Brasil perdeu da Alemanha com Mano e Felipão. Veja como eles reagiram

Do UOL, em São Paulo

Há um intervalo de 1.063 dias entre os dois últimos confrontos Brasil x Alemanha. Esse período mudou a realidade dos países – e não apenas em campo. Também há coincidências relevantes entre o amistoso de 10 de agosto de 2011 e a semifinal de Copa do Mundo de 8 de julho de 2014. Os europeus atropelaram em ambos, e as explicações similares dos treinadores mostram o quanto a seleção canarinho ficou estacionada nos últimos anos.

O amistoso de 2011 foi o 13º jogo de Mano Menezes como técnico da seleção brasileira. Contratado com a missão de rejuvenescer o time depois da queda nas quartas de final da Copa de 2010, o treinador começou com uma vitória convincente sobre os Estados Unidos (2 a 0), mas não conseguiu manter o nível dos resultados.

A seleção brasileira estava pressionada por péssima campanha na Copa América (três empates e uma vitória em quatro partidas e queda nas oitavas de final, em disputa de pênaltis contra o Paraguai). O amistoso contra a Alemanha foi o primeiro depois disso, e Mano mudou bastante o grupo. Jogadores como Adriano (lateral), Elano, Jadson, Jefferson, Luisão e Sandro foram preteridos, e Dedé, Fernandinho, Renato Augusto, Ralf, Jonas e Luiz Gustavo ganharam chance no grupo.

Na Copa América, Mano havia montado a seleção num 4-2-3-1, esquema usado por ele desde o início do trabalho. No entanto, Paulo Henrique Ganso e Jadson, os dois meias que o técnico levou ao torneio continental, não funcionaram. O meio-campo contra a Alemanha teve três volantes: Ralf na frente dos zagueiros, Fernandinho pela direita e Ramires pela esquerda – Luiz Gustavo, que estreou na seleção nesse jogo, substituiu André Santos no segundo tempo e atuou como lateral esquerdo.

As explicações de Mano em 2011

A despeito dos três volantes, o Brasil não conseguiu parar a Alemanha. O time europeu teve 58% de posse de bola e várias chances desperdiçadas. No fim, a vitória germânica por 3 a 2 não foi fiel à diferença entre as equipes.

"Foi a primeira seleção que enfrentamos e que foi superior à seleção brasileira. Foi melhor durante os 90 minutos, e por isso venceu o jogo. Eles estão num momento melhor e servem como parâmetro. É por isso que estamos fazendo amistosos com esse grau de dificuldade nesse estágio", explicou Mano Menezes na época. "Você consegue notar um padrão, e padrão é para ser mantido quando é positivo ou esquecido quando é negativo. Acho que temos que alterar algumas coisas", completou.

Na época, as explicações de Mano Menezes para o revés mostraram a distância que havia entre Brasil e Alemanha. O técnico admitiu que a equipe sul-americana estava em um estágio inferior.

"Visivelmente, tivemos uma disposição tática que tentou num primeiro momento neutralizar uma equipe que entendíamos estar superior. Mesmo assim, tivemos um rival com uma parte coletiva bem desenvolvida e muitas vezes repetida. Isso dificultou. Quando você tem o coletivo bem desenvolvido, aí surgem as individualidades. Ainda não temos condições de produzir isso", avaliou o treinador da seleção brasileira.

Uma das explicações de Mano para a derrota foi a dificuldade do Brasil para criar jogadas: "Estamos fazendo muito espaço para organizar lances ofensivos. Não conseguimos ainda fazer mecanicamente, com conhecimento, como a Alemanha. Isso ficou evidente".

Depois daquele amistoso, a seleção brasileira mudou em vários pontos. A começar pelo próprio Mano Menezes, substituído por Luiz Felipe Scolari no fim de 2012. Oito jogadores que participaram daquele revés foram convocados para a Copa deste ano (Júlio César, Daniel Alves, Thiago Silva, Luiz Gustavo, Fernandinho, Ramires, Fred e Neymar), mas muitos mudaram de status – Luiz Gustavo virou peça fundamental da equipe e Fred voltou a ser titular, por exemplo. Mas a distância para a Alemanha seguiu intacta. As explicações para isso também.

As explicações de Felipão em 2014

Em julho de 2014, Brasil e Alemanha voltaram a se encontrar. O time sul-americano tinha vencido a Copa das Confederações, mas fez campanha claudicante no Mundial de 2014 até chegar às semifinais. E isso ficou evidente no Mineirão, onde os germânicos venceram por 7 a 1 – pior derrota da história da seleção canarinho.

A principal diferença entre o amistoso e o jogo de Copa foi a escolha feita pelo técnico. Luiz Felipe Scolari não pôde escalar Neymar, que havia fraturado uma vértebra. Uma das opções era montar um time com três volantes, assim como Mano havia feito em 2011. Em vez disso, ele preferiu inserir Bernard no time e adotar postura menos contida.

"A [marcação por] pressão já tinha dado certo antes, mas não funcionou naquele momento. Tentávamos falar para organizar, para ficar um pouco, mas não tinha muito o que fazer naquela oportunidade", lamentou o atual treinador.

Scolari chegou a enaltecer o desempenho do Brasil nos primeiros minutos do jogo contra a Alemanha, mas reclamou, assim como Mano havia feito, do pequeno número de oportunidades que o ataque criou. O atual treinador também reconheceu que o rival está em um estágio superior.

"Não esqueçam vocês que o Joachim [Löw, técnico da Alemanha], que vem desde 2006, vem trabalhando bem e chegando a semifinais, mas nunca venceu. Agora chegou a sua primeira final. É um trabalho de sequência. Eles vêm fazendo isso na Alemanha, seguindo e melhorando", declarou Scolari em entrevista coletiva.

O exemplo alemão

O histórico recente da Alemanha é uma boa medida do quanto o Brasil ficou estacionado. Löw assumiu a seleção depois da Copa de 2006 e chegou a duas semifinais (Copa de 2010 e Eurocopa de 2012). Além disso, foi finalista da Eurocopa em 2008.

O amistoso contra o Brasil está no meio desse caminho. Löw usou em 2011 dez jogadores que participaram da semifinal da Copa deste ano (Neuer, Hummels, Boateng, Lahm, Schweinsteiger, Schürrle, Götze, Podolski, Kroos e Müller). Alguns ainda eram novatos – Götze, por exemplo, tinha apenas 20 anos. Contudo, a principal evolução da equipe nesses 1.063 dias não foi individual. Líder de posse de bola e de troca de passes no Mundial, a Alemanha tem mostrado neste ano a maturação de algo que já havia sido iniciado no último amistoso contra a seleção. Um dos aspectos que devem ser considerados nos 7 a 1 é a diferença entre as curvas de evolução dos dois rivais.

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