Olhar estrangeiro: defensor italiano já escreveu um livro sobre o seu ídolo

Tommaso Pellizzari e Alessandro Bocci

Do Corriere della Sera (Itália)*

Este artigo é parte da série "Olhar Estrangeiro", produzida por 32 veículos de mídia dos países que disputam a Copa do Mundo, como UOL, Guardian (Inglaterra) e France Football (França).

Giorgio Chiellini não é um jogador maldoso, como normalmente é representado. Ao final da partida entre Roma e Juventus, a penúltima da temporada com o título matematicamente decidido em favor da Juventus, Chiellini apareceu na televisão para se desculpar pela cotovelada no jogador Miralem Pjanic, do time de Roma. Ele acrescentou, contudo, que para ele a competitividade é necessária para manter a adrenalina elevada durante as partidas. A evidência televisiva significava que Chiellini receberia uma suspensão de três jogos, mas pode-se falar qualquer coisa sobre Chiellini, menos que ele seja um jogador maldoso.

Os jornalistas que acompanham a seleção nacional sabem que isso é verdade, porque o defensor da Juventus sempre esteve disponível e sempre foi muito educado, mais do que qualquer um dos seus companheiros de seleção. Independentemente do resultado da partida, ele sempre se expressa bem, o que não é comum entre os jogadores de futebol.

Chiellini nasceu em Pisa no dia 14 de agosto de 1984, seu pai era um ortopedista e sua mãe uma administradora de empresas que transmitiu a ele a paixão pelo Milan. A família Chiellini vivia em Livorno, e durante aquele período a pequena cidade possuía dois times de basquete na primeira divisão. Chiellini era mais apaixonado pelo basquete do que pelo futebol, mas com apenas 1,87 m, não era considerado alto o suficiente para o basquete, mesmo assim ele continuou torcendo pelo Los Angeles Lakers e por Kobe Bryant.

Livorno é a cidade de Armando Picchi (o famoso líbero da Inter de Milão de Helenio Herrera), que morreu quando tinha 35 anos de idade, um ano mais jovem do que Gaetano Scirea, o símbolo da seleção e da Juventus que morreu em um acidente de automóvel em 1989, na Polônia. O estádio do Livorno recebeu o seu nome em homenagem à Picchi, onde Chiellini jogou por quatro temporadas, a última em 2003-04, quando foi dirigido pelo técnico Walter Mazzarri, que elevou o time da Série B para a Série A e que descreveu Chiellini como "uma força da natureza, um jogador universal que todo treinador gostaria de ter em seu time. Ele é de outro planeta, capaz de marcar três jogadores sozinho".

Foi naquele ano que ele atraiu a atenção da Juventus e "Giorgione" (Grande George), como todos o chamam, foi jogar no time de seu ídolo Scirea, sobre quem ele escreveu um livro com a ajuda de um jornalista –"C'e um angelo bianconero. Il mio maestro se chiama Scirea" (Existe um anjo branco e preto. Meu mestre se chama Scirea). Durante os anos em que Chiellini passou se desenvolvendo nas categorias de base do Livorno, ele terminou os seus estudos secundários (quando todos os dias ele almoçava na casa de sua avó, que ficava a cinco minutos de distância do estádio) e depois se formou em economia, se especializando em administração de empresas.

No campo de futebol ele é capaz de quase tudo. Ele é canhoto e, sob a direção de Mazzarri no Livorno, aprendeu a jogar em uma defesa com três jogadores, algo que ele repetiu na Juventus sob a direção de Antonio Conte. Com antigos técnicos e com a seleção, ele aprendeu a jogar em uma defesa de quatro jogadores, tanto como lateral-esquerdo quanto como zagueiro. Chiellini bate e apanha, até agora ele já sofreu quatro fraturas em seu nariz e sempre diz, "Eu espero que meus filhos herdem o nariz de Caroline", fazendo referência à sua noiva, com quem irá se casar em julho, depois da Copa do Mundo.

Sua estreia na seleção do seu país foi há dez anos, em novembro de 2004, quando Marcelo Lippi era o técnico, uma pessoa sobre quem Chiellini certa vez declarou que "foi muito importante em minha carreira", assim como Conte, Mazzarri e Osvaldo Jaconi, sobre o qual disse, "Lançou minha carreira na Série C no dia 14 de Janeiro de 2001, contra o Alessandria".

Quando ele vestiu pela primeira vez a camisa azul da Itália, um ano e meio antes da Copa do Mundo de 2006, Chiellini era muito jovem para fazer parte da seleção que iria se tornar campeã do mundo. Ele era uma presença constante na seleção sub-21 treinada por Claudio Gentile (que havia sido companheiro de Scirea na seleção da Itália e na Juventus). Apesar de ele ser o lateral-esquerdo da seleção, ele só garantiu seu lugar quando Fabio Canavarro entrou em declínio, o substituindo na seleção treinada por Roberto Donadoni na Eurocopa de 2008.

Ele nunca mais ficou de fora das convocações da seleção italiana depois disso, havendo disputado 67 partidas e marcado quatro gols pela Azurra. Ele estava presente, juntamente com Lippi (e Canavarro), na desastrosa campanha da Copa do Mundo da África do Sul (quando a Itália não conseguiu a classificação em seu grupo) e também estava presente na Eurocopa 2012, quando a Itália perdeu o título para a Espanha.

