'O povo unido jamais será vencido', grita arquibancada do Maracanã
Rodrigo Mattos
Do UOL, no Rio de Janeiro
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Rodrigo Mattos/UOL
Família de torcedores usam camisetas em protesto contra a privatização do Maracanã
Os protestos ganharam um tom mais alto em estádios da Copa das Confederações dentro do Maracanã, durante o jogo entre o Taiti e a Espanha no Maracanã. No segundo tempo, todos os torcedores presentes gritaram "O povo unido, jamais será vencido". E cantaram trecho do hino brasileiro em seguida, sob aplausos de todos.
Antes, já existiam várias manifestações de protestos no Maracanã de torcedores durante a partida, sem que houvesse repressão firme da Fifa apesar das regras que proíbem atos políticos no estádio. Seguranças privados da entidade não viram ou fingiram que não viram camisas e cartazes com pedidos de mais educação e saúde, críticas à privatização do Maracanã e até à própria Fifa. Quando ocorreu, a repressão foi branda.
Um exemplo é o funcionário público Luis Carlos Alves, 54. Juntamente com seus dois filhos, ele trajava uma camisa contra a concessão do estádio carioca. Na frente, dizia o "Maracanã é nosso". Atrás, dizia "Fora Eike" em referência ao empresário Eike Batista, um dos que ficou com a gestão da arena dada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro.
"Quando entrei, um segunrança disse que era contra o regulamento da Fifa. Mas argumentei que a Constituição me garante o direito livre de me manifestar. Então, ele deixou", explicou Alves, que deixaria o estádio para ir à passseata na Candelária. "Hoje é um dia de soliedariedade nas capitais. Achamos bom protestar contra a privatização porque o Maracanã foi reformado com dinheiro público e foi privatizado para o Eike e a Odebrecht. Talvez por isso ele seja um dos homens mais ricos do Brasil."
Também havia os pedidos por maior investimento em educação, saúde e segurança. Era o que pedia um cartaz grande exibido ao lado do gramado, na cara dos seguranças. Esse cartaz continha uma frase de crítica a Fifa, organizadora da Copa das Confederações e da Copa-2014. O segurança limitou-se a pedir para baixar a faixa. Os torcedores a baixaram e depois levantaram, mas elas não foram tomadas.
Também havia pedidos por mais investimento e educação dos servidores públicos estaduais Igor Drumond, 32, e Thiago Maura, 23. Eles entraram com pequenas folhas com pedidos de mais dinheiro para essas áreas dentro da bolsa, que foi revistada, mas os documentos não foram vistos.
"O que me incomodou é que o perímetro em volta do Maracanã está fechado, com regras diferentes. Parece que é uma parte do país que foi vendida", explicou Maura. "Me arrependi de comprar ingresso. Para a Copa, não vou comprar." "É o mínimo que podia fazer era trazer esses cartazes já que não estou na rua", completou Drumond.
Dois cartazes grandes também lembravam a Aldeia Maracanã, grupo de índios que foi retirado das redondezas do estádio no processo de reconstrução. Esses eram bem grandes e amarelos, chamando a atenção.
Já a estudante Alexandra, 19, usava uma camisa com a inscrição "Que país é esse?", Filhos da Revolução, em referência à música do Legião Urbana. "Estou participando porque o governo não faz nada para ajuda a gente. Não é só sobre R$ 0,20", afirmou ela. "Acho que ajuda [o protesto] no sentido de que eles [governos] investem mais em estádio do que em saúde e educação. Gosto da Copa. Mas abriria mão por mais dinheiro para a saúde e educação."
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