Mesmo sem garantia que valerá no Mundial, cativa do Maracanã é vendida por até R$ 180 mil
Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio de Janeiro
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Marizilda Cruppe/BBC Brasil
Contrato com a Fifa prevê que proprietário de perpétua não possa usá-la durante Mundial
A proximidade da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016 fez disparar o preço de uma cadeira cativa do Maracanã, a chamada perpétua. O direito de assistir a todos os eventos realizados no estádio do mesmo lugar, sem pagar ingressos, valia cerca de R$ 20 mil em 2010. Hoje, é vendido por até R$ 180 mil, segundo anúncios divulgados na internet.
O preço de cada perpétua varia de acordo com sua posição no estádio. Cadeiras com vista privilegiada do gramado, vendidas em pares, valem mais. Outras, mais afastadas ou vendidas individualmente, custam menos. Nenhuma delas, porém, sai por menos de R$ 50 mil.
Obras no Maracanã
Nos anúncios, a oportunidade de garantir um lugar nos jogos da Copa ou eventos da Olimpíada é o grande chamariz de interessados nas perpétuas. Com o título de uma cadeira, o proprietário poderia assistir a todos os jogos do Mundial sediados no Maracanã, inclusive a final, sem ter que gastar com a compra de entradas, por exemplo.
Entretanto, apesar disso ser prometido por alguns vendedores, a validade das perpétuas nos grandes eventos esportivos é incerta. A discussão envolve Fifa, governo e proprietários das cadeiras, e pode até parar da Justiça dependendo dos rumos do debate.
ANÚNCIO OFERECE PERPÉTUA
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O Comitê Organizador Local da Copa do Mundo (COL) informou ao UOL que todos os estádios que sediarão jogos do Mundial ou da Copa das Confederações, já em 2013, têm um contrato assinado com a Fifa. Por esse contrato, os estádios devem ser entregues temporariamente aos organizadores dos torneios "sem nenhum direito de terceiros durante o período das duas competições". Ou seja, o direito dos proprietários das cadeiras perpétuas não valeria durante a Copa.
Contudo, o governo do Rio de Janeiro, atual proprietário do Maracanã e signatário desse contrato com a Fifa, informou que esse assunto ainda está indefinido. Questionado pelo UOL a respeito das perpétuas, ele declarou: "O governo ainda está avaliando como se dará a destinação das cadeiras cativas durante a Copa do Mundo."
Já para os atuais proprietários das cadeiras, a possibilidade de ficar fora dos próximos eventos esportivos preocupa. Ricardo Amitay Kutwak é dono de perpétuas do Maracanã. Segundo ele, até agora, ninguém sabe o que será das cadeiras na Copa.
"Certeza [sobre o uso na Copa] nós só teremos depois que a questão for discutida", afirmou ele. "Mas de alguma forma nosso direito tem que ser preservado."
Kutwak também é advogado e representa cerca de 100 proprietários de cadeiras em processos contra a taxa de manutenção cobrada pelo governo dos donos de perpétuas. Ele disse que, caso Estado e Fifa não garantam a entrada dos proprietários de cativas nos jogos, uma "chuva de liminares" pode comprometer o planejamento do torneio.
"Nós esperamos que haja bom senso de todas as partes para definir esse assunto", disse Kutwak. "Se formos pegos de surpresa como uma decisão arbitrária, o governo pode ser pego de surpresa com uma chuva de decisões liminares."
Mesmo confiante em um desfecho favorável aos proprietários, Kutwak não recomenda a compra de uma perpétua do Maracanã pelos "valores absurdos" anunciados, ainda mais sabendo das dúvidas que rondam o negócio. "Já vi gente vendendo por R$ 60 mil e achei muito. Mais do que isso não vale. Tem gente especulando com a cadeira e pode tomar um tombo feio."