Olhar estrangeiro: reserva do Bayern pode virar o maior jogador da Suíça

Jill Zimmerli

Do Blick (Suíça)*

A Suíça pode apontar para muitos jogadores bem-sucedidos ao longo dos anos no Campeonato Alemão: Stéphane Chapuisat, Alex Frei ou Ciriaco Sforza, para citar apenas alguns poucos. Mas um ofusca todos eles: Xherdan Shaqiri. Aos 22 anos de idade, ele acabou de conquistar seu 13º título. Apenas em 2013, ele conquistou cinco troféus com o Bayern de Munique (Campeonato Alemão, Copa da Alemanha, Liga dos Campeões, Supercopa da UEFA, Mundial de Clubes da FIFA).

"Xherdan está sempre calmo quando em posse da bola. Não importa contra quem esteja jogando. Ele nunca é ansioso e quase sempre exibe seu potencial. Além disso, ele tem uma ótima mentalidade e se adapta rapidamente", diz o técnico da Suíça, Ottmar Hitzfeld.  Shaqiri foi convocado pela primeira vez para a seleção por Hitzfeld e fez sua estreia em março de 2010, pouco antes de ser a inclusão surpresa na seleção para a Copa do Mundo da África do Sul, com apenas 18 anos. Suas qualidades eram visíveis desde o início.

Um ano após sua transferência para o Bayern em 2012, ele disse: "Eu quero disputar um lugar entre os titulares". Não era uma tarefa fácil, considerando que entre seus oponentes no meio-campo estão Arjen Robben, Franck Ribéry, Thomas Müller e Toni Kroos. Mas Hitzfeld tem confiança de que terá sucesso: "Um jogador precisa sempre desejar ser a primeira opção do técnico. Mas às vezes é mais difícil atingir essa meta. Você precisa agarrar a oportunidade quando ela surge. E Shaqiri tem essa qualidade".

Um exemplo ocorreu durante as eliminatórias para a Eurocopa 2012. A Suíça perdeu seu primeiro jogo para a Inglaterra por 3 a 1. O único consolo é um garoto de 18 anos com o número 10 em sua camisa. Com sua apresentação ele conquistou o público. Para arrematar sua apresentação, ele marcou um gol brilhante de longa distância. Apesar da derrota, um novo astro tinha nascido.

Shaqiri nasceu em Gjilan, no sudeste de Kosovo. De etnia albanesa, sua família emigrou para a Suíça quando ele era um bebê e ele cresceu em uma cidadezinha chamada Augst, no cantão da Basileia, a poucos quilômetros da fronteira tanto da Alemanha quanto da França, onde ele vivia em um apartamento com seu pai, Isen, sua mãe, Fatime, seus dois irmãos, Arianit e Erdin, e sua irmã, Medina.

Apesar de Shaqiri estar lentamente se transformando no jogador mais famoso que a Suíça já viu, ele sabe onde estão suas raízes. Seu melhor amigo é seu irmão e empresário, Erdin. "Ele é sempre a pessoa que procuro primeiro. Eu confio nele cegamente. Ele sabe tudo a meu respeito. Eu sei tudo sobre ele. Nós temos o mesmo sangue", diz Xherdan.

Quando eram meninos, eles passavam muito tempo juntos. Não apenas à mesa de jantar. Um lugar frequentemente visitado era o pátio da escola deles em Augst. Xherdan: "Meus irmãos mais velhos sempre me levavam junto. Como eu sempre era o mais novo, eu tinha que lutar por tudo. Eu aprendi essa lição naquela época".

Todo jogador de futebol começa por baixo. Shaqiri deu seus primeiros passos em seu clube local, o SV Augst. Antes de se transferir para o Bayern de Munique, Shaqiri voltou até lá. Ele foi tomado por lembranças. "Eu marquei muitos gols. Mas um dia de que me lembro claramente foi quando o Basel me procurou." Shaqiri tinha oito anos quando o Basel bateu à sua porta. A decisão de trocar o SV Augst por um clube muito maior foi inicialmente demais para o pequeno Shaqiri. "Eu chorei e não queria ir. Mas no final, meu pai me convenceu. Depois disso, ele ia de ônibus comigo todo dia até o centro de treinamento."

Quase 15 anos depois e alguns poucos milhões a mais em sua conta bancária, ele ainda não atingiu seus anos dourados. O próximo ponto alto para o jovem suíço é a Copa do Mundo no Brasil. Desde sua estreia em 2010, o meia assumiu um papel de liderança na seleção. Hitzfeld não vai querer começar um jogo sem ele.

Durante a fase de grupos, a Suíça enfrentará Equador, Honduras e França. Na América do Sul, Shaqiri verá alguns rostos familiares. Um deles é o do atacante francês Ribéry. Seu companheiro de equipe no Bayern só tem elogios para ele: "Com apenas 22 anos, ele é muito controlado em suas ações, mesmo em jogos importantes. Eu já o tinha visto quando ele jogava pelo Basel. Sua transferência para o Bayern foi uma boa escolha e ele sempre joga bem quando está em campo".

