Lars Baron/Getty Images

O presidente sul-africano Jacob Zuma (2º esq-dir) assistiu a semifinal ao lado do príncipe herdeiro da Holanda, Willem-Alexander (cachecol laranja)

10/07/2010 - 18h03

'Algoz de africanos', Uruguai gerou torcida por ex-colonizadora Holanda

Do UOL Esporte
Em São Paulo

Os holandeses foram os primeiros colonizadores da África do Sul, mas nem por isso a população local irá torcer contra a Laranja Mecânica na final da Copa do Mundo, contra a Espanha. Pelo contrário. O fato de a Holanda ter enfrentado e vencido o Uruguai, algoz de África do Sul e Gana, fez com que os europeus ganhassem a simpatia da torcida no país organizador da Copa.

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  • Getty Images/Arte/UOL

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Quem observa o fenômeno é Phatisani Moyo, editor-chefe da sessão de esportes do jornal sul-africano Mail & Guardian, em entrevista ao diário francês Le Monde.

Moyo conta que os uruguaios já haviam gerado certa antipatia entre os sul-africanos ao vencer os Bafana Bafana na fase de grupos, por 3 a 0. Nas quartas de final, a torcida contra os sul-americanos só aumentou quando eliminaram Gana, que era então o último representante do continente africano e que pela primeira vez poderia ter colocado um representante nas semifinais.

Para piorar, os uruguaios tiraram Gana da Copa com o polêmico anti-jogo do atacante Luis Suárez, que impediu um gol certo dos ganenses ao barrar a bola com as mãos no último lance do segundo tempo da prorrogação, levando a disputa pela vaga para os pênaltis, vencida pelo Uruguai.

Isto tudo fez com que, na semifinal, os holandeses contassem com plena antipatia da torcida sul-africana com relação ao Uruguai, e angariassem, assim, o apoio das barulhentas vuvuzelas nas arquibancadas. Deu certo.

Porém, Moyo diz que a posição de boa parte dos sul-africanos no começo da Copa era outra. “No início da competição, os holandeses eram vistos como os colonizadores do país. Mas o que aconteceu nas últimas semanas mudou o sentimento que dominava. A vitória sobre o Uruguai, que virou inimigo do país, trouxe a eles bastante apoio”, atesta o jornalista.

Foi em 1652 que os holandeses fundaram a Cidade do Cabo e se tornaram os primeiros colonizadores da África do Sul, onde ficariam até 1814. A Inglaterra passou a ser a potência dominante a paritr de então, mas a Holanda deixou para trás seus imigrantes, o povo africâner, cuja língua, de mesmo nome, é hoje um dos onze idiomas falados na nação.

Os africâneres, no entanto, ficaram marcados também pela forte opressão contra os negros da África do Sul durante o Apartheid. A língua africâner, muito próxima do holandês, era de ensino obrigatório nas escolas, o que gerou diversas revoltas ao longo do século XX.

Por essas e outras que os holandeses se surpreenderam com o apoio, ainda que parcial, que tiveram dos negros sul-africanos ao longo da Copa. “Os ‘Oranje’ se mostraram surpresos pela acolhida e pela torcida aqui”, atesta Moyo, que revela ainda que, se os africâneres demonstram carinho pela Holanda, o laço histórico com os europeus “não representa nada para os negros. Nós não temos nenhuma ligação sentimental com eles, a não ser pelo bom futebol”.

Mas segundo ele, não há ressentimentos contra os ex-colonizadores. “Até porque, mesmo para os africâneres, os holandeses são vistos como primos distantes que vêm visitá-los. Eles compartilham o mesmo sobrenome – se você olhar a comunidade branca sul-africana e os jogadores da Holanda, verá alguns ‘De Jong’ e ‘Van der Vaart’ dos dois lados. Então eles são bem-vindos”, finaliza.

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