7 recomendações do mundo para o futebol brasileiro após o Mineirazo

Do UOL, em São Paulo

O desastre no Mineirão que engoliu o Maracanazo, de 1950, do histórico de fracassos do futebol brasileiro abriu discussão mundial sobre o que levou a seleção brasileira ao abismo escancarado pela Alemanha, na goleada por 7 a 1 pela semifinal da Copa do Mundo. A derrocada do time de Luiz Felipe Scolari resultou em uma série de análises que, compiladas, servem para apontar diferentes temas de debate sobre o que CBF, clubes e até o poder público fazem pelo futebol no Brasil.

O UOL Esporte reuniu sete recomendações entre algumas publicações de todo o mundo, veiculadas após a eliminação da seleção brasileira. E todas partem de um princípio: o maior vexame da história do futebol brasileiro torna obrigatória a iniciativa por mudanças.

1. Boom econômico? Falta saber aproveitar

O futebol brasileiro percebeu no fim de 2008 – há quase seis anos – que entraria em outro patamar econômico. Corinthians e Ronaldo abriram as portas para uma nova era no país, que se seguiu com significativo aumento nas verbas de TV e publicidade. Consequentemente, os clubes passaram a gastar mais e, nos últimos dois anos, os maiores do país passaram a pagar no mesmo nível de grandes europeus. E não serviu para nada, estruturalmente. É o que escreve o jornalista inglês Tim Vickery, na BBC. A derrota no mineirão derruba o escudo do passado, com o qual o futebol brasileiro se protege há anos. O imenso investimento de clubes em nomes badalados, caríssimos para contratar e manter, tirou espaço de investimento na raiz do esporte e – pior – nem fez com que o Brasil tivesse supremacia no continente. "Essa diferença não é difícil de ser detectada quando se assiste à Copa Libertadores, torneio continental equivalente à Liga dos Campeões", exemplifica a publicação – não há qualquer clube brasileiro na semifinal do torneio em 2014. Cruzeiro, o melhor, caiu nas quartas.

2. Alemanha fez revolução de base a partir de fracasso

Não foi um vexame como o do Mineirão, mas em 2000 a Alemanha viu uma geração experimentar o total fracasso ao cair na primeira fase da Eurocopa, com duas derrotas em três jogos. O episódio se tornou marco para uma revolução no futebol alemão. "Clubes na primeira e na segunda divisão foram avisados para implementar categorias de base como parte da reorganização da estrutura do futebol nacional. A ideia era ter certeza que a próxima geração de jogadores alemães fosse melhor que a última. Ano a ano, as novas gerações foram equipadas com ferramentas técnicas e cognitivas que vimos desmontar o Brasil no Mineirão", cita artigo publicado no site da revista norte-americana Slate, assinado por Ken Early.

O mesmo foi dito por Julio Gomes em seu blog no UOL Esporte. A Alemanha não venceu por acaso. "A geração alemã que está na final da Copa é basicamente a primeira fornada de algo planejado. Não tem "geração alemã'', não tem "sorte''. Tem trabalho".

3. Além de jogadores, é preciso formar professores

A reforma no futebol brasileiro, a partir do Mineirazo, não pode ficar restrita a uma revolução na base de formação de atletas. O Brasil precisa formar melhores treinadores de futebol. No jornal "O Globo", Carlos Eduardo Mansur cita a disparidade entre o que se ensina de futebol no Brasil e o que se ensina em países como Espanha e Alemanha, nos últimos anos. "Em grande parte, também, pelas limitações de nossos formadores, nossos professores. Falta-nos sofisticação para entender o jogo que se pratica hoje. Questão de cultura, estudo, intelecto".

4. Camisa não ganha jogo

O pragmatismo do futebol brasileiro se sustentou mesmo com os fracassos nas Copas de 2006 e 2010 porque o talento individual de jogadores como Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e Neymar serviu como muleta. A impressão de que camisa – com cinco estrelas acima do símbolo da federação nacional – ganha jogo, pulverizada por um 7 a 1 sofrido pelo Brasil jogando em casa. Na "Folha de S. Paulo", Antonio Prata cunhou o termo "seleção a capela" e escreveu: "Que seja para passarmos a acreditar menos na mágica e mais no trabalho, no treino, no planejamento, enfim, nessa coisa chata chamada realidade".

