Brasil mudou tudo após últimas frustrações em Copa. Há um plano pós-2014?
Do UOL, em São Paulo
Em níveis diferentes, o Brasil acumulou três campanhas frustrantes em Copas do Mundo desde o título conquistado em 2002. Nas duas primeiras, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) reagiu com choques na condução da seleção – mudanças de técnicos, jogadores e processos, por exemplo. Os seguidos redirecionamentos criaram uma interrogação ainda maior depois da derrota por 7 a 1 para a Alemanha em 2014. Afinal, que caminho o Brasil vai tomar agora?
Qualquer discussão sobre o futuro da seleção ainda depende de um primeiro passo. A comissão técnica liderada por Luiz Felipe Scolari encerrará no sábado o trabalho à frente da equipe nacional. A criação do Brasil que irá até a Copa de 2018 passa fundamentalmente pela escolha de um substituto.
Uma vez definido, o novo treinador da seleção brasileira terá de escolher um caminho. Nos dois últimos ciclos, as rotas pós-Copa foram balizadas por elementos que a CBF reprovou no time que esteve no Mundial. A cúpula da entidade ainda não se posicionou depois de o Brasil ter sido eliminado nas semifinais de 2014.
A frustração de 2006 teve relação direta com comportamento. O Brasil chegou badalado à Copa, impulsionado pelo "quadrado mágico" formado por Adriano, Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo. A preparação em Weggis (Suíça) foi marcada pelo clima de oba-oba com torcedores e patrocinadores. Jogadores chegaram ao Mundial com problemas de peso e de condição física, e a seleção foi eliminada pela França nas quartas de final.
Com Dunga, seleção ganha disciplina
Depois da Copa, a CBF resolveu mudar tudo. O experiente Carlos Alberto Parreira, treinador do time de 2006, foi substituído por Dunga, que tinha sido capitão do tetracampeonato mundial de 1994 e jamais havia trabalhado como técnico.
Dunga foi escolhido por causa do perfil. Foi escolhido por simbolizar comprometimento com a seleção – atributo marcante na carreira dele como atleta e ausente na seleção que disputou a Copa de 2006, segundo a CBF.
Logo na primeira convocação, Dunga abriu mão de vários jogadores que haviam sido importantes para a seleção no ciclo anterior. Não apenas os integrantes do "quadrado mágico" foram alijados da lista, mas também nomes como Cafu, Roberto Carlos e Dida. Foram apenas oito remanescentes do Mundial.
A primeira lista de Dunga abriu espaço para o lateral esquerdo Marcelo, titular em 2014, mas também teve nomes que não se firmaram na seleção, como Dudu Cearense, Jônatas, Wagner, Morais e Daniel Carvalho.
A seleção de Dunga começou com um empate por 1 a 1 com a Noruega, mas depois emendou cinco vitórias. Era um time mais pragmático do que o de 2006, com aplicação tática e muita eficiência. Além disso, o ambiente era a antítese de Weggis: um grupo fechado, com pouco espaço para badalação e jogadores que oscilavam da dedicação extrema ao fervor religioso.
No ciclo pós-2006, a seleção ainda se distanciou da Globo. Dunga decidiu blindar realmente o grupo, e isso funcionou em alguns momentos. Com títulos da Copa América (2007) e da Copa das Confederações (2009) e a vaga para a Copa de 2010, o treinador ganhou respaldo.
Em 2010, porém, o Brasil de Dunga pagou pelo extremismo. O treinador abraçou o grupo que havia conquistado a Copa das Confederações do ano anterior e levou para a África do Sul um elenco em que as opções eram Doni, Gilberto, Kleberson e Grafite, por exemplo.
Além das opções de jogadores, a seleção de Dunga notabilizou-se pelo compromisso com o esquema que o técnico havia montado. O que era aplicação tática até a Copa virou pobreza de repertório quando o Brasil foi eliminado pela Holanda nas quartas de final.
Com Mano, seleção rejuvenesce
E aí a CBF decidiu mudar mais uma vez. Era hora de romper com o grupo envelhecido de Dunga, que havia deixado poucos legados. A CBF tentou contratar Muricy Ramalho para o lugar do ex-jogador, mas acabou com Mano Menezes, que havia feito boa temporada no Corinthians em 2009.
Nas conversas com Muricy e Mano, Ricardo Teixeira, que na época presidia a CBF, não apresentou nenhum plano concreto. Disse apenas que queria mudar o perfil e renovar a seleção. Os meios para isso ficariam a cargo do treinador.
A primeira lista de Mano como técnico da seleção brasileira teve 24 jogadores, e dez eram estreantes na seleção brasileira. Do grupo que esteve na Copa de 2010, apenas o lateral direito Daniel Alves, o zagueiro Thiago Silva, o volante Ramires e o atacante Robinho foram mantidos.
A seleção disputaria um amistoso contra os Estados Unidos, e a convocação inicial de Mano teve jogadores como Jefferson, David Luiz, Henrique, Hernanes e Neymar, que chegaram à Copa de 2014. Mas também teve Renan (goleiro que estava no Avaí), Rafael (lateral direito do Manchester United), Ederson (meia que estava no Lyon), Carlos Eduardo (que estava no Hoffenheim) e André (que estava no Santos). O grupo tinha média etária de 23 anos.
No primeiro jogo pós-Copa de 2010, a seleção brasileira venceu os Estados Unidos por 2 a 0 e deu sinais de que podia engrenar com uma geração de garotos. O time era liderado por nomes como Neymar, Paulo Henrique Ganso e Alexandre Pato.
Depois, porém, a seleção e as escolhas de Mano claudicaram. O treinador abandonou a ideia inicial de montar um time de meninos e recorreu em vários momentos a jogadores com mais rodagem. Com um elenco bem mais experimentado, caiu nas quartas de final da Copa América de 2011, contra o Paraguai, em disputa de pênaltis.
Mano também não conseguiu conquistar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres-2012 – o Brasil perdeu a decisão para o México. Em 33 jogos, o treinador conseguiu 21 vitórias, seis empates e seis derrotas, com a incômoda marca de não ter batido seleções de primeiro escalão.
Com Felipão, seleção ganha competitividade
Em novembro de 2012, José Maria Marin já havia substituído Ricardo Teixeira no comando da CBF. O novo mandatário decidiu trocar o técnico da seleção brasileira, demitiu Mano e contratou Luiz Felipe Scolari, que havia sido rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro com o Palmeiras.
Campeão mundial em 2002, Scolari foi mais um encarregado de dar um choque na seleção. A primeira lista de convocados dele mudou oito nomes em relação ao grupo derradeiro de Mano e recuperou o centroavante tradicional – o antecessor vinha usando Neymar como "falso 9".
Scolari incutiu na seleção uma série de conceitos que sempre caracterizaram as equipes dele – transição em velocidade e eficiência em bolas paradas, por exemplo. Com isso, o grupo venceu a Copa das Confederações de 2013. Foram 28 jogos até aqui, com 19 vitórias, seis empates e três derrotas.
Tudo isso foi colocado em xeque após a derrota por 7 a 1 para a Alemanha – o resultado foi o pior da história da seleção brasileira. Nos dois últimos ciclos, a equipe nacional começou com reformulações drásticas e acabou frustrada. Afinal, que caminho o Brasil vai tomar agora?