Sindicatos revelam denúncia de que alerta de risco na obra foi ignorado

Marcelo Freire e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP), Antonio de Sousa Ramalho, declarou nesta quinta-feira que um técnico de segurança do Itaquerão fez alerta interno de que haveria risco de desabamento no setor onde ocorreu a queda de peça metálica. Dois funcionários morreram. A Federação Nacional dos Técnicos de Segurança no Trabalho (Fenatest), entidade sindical de âmbito federal, também afirma ter recebido a denúncia.

A construtora Odebrecht nega a existência desse alerta. Em nota, a empresa diz que "não houve nenhum alerta prévio ao acidente" e nega "a ocorrência dos eventos relatados pelo presidente do Sintracon." A nota termina com a Odebrecht reafirmando o que chama de rigor nos procedimentos de segurança do trabalho. "Até essa quarta-feira, a obra havia registrado 9,5 milhões de horas trabalhadas sem acidentes graves."

Ramalho, da Sintracon, que também é deputado estadual pelo PSDB, acrescenta que foi feita vistoria após o alerta do técnico de segurança (cujo nome não foi revelado por Antonio) por volta das 8h e que a reclamação foi considerada improcedente. Quatro horas depois aconteceu o desabamento.

"Eu entrei em contato com um técnico de segurança do estádio horas depois do acidente. Essa pessoa me contou que havia alertado sobre o risco de a grua tombar, que existia risco de acidente. Eles vistoriaram o local e entenderam que não havia risco", acusa o presidente do Sintracom.

O presidente do Sindicato reforçou as críticas. Ele contou ainda que o técnico de segurança foi esnobado por um engenheiro de produção (chefe do setor) quando comunicado sobre o risco de acidente. O alerta dado horas antes da tragédia foi subestimado, frisou Antonio Ramalho.

"O engenheiro de produção teria dito ao funcionário que eu ouvi: 'Você é segurança do trabalho. Isso [análise do risco] é competência do engenheiro civil'. Apesar dessa resposta, o técnico me contou que acionou seu superior [um engenheiro de segurança] e documentou um possível risco de desabamento".

O presidente da Fenatest, Armando Henrique, também contou sua versão para a denúncia. "Só foi esta denuncia, que foi anônima. Não teve mais fato novo. Eu recebi ontem à tarde antes do anoitecer, não sei que horas eram, mas foi à tarde", contou. 

Henrique ainda completa com uma possível explicação para a tragédia. "O acidente, quando acontece nesse caso, é porque a prevenção não está correta. Eles [empresas envolvidas na construção] não admitem. Falam que é obra do acaso. É inerente ao trabalho. Isso é lamentável, a vida dos funcionários é secundária, estamos aguardando a conclusão final."

O coordenador da Defesa Civil municipal, Jair Pacca de Lima, disse que a vistoria feita pelo órgão nesta quinta-feira não encontrou declividade no solo onde estava localizado o guindaste.

"Se houve declividade, foi de milímetros. E isso só o laudo pericial poderá dizer", disse Jair.

Representantes da Defesa Civil estiveram no Itaquerão nesta quinta de manhã e informaram que continuarão interditando parte do estádio.

ÁREA INTERNA DO ITAQUERÃO NÃO FOI AFETADA PELA TRAGÉDIA DE QUARTA

  • Se fez bastante estrago na fachada do estádio, a queda do guindaste deixou a área interna praticamente intocada, como mostra a foto acima. Nela, o guindaste tombado aparece no lado esquerdo, de forma quase imperceptível

ITAQUERÃO TINHA INAUGURAÇÃO PREVISTA PARA JANEIRO

  • Divulgação

    Com um custo estimado de R$ 1 bilhão, o Itaquerão tinha previsão de entrega para dezembro e inauguração para janeiro. O estádio estava com 94% das obras concluídas. O Itaquerão será sede da partida de abertura da Copa do Mundo. O Brasil fará o jogo inicial do torneio, contra adversário não definido. Para ser a abertura do torneio, o Itaquerão teve que aumentar a sua capacidade para 69.160 lugares apenas para a Copa do Mundo.

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