No jornal "Lance", Eduardo Tironi tratou do mesmo tema. Além da necessidade de parar de se acreditar na camisa, é preciso esquecer qualquer ideia que valorize a superação pelo sofrimento, e não o planejamento. "Temos a chance de enterrar um dos maiores males que brotou em nossos campos em tempos recentes: a ideia de que o melhor e muitas vezes único caminho para o triunfo passa obrigatoriamente pela superação e pelo sofrimento", escreve.

5. Jogar feio não é o caminho

O Brasil fugiu de sua própria identidade nos últimos anos e chegou à Copa de 2014 completamente distinto de sua natureza. A rede alemã Deutsche Welle (DW) apontou detalhes do time de Luiz Felipe Scolari para justificar a transformação completamente equivocada. "Vencer jogando feio, muitos sentiram, seria o caminho do Brasil para vencer o sexto título da Copa do Mundo. Essa abordagem não-brasileira não foi tão evidente em qualquer outra situação quanto nas quartas de final contra a Colômbia quando se decidiu distribuir punição contínua ao destaque James Rodríguez", destacou artigo assinado por Jefferson Chase.

O espanhol "El País" publicou artigo de opinião argumento sob a mesma base. "É o país do qual saíram Pelé, Garrincha, Tostão, Gerson, Sócrates, Falcão e Zico, gênios que levitavam sobre os campos de futebol e manejavam a bola como um ponto leve de luz. Em seus lugares, Scolari e seus ajudantes construíram uma equipe de estivadores baseados na pancada e na defesa".

Além de apontar que o jogo feio praticado pela seleção brasileira atual não é o caminho para o sucesso, a antítese, como a Alemanha de 2014 e a Espanha de 2010, revelam-se o contrário. No "Estado de S. Paulo", Antero Greco mostra que os alemães, um dia estereotipados pelo futebol duro e sem tanta técnica, agora são modelo. Situação inversa à de três décadas atrás. "Depois de 2002, o futebol daqui parou, sentou no trono da soberba, ficou na janela a ver a banda passar. E a banda tocou em outra freguesia, com maestria e afinação", escreve. Na "Folha", é acompanhado por Paulo Vinícius Coelho e Tostão, que enxergam no desastre o grande momento da história para resgatar o futebol brasileiro de outras épocas.

6. A reação sob pressão

Não é apenas o choro. Mas a tal "pane geral", tão falada por Felipão e outros, não acontece por acaso. A seleção demonstrou total descontrole e incapacidade de concentração para reverter uma situação quando percebeu que existia a chance do sonho do título da Copa do Mundo em casa não se concretizar. Jogadores e treinador transformaram uma derrota parcial no pior cenário possível. É o que escreveu Barney Ronay no britânico "The Guardian". "Jogadores parecem ter fomentado uma histeria coletivia entre eles", cita a publicação, que fala em diversos momentos sobre flagrantes de um grupo emocionalmente fragilizado.

7. Que se mexa no topo da pirâmide

A Alemanha que venceu por 7 a 1 não fez só uma reforma na formação de jogadores e na qualificação de treinadores de base. Mudou, também, a forma de tratar seus dirigentes. E foi a partir da Copa de 2006, sediada no país. "Se o cartola da CBF falou em ir para o inferno em caso de derrota, esperemos que de lá ele não volte e que os que ficarem por aqui entendam que a derrota tem de servir para fazer desta merecida lição a base para novos tempos, como os alemães fizeram depois da Copa deles, em 2006, no saneamento das finanças dos clubes, na presença dos torcedores nos estádios, na execução do jogo limpo e bonito e na punição aos corruptos, porque corruptos também há por lá, mas punidos sempre que pegos, como aconteceu com o presidente do Bayern de Munique", escreveu Juca Kfouri, na "Folha de S. Paulo". 

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