltaram de Londres 2012 jogando em posições improvisadas e que manteve seu lugar na "a H" como lateral-direito, apesar da maioria dos gols tomados por Honduras nas eliminatórias ter saído por aquele lado.
No gol, Noel Valladares, com 121 convocações é o camisa 1 incontestado e o favorito dos torcedores. Ele oferece um bom equilíbrio à equipe e, na África do Sul em 2010, fez uma série de defesas memoráveis contra o Chile. Com essa escalação e a disciplina tática de Suárez, espere que Honduras tenha um eixo central sólido e seja explosiva pelas laterais.
* Este artigo é parte da série "Olhar Estrangeiro", produzida por 32 veículos de mídia dos países que disputam a Copa do Mundo, como UOL, Guardian (Inglaterra) e France Football (França).
Tradutor: George El Khouri Andolfato