Durante a última partida da temporada de 2012, com o título já garantido, contra o Atalanta, ele sentiu a sua perna endurecer e em seguida uma grande dor. Era um problema muscular e, naquele momento, aconteceu algo que ninguém poderia esperar, Chiellini começou a chorar. Naquela noite ele recebeu um telefonema de Prandelli que dizia: "Calma, Giorgio. Eu vou esperar por você, você nos acompanhará até a Eurocopa".

Ele ficou de férias uma semana a menos para ficar treinando com a seleção para se recuperar, e conseguiu voltar para o time (como nesse ano, apesar da suspensão de três partidas, que também poderia ter sido moralmente imposta por Prandelli). Mas como ele se desculpou imediatamente, porque a partida não era tão importante e porque Prandelli sempre disse que sua opinião era mais importante do que qualquer veredicto, Chiellini estará na Copa do Mundo. Como todos sabem, é um torneio no qual o realismo italiano é expressado mais do que nunca.

Como  a Itália joga

A Itália é mais do que um time de jogadores individuais, é uma coletividade. Essa foi a estratégia que Cesare Prandelli utilizou na Eurocopa na Polônia e Ucrânia, quatro anos atrás, e irá repetir no Brasil seguindo o slogan: nós não somos os mais fortes, mas podemos vencer os mais fortes. Como? Transformando a seleção nacional em um time.

Não haverá apenas uma Itália, a Azurra será capaz de modificar suas táticas durante as partidas. O esquema padrão será o experimentado 4-3-1-2, que foi utilizado com sucesso na Eurocopa, com um pivô central para que os jogadores mudem de posição para enganar os marcadores. Andrea Pirlo será o regente e, se não tivesse quebrado a perna, Riccardo Montolivo jogaria atrás da linha dos atacantes, com a possibilidade da mudança de posicionamento entre eles. Nas outras áreas do campo, Prandelli poderá testar Gabriel Paletta como defensor central (ao lado de Andrea Barzagli e Leonardo Bonucci) e Giorgio Chiellini poderá ser escalado na lateral-esquerda.

No ataque tudo gira em torno de Mario Balotelli, que é a primeira opção, mas não a única. Também existe a possibilidade da mudança para o esquema 4-3-3 durante uma partida, usando um falso camisa 9, com Antonio Cassano jogando na mesma posição que joga no Parma, acompanhado por Antonio Cantreva e Alessio Cerci.

Rômulo será um importante e versátil jogador, já que pode desempenhar três funções –zagueiro, volante ou ponta. O jogador nascido no Brasil e naturalizado italiano será usado como Emanuele Giaccherini foi aproveitado na Eurocopa. Também existe a possibilidade de um esquema 3-5-2, que o treinador usou com sucesso na Polônia, na primeira partida contra a Espanha, e também no ano passado na Copa das Confederações, contra o Brasil.

Nesse caso Daniele De Rossi, em vez de Bonucci, irá liderar a unidade da defesa e a filosofia será clara: sempre jogar partindo de trás. A Itália do "catenaccio" já é uma antiga lembrança. Prandelli quer uma seleção que jogue com uma linha avançada e seja ofensiva, para dominar as partidas o melhor que puder –simplificando, uma Itália corajosa que possua a habilidade de se modificar. Qualquer adversário que enfrente a Azurra terá que estudar bastante para compreender suas táticas, porque não será fácil saber o que ela irá fazer.

Jogo Rápido - Itália
  • Quem será o jogador que surpreenderá a todos na Copa?
    Essa é fácil, Mario Balotelli. Se ele repetir suas atuações na Eurocopa 2012, a Itália contará com uma arma excelente.
  • Qual é o jogador com maior probabilidade de decepcionar?
    Talvez toda a defesa, que está velha e desgastada. Por muitos anos foi muito forte, agora está frágil.
  • Qual é a meta realista de sua seleção na Copa do Mundo e por quê?
    No mínimo chegar até as quartas de final, as semifinais seriam um sucesso.

Curiosidades - Itália
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    Leonardo Bonucci
    Você pode dizer o que quiser sobre Bonucci, menos que ele não é capaz de rir de si mesmo. Depois do pênalti perdido na Copa das Confederações, surgiram várias piadas na Internet (por exemplo, a bola pousando na lua) e ainda restam alguns sinais deste acontecimento em sua conta no Twitter: uma fotomontagem em que o defensor coloca a bola na marca do pênalti, uma bola de rúgbi, não de futebol. Foto: Best Photo Agency & C / Pier Gia
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    Gabriel Paletta
    Existe uma grande probabilidade de que Gabriel Paletta, 28, defensor do Parma, argentino de nascimento que possui avós da Calábria, estabeleça um recorde no Brasil: Ele não possui tatuagens. ?Eu detesto?, diz ele, e também não usa brincos. ?Eu sou uma pessoa tipicamente simples?. Foto: Best Photo Agency & C / Pier Gia
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    Gianluigi Buffon
    Ao fim de uma temporada em que ele voltou a jogar em grande nível, a única coisa que Buffon não conseguiu mudar foi o assédio dos paparazzi. Uma revista de fofocas surpreendeu o goleiro ao mostrar um encontro secreto entre ele e uma apresentadora de TV. Acreditava-se que os dois, ambos casados, estivessem tendo uma relação. Depois se acreditou que haviam terminado e que ainda estavam se falando. Foto: Best Photo Agency & C / Pier Gia

Tradutor: George El Khouri Andolfato

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