A bola volta a rolar oficialmente no Independência, nesta quarta-feira, às 21h30, quando América-MG e Argentinos Juniors enfrentam-se em jogo amistoso, depois de passar os dois últimos anos em reforma, que mudaram totalmente a 'cara' do antigo 'Campo do Sete', como era conhecido o estádio. Enquanto jogadores e torcedores estão na expectativa do retorno das partidas de futebol à capital mineira, moradores e comerciantes da área vizinha à moderna Arena Independência vivem momentos de incertezas.

A volta dos jogos de futebol ao Independência já mudou a rotina do Horto, um dos mais tradicionais bairros da Zona Leste de Belo Horizonte. O trânsito de veículos sofreu grandes alterações em toda a região, ao longo dos últimos meses, em preparação para os dias de partidas no estádio, cuja capacidade máxima é para 25 mil pessoas, mas, que foi liberado pelo Ministério Público de Minas Gerais para 23.018 pessoas, pelos próximos dois meses, por causa da aprovação com restrições dos laudos técnicos elaborados pela Polícia MIlitar e Corpo de Bombeiros.

O aumento drástico no movimento, principalmente nos dias de jogos e não apenas de carros, mas também de pessoas, em ruas antigas e estreitas, que não foram planejadas para receber tantos 'forasteiros', traz preocupação para quem mora ou trabalha nas vizinhanças do novo Independência.

"O bairro não está preparado para receber tanta gente, principalmente no dia dos jogos. Será um aumento de tráfego, carros, pessoas nas ruas, já mudou e vai mudar ainda mais a rotina do Horto e o entorno, isso não foi levado em conta", avaliou José Raimundo da Cunha, o Zeca, presidente da Associação Comunitária do Horto.

"Infelizmente o momento que eu não queria que chegasse chegou, a volta dos jogos e a mudança da vida de todos que moram neste Bairro. Sou moradora há 40 anos, sempre gostei do Independência, mas depois desta reforma, passei a odiar futebol. A vida de todos aqui, irá mudar drasticamente", lamentou Maria Lúcia, moradora da Rua Pitangui, onde está localizada o principal acesso ao estádio.

A questão de estrutura e logística do entorno do Independência tem mobilizado a Prefeitura de Belo Horizonte, a Empresa de Transporte e Trânsito (BHTrans) e a Secretaria de Estado Extraordinária da Copa do Mundo em Minas Gerais (Secopa-MG). A empresa Tecran foi contratada para executar a adequação do transito no entorno do estádio, realizando mudança da mão de vias, alteração do itinerário de linhas de ônibus, reformas nas calçadas e modificações em semáforos.

"Imagina quem mora perto do Independência em dia de jogos, vão fechar ruas, carros vão parar na porta da sua casa, vai ser complicado a gente sair de casa de carro, ou até mesmo andando, fizeram cadastramento dos moradores, mas o impacto para quem mora será enorme", afirmou Rodrigo Silva, morador da rua Raimundo Nonato.

Uma das principais preocupações de comerciantes e moradores, que são vizinhos ao Independência, localizado em uma área residencial, é quanto a segurança. Em dia de jogos, a rotina do local será modificada, já que aumentará em muito, o número de pessoas nas redondezas.

"Estou muito preocupado com a segurança, espero que a polícia cumpra o que tanto prometeu para a gente, que vai reforçar a vigia, não somente no dia de jogos, mas em dias comuns também. É preciso acompanhar o dia a dia, para evitar confusões, vândalos, que sempre aparecem nos jogos", afirmou José da Silva, que possui um bar próximo ao Independência.

Segundo comerciantes do Horto e Região, a rotina de trabalho já foi alterada durante as obras de reformas do Independência, que demoraram dois anos para serem concluídas. Funcionário de um pet shop, Rodrigo Castro mostra preocupação. "Já mudou a rotina, nos últimos três meses já está diferente, trânsito aumento, complicou para quem vem comprar", afirmou.

Mas não apenas dos comerciantes aparecem as reclamações, os consumidores que vão de outros bairros próximos até estabelecimentos comerciais, como padarias, farmácias e sacolões, para fazer compras, reclamam das dificuldades.

"Está difícil, muito movimento, caminhão, não tem lugar para estacionar, o trânsito está cada dia pior, muita gente está deixando de vir até aqui para comprar e ficará pior, em dia de jogo, eu não vou vir, porque não tem como", explicou Teresinha da Costa, moradora do vizinho Bairro Floresta.

A inauguração do Independência modificará a rotina de trabalho dos comerciantes. Padarias, mercados e lojas irão alterar o horário de trabalho em dia de jogos, fechando os estabelecimentos mais cedo. "Vai ser a solução para evitar problemas em dia de jogos, as pessoas não virão aqui comprar nada mesmo, já que vai estar uma confusão", disse Luciana Pereira, funcionária da tradicional Padaria Monteiro.

Apesar dos transtornos, tem vizinho do Independência que vê aspectos positivos. "Não foi tudo perfeito como esperávamos, mas agora está pronto e é momento de a gente apoiar, o estádio ficou bonito, deu um charme novo para a região, ficou lindo", ressaltou Rodrigo Castro.

Os jogadores do Atlético-MG manifestaram vontade de voltar a jogar no Independência, mas terão de esperar um pouco mais, porque a diretoria do clube decidiu mandar a segunda partida pela semifinal contra o Tupi, no próximo sábado, às 18h30, na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas.

"Estou ansioso para poder jogar no Independência, os companheiros já falaram que é diferente jogar aqui", comentou o atacante André. Para o zagueiro Réver, seria bom jogar no Independência, inclusive por evitar viagem. "É menos cansativo, também para o torcedor, sabemos das dificuldades para ele ir para lá, mas se não der, vamos jogar em Sete Lagoas novamente, procurando amenizar as dificuldades", disse.