Mas na Copa do Mundo e no jogo contra a Suíça em 20 de junho, a rivalidade estará de volta. Shaqiri sabe do que a Suíça é capaz –mesmo contra uma equipe como a França: "Nós temos uma seleção jovem faminta por sucesso. Nossa meta é passar da fase de grupos. Nós gostamos de uma surpresa. Eu estou convencido que nos sairemos bem".

Em pouco tempo, o homenzinho de Augst se transformou em um jogador bem-sucedido. Apesar da fama, dinheiro e carros, Shaqiri às vezes parece o mesmo menino de 8 anos que deixou seu primeiro clube anos atrás. Bruno Resentera, presidente do SV Augst, diz sobre seu jogador mais famosos: "Xherdan ainda volta para nos visitar. Eu admiro seu caráter, porque ele não esquece de onde veio". E seu irmão Erdin acrescenta: "Ele é a pessoa mais pé no chão que conheço. Ele sempre me surpreende. Se eu estivesse na posição dele, não sei se lidaria com isso tão bem".

Shaqiri já é o jogador de futebol mais bem-sucedido da história da Suíça com apenas 22 anos. Se ele conseguir brilhar no palco mundial neste mês, a estrela dele subirá ainda mais alto.

Como joga a Suíça

Semanas antes de Ottmar Hitzfeld anunciar seus 23 jogadores para a Copa do Mundo, vários de seus principais jogadores enfrentavam lesões. Diego Benaglio, Xherdan Shaqiri, Fabian Schär, Philippe Senderos e Tranquillo Barnetta já tinham jogado todos seus jogos ou restavam poucos jogos antes do final da temporada.

Foi um momento preocupante para Hitzfeld, que é um técnico que tem um plano e gosta muito de se ater a ele. Durante as eliminatórias da Copa do Mundo,  ele jogou no esquema 4-2-3-1. Apenas uma vez ele mudou para um 4-4-2. Após o empate sem gols contra Chipre, ele precisava de mais força ofensiva. Josip Drmic e Mario Gavranovic enfrentavam dificuldades. Foi Haris Seferovic, com um gol tardio, que garantiu os três pontos.

A escalação inicial para a Copa do Mundo está bem clara, se não houver nenhuma lesão inesperada. O goleiro incontestável é Diego Benaglio. Na defesa, o lateral-esquerdo Ricardo Rodriguez é indiscutível. Ele não esteve fora de nenhuma partida por seu clube na Bundesliga, o Wolfsburg, durante a última temporada. Do outro lado, Stephan Lichsteiner (Juventus) também provavelmente garantiu seu lugar entre os titulares. O problema está nos dois zagueiros. Fabian Schar (Basel) escorrega demais e seu colega Steve von Bergen (Berne) teve uma onda de má sorte nos seus últimos jogos.

Na escalação oficial estará o capitão Gokhan Inlerwho, tendo quase certamente ao seu lado seu companheiro de equipe no Napoli, Valon Behrami, como volante. Passando às pontas, Hitzfeld não terá muito em que pensar. Xherdan Shaqiri, do Bayern de Munique, estará recuperado de uma lesão e provou ser vital para a equipe no passado. Shaqiri não é apenas uma força no ataque –sob o olhar atento de Hitzfeld, ele também cumprirá seus deveres defensivos. O mesmo se aplica a Valentin Stocker. O jogador de 25 anos estava em excelente forma no final da temporada.

O único dilema para Hitzfeld está em seu camisa 10. Granit Xhaka (Borussia Monchengladbach) jogou nove dos jogos das eliminatórias. Mas na Bundesliga, ele ficou apenas no banco de reservas. Uma alternativa seria Admir Mehmedi, que marcou 12 gols pelo seu clube alemão, o Freiburg.

Não há dúvida de que Josip Drmic será a primeira opção de Hitzfeld entre os atacantes. Com 17 gols em sua primeira temporada na  Bundesliga pelo Nuremberg, e ao ter acertado em maio sua transferência para o Bayer Leverkusen, Drmic é sem dúvida o homem do momento, tendo marcado seus primeiros dois gols no empate por 2 a 2 com a Croácia, em março.

Hitzfeld não tem muitos problemas, mas isso mudará em Brasília contra o Equador, no primeiro jogo em 15 de junho, quando a Suíça precisa vencer. Os suíços conhecem muito bem a ameaça de seleções supostamente menos conhecidas. Na Copa do Mundo de 2010, a Suíça enfrentou Honduras na fase de grupos, após ter derrotado a Espanha por 1 a 0, mas perdendo para 1 a 0 para o Chile. Mas ela só conseguiu empatar no último jogo contra Honduras, 0 a 0, e o torneio terminou ali. Hitzfeld e toda Suíça esperam passar à fase de mata-mata desta vez.

