De olho no cofre

Estádios atrasados fazem Brasil reviver drama da Copa das Confederações

Tiago Dantas e Vinicius Konchinski

Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro

A construção dos estádios da Copa do Mundo enfrentou, nos últimos meses, vários tipos de contratempos, como greve de trabalhadores, interdições e infrações a leis trabalhistas. Dois acidentes graves causaram a morte de três operários. O excesso de horas extras feitas pelos trabalhadores e a pressão para entregar as construções dentro do prazo podem ter influenciado as tragédias, segundo sindicatos ligados à construção civil.

O governo federal e a Fifa já admitiram que os seis estádios que ainda estão em obras não ficarão prontos até 20 de dezembro, data inicialmente prevista como limite para as inaugurações.

A situação lembra o drama vivido meses antes da Copa das Confederações, quando apenas duas das seis arenas foram inauguradas no prazo previsto: Mineirão, em Belo Horizonte, e Castelão, em Fortaleza, ficaram prontos em dezembro de 2012.

Palco da final do torneio, o Maracanã, no Rio, só foi inaugurado em junho, depois de uma série de atrasos e de emendas ao contrato que fizeram o custo da obra saltar de R$ 600 milhões para R$ 1,1 bilhão. Na época, o governador Sérgio Cabral creditou o atraso e o aumento de preço a uma série de "variáveis não esperadas".

Arena da Amazônia

O trabalho de operários em áreas altas da Arena da Amazônia, em Manaus, foi proibido na noite de sábado, 14. A medida foi tomada pela Justiça do Trabalho, após dois operários morrerem enquanto trabalhavam.

Ainda não há uma definição sobre quando a obra da Arena da Amazônia poderá ser retomada totalmente. Nesta segunda-feira, ela passou por uma vistoria do MPT (Ministério Público do Trabalho). Segundo o governo do Amazonas, foram realizados trabalhos de acabamento nesta segunda-feira.

O governador do Amazonas, Omar Aziz, afirmou na manhã desta segunda, 16, que o governo tem até abril para entregar a obra pronta para a Fifa. 

Itaquerão

A queda do guindaste que carregava a última peça da cobertura da Arena Corinthians, em Itaquera, zona leste de São Paulo, provocou a morte de dois operários em 27 de novembro. Após a tragédia, 5% de toda a área do estádio foi interditada.

As obras prosseguem no restante da arena. Antes de poder mexer na região onde aconteceu o acidente, a construtora Odebrecht precisa aguardar um laudo técnico para retirar o guindaste que caiu. Depois, precisa pedir autorização para a Prefeitura de São Paulo para que os operários voltem a mexer na área onde o acidente aconteceu.

O novo estádio alvinegro teve que enfrentar, ainda, a demora para a liberação do financiamento do BNDES – o estádio foi o último a receber o dinheiro.

Arena Pantanal

Denúncia de superfaturamento na compra de cadeiras, cancelamento de contratos com fornecedores, incêndio em parte do estádio, protesto contra a Copa e até assalto com troca de tiros: aconteceu de tudo um pouco na Arena Pantanal, em Cuiabá, nos últimos dois meses.

Depois de quase um mês de imbróglio, o governo do Mato Grosso acertou a contratação de uma empresa para instalar os assentos. O serviço, porém, não tinha sido iniciado até a publicação desta reportagem.

Para completar a sequência de incidentes, uma quadrilha invadiu as obras na madrugada de quarta-feira, 11. Houve troca de tiros entre suspeitos e seguranças, e um homem acabou preso.

A obra já tinha enfrentado problemas em março, quando a construtora Santa Bárbara Engenharia SA, resolveu abandonar o consórcio que formava com a Mendes Júnior para tocar o projeto. A empresa estava passando por problemas financeiros.

Arena da Baixada

Os trabalhos na Arena da Baixada, em Curitiba, ficaram paralisados em outubro, depois que vistoria do Ministério Público do Trabalho encontrou falhas de segurança no canteiro de obras.

Na quinta-feira, 12, cerca de 300 operários entraram em greve alegando que não receberam o salário de dezembro. O dinheiro atrasado foi pago, e os funcionários voltaram ao trabalho. O sindicato da categoria promete uma paralisação geral caso o décimo terceiro dos funcionários não seja pago até o dia 20.

Beira-Rio

A instalação da nova cobertura do Beira-Rio, em Porto Alegre, parou na sexta-feira por causa de um protesto de trabalhadores. Operários estrangeiros encarregados de colocar a lona que protegerá os torcedores cruzaram os braços na quinta-feira, 12, para cobrar melhorias na condição de trabalho e pagamento de salários atrasados.

Ao todo, 51 pessoas participaram da mobilização. Segundo eles, o acerto é necessário para que o Beira-Rio esteja pronto dentro do prazo combinado: 31 de dezembro.

O estádio  está 92% pronto, segundo o Internacional, dono do espaço. O clube e a construtora responsável pela obra, Andrade Gutierrez, afirmam que estão resolvendo os problemas com os operários internamente e a obra segue seu cronograma.

Arena das Dunas

A construção da Arena das Dunas, estádio de Natal para a Copa do Mundo, está cerca de 95% concluída, segundo o governo do Rio Grande do Norte. Esse percentual, entretanto, não leva em consideração a obra para instalação de 11 mil assentos temporários que a arena precisa ter para pode receber jogos do Mundial.

A entidade máxima do futebol exige que os estádios da Copa tenham, no mínimo, 40 mil assentos. A Arena das Dunas terá só 31 mil. Por isso, o governo já abriu uma licitação para contratação uma empresa responsável pela instalação dos 11 mil lugares temporários.

Esses assentos só devem estar à disposição dos torcedores em março. Isso, contudo, não atrapalhará os testes na Arena das Dunas para a Copa do Mundo. O governo, inclusive, afirmou que o estádio será inaugurado em 12 de janeiro.

Governo e Fifa acreditam nos prazos

O governo federal informou que as seis arenas serão concluídas "no prazo para a realização dos eventos-teste necessários para a Copa". Em nota, o Ministério do Esporte afirmou que "considera que a construção e a reforma das arenas trazem benefícios ao Brasil, pois elas renovam a infraestrutura do esporte mais popular e garantem mais conforto e segurança aos torcedores".

Na construção dos estádios utilizados na Copa das Confederações, foram gerados 24.500 empregos diretos, de acordo com a União. "Arenas mais seguras, confortáveis e com melhores serviços tendem a atrair novas oportunidades de negócios e patrocinadores, que podem, inclusive, contribuir com a profissionalização e impulsionar ainda mais o futebol brasileiro", diz a nota do governo.

Em nota, o Comitê Organizador Local (COL) informou que o "COL e a FIFA trabalham em conjunto e reconhecem o esforço das 12 sedes e do Governo Federal na preparação para a Copa do Mundo da FIFA. COL e FIFA têm confiança nos prazos apresentados pelas sedes para os estádios, garantindo a realização de eventos-teste essenciais para o sucesso da Copa".

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