Tensão sufoca clima de festa nas sedes do Brasil rumo à final
Gustavo Franceschini
Do UOL, em Belo Horizonte
Em casa, a seleção brasileira esperava e chegou a pedir para a torcida para criar um clima de festa por onde passasse. Até onde pôde, o público respondeu bem, mas no caminho de Felipão e companhia para a Copa das Confederações o clima de tensão pelos protestos foi dominante, e ofuscou a alegria verde-amarela que se esperava nas cidades.
Fortaleza, Salvador e Belo Horizonte, cidades pelas quais o Brasil passou depois do agravamento dos protestos, ofereceram essa realidade à seleção. Em cada um desses municípios, comerciantes, transeuntes e policiais emprestavam às ruas um clima de terror, destoando do que se viu dentro dos estádios.
Todas as manifestações que ocorreram terminaram em conflito com a polícia e depredação. Em Fortaleza, 15 mil manifestantes foram à região do Castelão, tentaram se aproximar do estádio e foram impedidos pelos oficiais.
A multidão foi afastada com gás lacrimogêneo e balas de borracha. No fim, os radicais que restaram queimaram pneus e placas e partiram para cima da polícia. Os moradores da região reclamaram da confusão e foram até impedidos de circularem no bairro.
Clima tenso também para mexicanos e brasileiros que foram ao Castelão. Antes da festa no estádio, alguns ficaram no meio do fogo cruzado entre policiais e manifestantes e muitos desistiram de assistir à partida.
No restante da cidade a confusão não repercutiu tanto, já que o estádio fica em área afastada. Ainda assim, os cearenses dos bairros mais nobres de Fortaleza tiveram de conviver com um policiamento ostensivo em toda a orla da cidade.
Um dia depois, a seleção chegou a Salvador, cidade que dias antes tinha sofrido com uma manifestação de mais de 40 mil pessoas, que terminou em uma tentativa de invasão ao hotel da Fifa. A ameaça agitou a entidade e a continuidade da Copa das Confederações ficou em xeque. Armou-se um esquema de guerra que assustou os torcedores, atentos a tudo na chegada ao Brasil x Itália.
No fim, o baixo quórum desmotivou os manifestantes a tentarem uma aproximação da Fonte Nova. Mesmo assim, um grupo de menos de mil pessoas foi para o confronto perto do Dique do Tororó. Um shopping da cidade teve de fechar as portas mais cedo, e no centro da capital baiana a confusão era mais assunto que a bela vitória do Brasil contra a Itália.
A seleção, incólume, foi para Belo Horizonte, onde mais uma vez a cidade ainda se recuperava de uma manifestação que terminou em conflito. A presença da seleção redobra a atenção da polícia, que sempre espera um ato ainda maior por saber da atenção que a equipe recebe.
Por isso, foi armada uma operação de guerra, com mais de 5,5 mil homens, Exército de prontidão e rodadas seguidas de negociação com manifestantes. Não deu certo. Um grupo de radicais tentou furar a barreira física da polícia, entrou em conflito e as consequências foram trágicas.
Três pessoas caíram de um viaduto, sendo que Douglas Henrique, de 21 anos, morreu horas depois em um hospital da região. No tumulto, vândalos aproveitaram para incendiar uma concessionária e depredar outras lojas. O barulho do tiro de uma arma de fogo assustou quem ainda estava na região e o retorno não foi dos mais tranquilos, com novas depredações e conflitos com a polícia.
Torcedores desavisados deixaram o Mineirão e andaram por quilômetros para conseguirem ônibus. No centro da cidade, a polícia posicionada para um novo confronto avisava para quem passava por ali para evitar centros trechos porque "vai dar confusão". Nada mais anticlímax depois de uma vitória suada e emocionante do Brasil sobre o Uruguai.
E no Rio de Janeiro, palco da final da Copa das Confederações, o cenário deve ser o mesmo. Até agora, a capital fluminense tem recebido manifestações em sequência, muitas delas com fins violentos. Nesse contexto, está marcado para o dia 30, horas antes da decisão, o último grande ato contra a realização do torneio, convocado pela Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa há uma semana. Indício de que, mais uma vez, o clima de festa não passará dos portões do estádio.