Jogo Rápido - Suíça
  • Quem será o jogador que surpreenderá a todos na Copa?
    Apesar de jogar apenas um total de 88 minutos nas eliminatórias, um fardo imenso está sobre os ombros de Drmic, 21 anos. Fazer gols foi o grande problema da Suíça nas eliminatórias (Haris Seferovic só marcou uma vez; Eren Derdiyok não marcou nenhum), assim, cabe a ele a tarefa de marcar. Ele marcou 17 vezes pelo rebaixado Nuremberg na sua primeira temporada na Bundesliga.
  • Qual é o jogador com maior probabilidade de decepcionar?
    Granit Xhaka está sob pressão. Perto do fim da temporada, ele mal jogou pelo Borussia Monchengladbach. No início da temporada, ele jogava regularmente, tinha seu lugar no meio-campo garantido e ajudou a Suíça a se classificar. Mas de lá para cá, seu técnico, Lucien Favre, às vezes o deixou totalmente fora do time. Após duas suspensões e uma pausa por gripe, ele teve dificuldade para voltar.
  • Qual é a meta realista de sua seleção na Copa do Mundo e por quê?
    A Suíça precisa passar da fase de grupos, menos que isso seria uma decepção. Em 2010, a Suíça venceu a Espanha em seu 1º jogo. Desta vez a estreia, contra o Equador, é crucial. A França é imprevisível, mas se estiver no topo de sua forma, a Suíça certamente sofrerá. Nós só empatamos contra Honduras na Copa do Mundo de 2010, e o preço foi caro. Vencer a Copa do Mundo? Provavelmente não...

Curiosidades - Suíça
  • Marc Eich/Getty Images
    Diego Benaglio
    O camisa 1 da Suíça, Diego Benaglio, tem responsabilidade não apenas dentro de campo. Ele também se dedica a ajudar os jovens fora dele. Com 30 anos e pai de dois, ele é embaixador da fundação "Pro Juventute" e faz campanha contra ciberbullying. "As mesmas regras do campo de futebol se aplicam na Internet", diz Benaglio. "Só conta o fair play." Foto: Marc Eich/Getty Images
  • Best Photo Agency & C / Pier Gia
    Ricardo Rodriguez
    Se existe um gene do futebol, a família de Ricardo Rodriguez com certeza o tem. Desde 2012, o defensor joga pelo Wolfsburg e todos os seus irmãos seguiram seus passos como jogadores profissionais. Seu irmão mais velho, Roberto, joga como meia pelo St. Gallen. Seu irmão mais novo, Francisco, joga na categoria de base do FC Zurich, a mesma equipe onde a carreira de Ricardo decolou. Foto: Best Photo Agency & C / Pier Gia
  • Harold Cunningham/Getty Images
    Admir Mehmedi
    Em 2012, Mehmedi foi para o clube ucraniano Dínamo de Kiev. Em seu novo lar, ele se sentia sozinho e decidiu comprar um cachorro. Um pug chamado Tim, para ser preciso. Ele levava seu querido cão para passear quatro vezes por dia e finalmente tinha um amigo. Mas quando se transferiu para o clube alemão Freiburg, Mehmedi teve que deixar seu cachorro para trás, na Ucrânia. Foto: Harold Cunningham/Getty Images
  • Chung Sung-Jun/Getty Images
    Fabian Schar
    Antes tarde do que nunca. Em 2012, Fabian Schar não apenas jogava pelo FC Wil na segunda divisão, como também trabalhava como bancário. Pouco depois, Schar se transferiu para o Basel, foi convocado para a seleção e fez sua estreia sob o comando de Ottmar Hitzfeld em agosto de 2013. Desde então, o jogador de 22 anos teve uma rápida ascensão e sua posição no clube e na seleção são incontestáveis. Foto: Chung Sung-Jun/Getty Images
  • Best Photo Agency & C / Pier Gia
    Josip Drmic
    Em 2009, a seleção sub-17 conquistou o 1º título mundial para a Suíça. Em casa, Drmic assistiu à comemoração na Nigéria. Semanas antes, ele não passou em seu teste para obtenção da cidadania suíça. Sem um passaporte suíço, não havia Mundial para o jovem atacante. No final, Drmic passou no teste e se tornou cidadão suíço. Desde as eliminatórias, o jovem de 21 anos é a esperança de gols na Copa Foto: Best Photo Agency & C / Pier Gia

* Este artigo é parte da série "Olhar Estrangeiro", produzida por 32 veículos de mídia dos países que disputam a Copa do Mundo, como UOL, Guardian (Inglaterra) e France Football (França).

Tradutor: George El Khouri Andolfato

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