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Ex-jogadores da Coreia do Norte se alinham para cantar sua música-tema para a BBC

22/04/2010 - 07h03

Documentário faz encontro com heróis norte-coreanos da Copa de 1966

Rafael Veríssimo
Em São Paulo

Em frente ao imenso mausoléu dedicado a Kim Il-Sung, fundador e líder supremo da Coreia do Norte desde sua fundação, em 1948, seis senhores beirando os setenta anos de idade, quatro deles em trajes militares, depositam flores e se derrubam em sinceras lágrimas ao lembrar da morte de seu o grande e querido líder.

Pouco depois, lá estão os mesmos seis, num estádio de Pyongyang, relembrando seus momentos de glória futebolística e, como crianças que mal se agüentam ao ver uma bola, começam a petecar, rolar no gramado e trocar passes de cabeça como se vinte anos tivessem.

Liderando uma das poucas – quiçá a única – equipes de documentaristas a conseguir filmar na Coreia do Norte, um dos mais fechados regimes ditatoriais do mundo, o diretor inglês Daniel Gordon assina o filme “The Game of Their Lives” (“O Jogo de Suas Vidas”), no qual é contada a impressionante trajetória dos norte-coreanos na Copa de 66.

APÓS MILAGRE, LEVAM VIRADA HISTÓRICA

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    Os norte-coreanos abriram 3 a 0, mas permitiram a reação dos portugueses e perderam por 5 a 3

Co-produzido por Nick Bonner, dono da Koryo Tours, agência de viagens baseada em Pequim que realiza excursões à Coreia do Norte, o documentário traça toda a campanha dos Chollima até as quartas de final da Copa da Inglaterra, começando pelo jogo eliminatório contra a Austrália, realizado no Camboja por questões diplomáticas.

Sem tocar em quaisquer questões políticas, por motivos óbvios, o grande mérito do documentário é obter o relato da impressionante vitória da Coreia do Norte sobre a Itália diretamente da boca de seus principais protagonistas, os atletas.

A grande estrela entre eles é Pak Do-Ik, autor do gol da vitória por 1 a 0 que tirou a Azzurra do Mundial da Inglaterra e que fez uma das grandes potências do futebol mundial serem recebidos em casa sob chuva de tomates podres.

Ao passo que a equipe de Gordon mostra como é a vida Pak e seus colegas hoje em dia – Pak chega a dizer que até as multas de trânsito seriam poupadas caso os fiscais o reconhecessem –, os ex-jogadores narram suas aventuras em Middlesbourgh e Liverpool, numa mescla de cenas, sons e músicas captadas sob o atento olhar dos agentes de Kim Jong-Il e imagens de arquivo do Mundial de 66.

O frenesi causado pela equipe norte-coreana em pleno território inglês, do outro lado da Muralha de Ferro e no auge da Guerra Fria, compõe também um dos pontos altos do filme.

Para ilustrar, o filme conta, por exemplo, a história de um grupo de jovens que saiu de Middlesbrough, cidade que acolheu os norte-coreanos durante toda a primeira fase e que presenciou a maior zebra da história das Copas, e foi até Liverpool, portando a solitária bandeira da Coreia do Norte nas arquibancadas do Goodison Park nas quartas de final.

Neste jogo, contra Portugal, após estarem vencendo por 3 a 0 ainda no primeiro tempo, os asiáticos sucumbiram a um Eusébio em plena forma e tomaram a virada por 5 a 3.

Gordon traz em seu filme a análise completa sobre o jogo contra os lusitanos, feita por jogadores como Rim Jung Son. “Contra forte ataque dos portugueses, faltou energia e vigor para enfrentá-los. Além disso, com a nossa falta de experiência, nós não sabíamos como segurar o resultado após termos obtido três gols a nosso favor, não sabíamos como administrar nosso time eficientemente”, disse o norte-coreano às câmeras da BBC.

Mas eles já haviam atingido seu objetivo. Como contam os ex-atletas norte-coreanos, antes de partirem ao campeonato, eles se encontraram com seu querido líder, Kim Il-Sung, que os preveniu da grande dificuldade que teriam contra os ocidentais e que honrassem a pátria com pelo menos uma vitória. Não decepcionaram.

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