Cristiano Ronaldo foi o principal alvo dos torcedores de bares GLS em São Paulo |
Todo o capricho no visual dos torcedores da Rua Frei Caneca, na região central de São Paulo, não foi suficiente para que a seleção marcasse os esperados gols em cima de Portugal. Reunidos em bares GLS concentrados no trecho entre a Avenida Paulista e a Rua Paim, mostraram que, se faltaram razões para celebrar o placar, outros atrativos fizeram valer o show.
Marcelo acompanha Tatá Santana na hora de torcer
Regina Pichuru e Luana também viram o jogo na Frei Caneca
Os mínimos detalhes lembram a Copa no Café na Caneca
O craque português Cristiano Ronaldo arrancou comentários não pelo futebol apresentado em campo, mas pelo físico exibido principalmente durante a troca de camisas entre os jogadores, no final da partida. “Pelo menos mostra de frente, vai!”, pediu o público ao vê-lo de costas na tela da tevê.
As observações não se limitaram à estrela do time adversário: “Quer que eu faça uma massagem?”, “Pernão!” e outros elogios eram proferidos vez ou outra pela plateia um tanto silenciosa, aflita diante do jogo morno.
No Café na Caneca, além de pedir gols, alguns se irritaram. Houve quem dissesse “Viado!” ao juiz, reação que não gerou qualquer polêmica.
“Achei xoxo”, afirmou Tatá Santana assim que o jogo terminou. “Santista por causa de Pelé”, ele torceu junto de amigos e do namorado, Marcelo, que conheceu na Parada Gay, há menos de um mês.
“Amo a Copa, assisto aos jogos. Adoro porque é um momento de descontração, é uma festa popular”, contou Tatá, militante há anos e voluntário do Casarão Brasil (centro de união da comunidade LGBT), onde ministra oficinas de auto-conhecimento, qualidade de vida e prosperidade.
Outro habitué do local, o francês Yann Darjou, que acompanha a Copa no Brasil pela 4ª vez, admitiu que só vê futebol em época de Mundial. “Prefiro tênis, vôlei, já joguei handebol...” Ele recordou que estava em Paris em 98 com um grupo de brasileiros, torcendo pelo Brasil, quando a seleção perdeu a final contra a França, que jogava em casa. “Fiquei triste pelo Brasil, mas depois brinquei dizendo ‘Viram só, meninos?!’.”
Professora de Educação Física em escolas públicas, Regina Pichuru assistiu à atuação do Brasil no Café da Caneca pela segunda vez. “Acho um pouco demais todo o barulho em torno da Copa. Mas também acho que traz felicidade aos brasileiros, é um período em que todos esquecemos dos problemas”, observou.
Ao lado da namorada Luana, ela se declarou “aficcionada por futebol” e torcedora do São Paulo. “Queria que o Scolari fosse para o meu time”, comentou. E fez sua defesa ao atual técnico da seleção brasileira: “Admiro Dunga pela sua essência, gosto da personalidade dele. É um cara excêntrico e sincero.”
Funcionária da Bicho na Caneca carrega cães com lacinhos
O gerente Willians Silva em uniforme temático
Para Adrianne Bialski, homossexuais são 'homoafetivos'
Para Dayana Bialski, administradora do Café na Caneca – espaço que abriga o pet shop Bicho na Caneca –, o último jogo do Brasil na 1ª fase da Copa da África foi “horroroso”. Ela contou que sua filha Alice, de 3 anos, ligou no meio da partida chorando: “Mamãe, eu não vi o Kaká jogar!”.
“Meu filho Ian, de 6 anos, me disse ‘Não quero mais ver os jogos, estão muito violentos’; o mais velho, Vitor, de 13 anos, me perguntou se o álbum da Copa ‘era real’, se aqueles eram os jogadores que jogariam nesta Copa do Mundo.”
Dayana explicou que o “primeiro pet shop GLS de São Paulo” costuma exaltar o futebol nos sábados temáticos. “Promovemos o Dia do Esporte, do Time da Caneca, e todos os funcionários se vestem a caráter.”
Desde que as disputas na África começaram, o verde e o amarelo foram incorporados aos uniformes. Na partida desta sexta, o gerente do lugar, Willians Silva, que já atuou como mordomo de um importante empresário e dá aulas particulares de etiqueta, ostentava uma das produções mais criativas. “Sempre pensamos antes no que vamos vestir, de acordo com o tema”, ressaltou, lembrando que já foram organizados ali sábados dedicados ao Dia dos Namorados, Natal, Carnaval, Páscoa.
No período do Mundial, as cores nacionais tomaram conta, ainda, da decoração – à qual foi somada um telão para que os jogos sejam vistos – e dos detalhes, e até dos enfeites colocados nos animais de estimação após banho e tosa. Os donos podem ir além e comprar roupinhas para seus bichos em diversos modelos.
Em breve, o local ganhará uma livraria com títulos sobre a temática homossexual. Segundo Dayana, o conceito do empreendimento (aberto há seis anos por seu irmão David, veterinário que atualmente mora em Miami) é atender ao público GLS com mais respeito, mas sem rótulos. “Não temos preconceito aqui, e não é porque tenho a bandeira [do movimento gay] pendurada à porta que tem que rotular”, concluiu.
A mãe de Dayana e David, Adrianne Bialski, de 64 anos, utiliza outro termo para definir os homossexuais. “Homoafetivos. São pessoas que amam outras do mesmo sexo, mas não se trata de algo que se escolhe”, disse.
Adrianne participa da Parada Gay há sete anos e coordena há 10 a ONG Amor Exigente, que apoia famílias de jovens envolvidos com drogas. Ela revela que vai à balada e que todos os seus amigos são jovens: “Conheço várias, The Week, Sonique, Gorila, Xcaret...”
“Tenho um paquera de 53 anos. Digo que é preciso ter no mínimo 10 anos a menos para me acompanhar.”
Nascida na Romênia e criada até os 12 anos na Venezuela, Adrianne tem três filhos e sete netos. Corinthiana, afirma que o futebol e a Copa sempre foram motivo de entusiasmo para a família. “Inclusive meu outro filho e meu neto de 8 anos estão na África agora, vendo a Copa.”
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