Fabrice Coffrini / AFP Photo

Dunga se dirigiu ao torcedor, mas sem citar as ofensas que fez ao jornalista da Globo

24/06/2010 - 13h52

Dunga pede desculpas à torcida por ofensas em coletiva, mas ignora Globo

Alexandre Sinato, Bruno Freitas e Mauricio Stycer
Em Durban (África do Sul)

ENTENDA O CONFLITO DUNGA X GLOBO

Mantida por Dunga a pão e água, como todos os demais veículos de mídia, a Rede Globo não está tendo acesso privilegiado aos jogadores da seleção brasileira, como ocorreu em quase todas as coberturas esportivas que fez. O regime de restrição ao trabalho da imprensa, imposto pelo técnico, inclui a proibição de entrevistas exclusivas com jogadores.

No último domingo, na entrevista coletiva depois da partida contra Costa do Marfim, Dunga interpelou o jornalista Alex Escobar, da Globo, quando ele falava ao telefone com Tadeu Schmidt, apresentador da emissora. “Algum problema”, perguntou o técnico, antes de sussurrar, mas ser ouvido: “Besta, burro, cagão”.

Horas depois, no programa "Fantástico", Schmidt leu um editorial da emissora, criticando Dunga: "O técnico Dunga não apresenta nas entrevistas comportamento compatível de alguém tão vitorioso no esporte. Com frequência, usa frases grosseiras e irônicas".

O jornalista da Globo não mencionou, no entanto, o motivo da ofensa. Dois dias depois, o UOL Esporte revelou: Dunga havia vetado entrevistas exclusivas que Alex Escobar iria fazer, incluindo uma com Luis Fabiano, para serem exibidas no “Fantástico”. O lobby para a realização destas entrevistas contou, inclusive, com um pedido ao presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira.

No momento em que conversava com Schmidt, Escobar dizia: "Insuportável, bicho, insuportável. O Rodrigo (Paiva) foi revoltado lá falar comigo, cara. O Dunga não deixou. Ninguém. Caraca, nem o Luís Fabiano. Infelizmente. Valeu, Tadeuzão".

Na véspera do jogo contra Portugal, o técnico Dunga se dirigiu ao torcedor brasileiro para pedir desculpas pelo comportamento há quatro dias em entrevista oficial após a partida contra a Costa do Marfim, em Johanesburgo.

Nesta quinta-feira em Durban, o treinador teve a primeira oportunidade de se pronunciar a respeito do bate-boca com o jornalista Alex Escobar, da Rede Globo.

Dunga pediu desculpas pelo comportamento no caso, quando interrompeu uma resposta para interpelar o jornalista e, em seguida, ofendeu o profissional com palavras captadas pelo sistema de som da sala de conferência do Soccer City.

No entanto, ao longo do seu desabafo, Dunga em nenhum momento se referiu ao jornalista e à emissora em questão para pedir desculpas e ainda deixou no ar uma leve cutucada, com o pedido: “eu só quero que me deixem trabalhar”.

“Bom, vou falar uma única vez sobre isso. Gostaria de pedir desculpas ao torcedor brasileiro pela minha atitude, pela forma como me comportei”, declarou o treinador no estádio do jogo de sexta contra Portugal.

“O torcedor não tem nada a ver com os meus problemas pessoais. Só quero trabalhar, só quero que me deixem trabalhar. (Eles) não têm que saber de algumas coisas, ouvir algum desabafo meu, só têm que torcer pela seleção brasileira”, emendou Dunga, no comentário sobre o incidente de domingo passado.

Drama familiar

No fim da entrevista, Dunga foi perguntado sobre os problemas de saúde do pai e confirmou o drama familiar.

“Não é a primeira vez que ele está nesta situação. Há muito mais tempo que ele vem sofrendo com isso”, disse, sobre o seu pai Edelceu, que sofre de mal de Alzheimer.

“Para mim, é mais uma oportunidade de mostrar para ele tudo que ele me ensinou: que o homem para ser homem precisa ter dignidade, coerência, virtude, honra, transparência e saber pedir desculpas quando erra”, emendou.

Na conclusão de seu desabafo, Dunga ainda se dirigiu à mãe, Dona Maria, e falou em sofrimento duplo, pela doença do chefe da família e pela pressão enfrentada pelo filho na Copa do Mundo.

“E a minha mãe, mais do que sofrer com o meu pai, deu o maior exemplo de que o que estão fazendo com o filho dela não se faz com ser humano nenhum. Fizeram chacota comigo quando disse que ela é professora de História, mas ela me deu uma lição: temos que ser patriotas, embora muita gente não goste, e fazer o melhor para o país. A adversidade só vai fazer com que a gente cresça”, concluiu.

*Atualizado às 14h18

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