Greve de operários e calote do governo atrasam obras da Copa em Curitiba
Tiago Dantas
Do UOL, em São Paulo
A preparação de Curitiba para a Copa do Mundo tinha tudo para ser uma das mais bem sucedidas. Prefeitura e governo do Estado planejaram, em 2010, um conjunto de dez obras de mobilidade e a Arena da Baixada já era considerado um estádio moderno antes da reforma ter início.
Greves, pagamentos atrasados, planejamento equivocado, problemas trabalhistas e intervenções do Tribunal de Contas, no entanto, comprometeram o andamento do processo. A reforma da Arena é uma das mais atrasadas do Brasil, o que já preocupa a Fifa, e algumas obras viárias correm o risco de nem ficarem prontas até julho de 2014.
Após dois meses sem receber o repasse do governo do Estado do Paraná, duas empreiteiras resolveram paralisar os serviços na primeira semana de dezembro. Até ontem, não havia funcionários trabalhando nos corredores Marechal Floriano Peixoto e Aeroporto-Rodoferroviária, além da Avenida da Integração – todos os projetos fazem a ligação da capital Curitiba com São José dos Pinhais.
Políticos da oposição dizem que o governo do Paraná está enfrentando problemas para pagar seus fornecedores. Há empresas que não recebem há cinco meses, mas, que, mesmo assim, preferem continuar o trabalho. Empreiteiras menores, porém, não tem reserva de dinheiro suficiente para suportar o calote, dizem deputados.
O governo paranaense confirma que houve problemas no repasse de dinheiro público a algumas empresas, mas garante que o pagamento já foi retomado. "A Comec (Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba) [órgão que contratou os trabalhos] chamará as empresas para adequar o cronograma de obras ao calendário acordado com o Ministério das Cidades", informa o Estado.
Antes de voltar ao trabalho, os funcionários precisam preparar o canteiro de obras, o que pode atrasar o serviço. Embora o governo afirme que tudo poderá ser entregue no início de 2014, engenheiros ligados às duas intervenções acreditam que as obras viárias podem ser inauguradas entre julho e agosto.
Somadas, as três obras paralisadas somam R$ 67,9 milhões, sendo que R$ 52,3 milhões são da União e R$ 15,6 milhões são pagos pelo governo do Estado. Procuradas, as empresas Mavillis Construções Ltda e Empo (Empresa Curitibana de Saneamento e Construção Civil) não se pronunciaram.
Operários entram em greve na arena
A onda de paralisações de trabalhadores chegou também à Arena da Baixada. Nesta quarta-feira, cerca de 250 operários cruzaram os braços, alegando que não receberam o salário de novembro nem o vale-refeição. Ao todo, cerca de 1.200 operários trabalham na reforma. No final da tarde, a CAP-SA, empresa criada pelo Atlético Paranaense para fazer as obras do estádio, quitou a dívida que tinha com 140 pessoas.
Outros 110 trabalhadores resolveram manter a greve nesta quinta, 12. Eles são contratados por empresas terceirizadas e até a última noite não tinham resolvido sua situação. O Sintracon (Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil) chegou a cogitar uma paralisação total. A promessa foi deixada de lado, porém, após o acordo feito com parte dos operários.
No início de outubro, as obras ficaram paradas por quase uma semana devido a problemas encontrados pelo Ministério Público do Trabalho. Quinze dias depois, o TCE (Tribunal de Contas do Estado) chegou a pedir o bloqueio de repasses de dinheiro público à reforma após encontrar irregularidades no contrato.
Procurado, o Atlético Paranaense disse que não iria se pronunciar sobre a greve de parte dos operários.