06/05/2010 - 07h01

Retranca e pressão ditatorial são armas da Coreia do Norte para o 'impossível' na Copa

Rafael Veríssimo
Em São Paulo

Ninguém espera nada da Coreia do Norte na Copa do Mundo. O desconhecido escrete do Grupo G dificilmente conseguirá tirar sequer um ponto de Brasil, Costa do Marfim ou Portugal em seus encontros na África do Sul. No entanto, são boas as chances de que o famoso locutor brasileiro solte, durante a partida de estreia da seleção de Dunga no dia 11 de junho, uma de suas célebres frases sobre equipes pequenas que complicam partidas contra grandes.

“Não há mais time bobo no futebol”. Afinal, com um preparos físico que complicou adversários como o México, os norte-coreanos têm também a equipe que, de longe, mais treinou junta entre todas as outras – a concentração começou em fevereiro.

Além disso, jogam com uma retranca que vem sido treinada há anos, estratégia que lhes assegurou uma vaga na Copa ao serem vazados apenas sete vezes em dezesseis jogos nas Eliminatórias asiáticas, que classificaram ainda Japão, Coreia do Sul e Austrália.

E principalmente, os norte-coreanos têm a responsabilidade de não decepcionar o ditador Kim Jong-Il, o que certamente os fará entrar em cada dividida como se fosse a última de suas controladas vidas.

“Os norte-coreanos mostrarão engajamento ininterrupto, lutarão até a morte e o preparo físico estará a 110% de suas capacidades”, revela ao UOL Esporte o inglês Daniel Gordon, diretor do documentário da BBC “O Jogo de Suas Vidas” (“The Game of Their Lives”, em inglês), que narra a fantástica trajetória dos norte-coreanos na Copa de 1966.

Comparada com a equipe que eliminou a Itália e quase complicou Portugal nas quartas de final do Mundial da Inglaterra, a atual seleção é mais experiente. Tem um capitão que joga há anos na Europa (Hong Yong-Jo, do Rostov da Rússia) e três outros jogadores que atuam no Japão – entre eles Jong Tae-Se, conhecido como o “Rooney Coreano”.

BOICOTE DA COPA DE 66

Para a Copa de 1966, a Fifa ofereceu apenas uma vaga para todo o continente asiático e africano, que na época somavam juntos 42 dos 100 filiados à entidade, fato que já havia gerado protestos. O estopim do boicote, porém, veio quando a Fifa incluiu no sorteio das chaves a África do Sul, em pleno regime racista do Apartheid. O órgão máximo do futebol mundial chegou a banir os sul-africanos para amenizar o conflito, mas àquela altura 15 dos 19 pleiteantes à vaga na Copa já haviam se retirado. Sobraram Austrália, Coreia do Norte e Coreia do Sul, que se negou a jogar contra os vizinhos por motivos diplomáticos, os mesmos que levaram a partida entre norte-coreanos e australianos a ser disputada no Camboja. No final, os asiáticos venceram ambas as partidas (6 a 1 e 3 a 1) e conseguiram a classificação.

“Como em 1966, eles são um time de desconhecidos, de um lugar misterioso. Mas desta vez eles se classificaram da maneira convencional, não se beneficiaram de um grande boicote para chegar ao Mundial [leia mais no Box]”, relembra Nick Bonner, produtor do documentário da BBC e dono de uma agência de turismo estabelecida em Pequim, que realiza viagens ao regime mais fechado do planeta.

“Ainda que uma repetição de 1966 esteja provavelmente além do alcance desta equipe, eles chegam mais uma vez como o elemento desconhecido, os azarões. Se conseguirem usar isso a favor deles, o raio pode cair no mesmo lugar duas vezes!”, reflete um otimista Bonner.

Amistosos

Uma amostra do que aguardam Kaká, Cristiano Ronaldo e Didier Droga pôde ser vista no último mês de março, em amistoso no qual os norte-coreanos enfrentaram o México, em Torreón. Os donos da casa venceram por 2 a 1, com um gol de falta de Cuauhtémoc Blanco e outro do recém-contratado atacante do Manchester United, Javier Hernández.

Se o gol de honra dos visitantes veio de um frango do goleiro Memo Ochoa, o placar não deixou de ser ralo, muito por conta da disciplina tática, da coesão e da velocidade dos asiáticos, segundo relato dos próprios cronistas mexicanos do canal Televisa.

O México foi o adversário mais forte que enfrentaram neste ano. Nas outras oportunidades, ficaram no 0 a 0 contra a África do Sul e contra a Venezuela fizeram dois jogos: o primeiro terminou 1 a 1 e o segundo 2 a 1 para os sul-americanos. No entanto, em momento algum os asiáticos contaram com seus principais jogadores, inclusive contra os mexicanos.

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