Veja oito lições que o Brasil pode aprender após a derrota

Roberto Shinyashiki

Roberto Shinyashiki

A vida é feita de escolhas e nós temos de assumir as consequências das nossas escolhas.

Tenho certeza de que nesse momento o Felipão está arrependido de algumas escolhas que ele fez. Alguns jogadores que convocou, outros que não convocou, a estratégia do jogo contra a Alemanha...

Assim como imagino que o técnico da Holanda passou a noite acordado se perguntando o que teria acontecido se ele tivesse trocado de goleiro para as disputas de pênalti como fez no jogo contra a Costa Rica.

A verdade é que cada um decidiu com a maior vontade de acertar e com as ideias e informações que tinha em mãos naquele momento.
Acusar depois da derrota é fácil, mas o mais importante agora é aprender com os erros. 

Na vida assim como no futebol existem infinitas formas de sermos derrotados e podemos aprender muito com cada uma delas, começando por não fazer o que faz um adolescente: procurar um único culpado para a derrota. Depois da adolescência o ser humano deveria aprender que nunca existe uma causa única para a derrota.

Perder de 7 a 1 e querer negar que o time não teve um branco durante o jogo é querer dizer para todos nós, brasileiros, que ninguém entende nada de futebol. Querer dizer que a culpa do "branco" é somente do Felipão, dos jogadores ou de um único jogador é não entender nada de vida.
Pronto. Perdemos. E perder faz parte do jogo. Perdemos feio, verdade! E perder feio faz parte da vida também!

Agora tem de se ter a coragem de olhar para as causas da derrota e enfrentá-las sem dó nem piedade.

A performance mental de um atleta não depende somente do estado psicológico dele.

Certamente uma parte depende disso e todos nós vimos que algo não estava certo no comportamento dos nossos atletas desde o começo da competição.

Mas agora temos de fazer uma reflexão sobre alguns dos problemas que tivemos: 

1 - A economia da região:

Quando a economia do lugar esta em plena atividade o clube tem uma performance melhor.

Não é por acaso que Santa Catarina tem vários clubes nas grandes divisões do futebol brasileiro e o futebol do Maranhão não decola . Não é a toa que Brasília não tem nenhum time na Série A depois que as denuncias de corrupção atingiram os negócios na capital federal. Se criarmos um ambiente propício para os negócios da vida dos clubes vai ser mais fácil.

Repetindo: não existe um fator único, pois a Argentina foi para a final, mas olha o que aconteceu com a Espanha e Portugal que eram considerados seleções importantes. 

2 - A administração geral do clube:

Um clube com problemas administrativos é um peso na cabeça dos atletas. É só observar a performance de alguns clubes quando estão em crise administrativa tais como o Fluminense no ano passado e o Palmeiras ate há pouco tempo. Não adianta mudar de técnico ou de jogadores, pois o time não tem uma boa performance .Quando lemos que um clube está com salários atrasados, pode escrever que pouco tempo depois o time vai ter uma queda de resultados .É complicado manter o foco do jogo quando não se tem dinheiro para pagar o aluguel ou a escola dos filhos. Diretores de clubes têm de aprender a abrir mão de projetos pessoais para participar de um projeto cooperativo para todo o clube ter um único objetivo.

3 - Performance dos diretores de futebol:

Em uma competição de alto nível aparecem todos os tipos de problemas. Desde quem entrega os ingressos para o jogador até o atraso inesperado do voo para o local do jogo. Chefe de delegação e equipe inexperiente ou incompetente deixam que as emergências criem a insegurança ou irritação da equipe assim como uma equipe competente transmite confiança para todos e os resultados aparecem durante o jogo.

4- Treinador 

O treinador é quem monta a comissão técnica, define a estratégia, convoca os jogadores e principalmente motiva ou desmotiva o time.

De novo a administração geral do clube é fundamental para a performance psicológica dos jogadores. Se escolher um treinador baseado em uma competência única corre o risco de deixar o time desamparado em outras.

No jogo da Holanda contra a Argentina ficou claro o comprometimento dos jogadores com a estratégia definida pelos treinadores. Certamente todos os jogadores estavam comprometidos com a estratégia de não tomar gols e jogar pela bola do jogo.

A estratégia de um jogo não pode ser definida antes do jogo. Ela tem de ser definida meses ou até anos antes do jogo. É muito arriscado mudar a estratégia do time na véspera do jogo porque a capacidade de absorção dos atletas, como de todo ser humano, é limitada.

Nas atribuições do treinador também há vários itens influenciam na performance psicológica de um atleta

5 - A convocação do atleta 

Além das competências técnicas do atleta o treinador tem de conhecer o atleta

É estranho pedir para a psicóloga fazer o perfil psicológico depois da convocação. Depois da convocação não é possível mudar a estrutura psicológica do atleta. Isso deveria ser feito antes da convocação para que fossem escolhidos os atletas para o projeto.

Na escolha dos atletas é importante que o treinador defina a sua estratégia para poder escolher os atletas com o perfil adequado. 
Não basta escolher simplesmente o atacante, mas sim qual a personalidade do profissional.

Um erro que muitos treinadores fazem é quererem trabalhar somente com atletas obedientes, com uma personalidade sem problemas.
A frase que muitos dizem é "eu quero trabalhar somente com homens de qualidade". 

Todo time precisa de jogadores bagunceiros porque na hora da pressão precisamos de atletas que criem estresse para o adversário. É só observar boa parte dos jogadores que foram campeões do mundo: Maradona, Rivellino, Vampeta, Edilson, Romário, Gérson.

Como disse João Saldanha quando foi questionado sobre as escolhas de atletas problemáticos para a seleção campeã em 70: "Eu não estou escolhendo marido para a minha filha, eu estou escolhendo atletas para uma Copa do Mundo."

A estratégia vem antes da convocação. 

6 - A estratégia influencia o estado psicológico do time:

Pudemos ver isso claramente no jogo contra  a Alemanha. Abrir o meio do campo para atacar a Alemanha fez com que tudo funcionasse para o time rival. Os alemães estavam atuando em alta performance e o grupo brasileiro desabou. 

7 - Saber orientar cada atleta para que ele tenha o melhor rendimento possível:

Imagina como se sentiu todos os jogadores que atacaram atrás do Marcelo.

8 - Saber motivar o time:

É muito comum profissionais do esporte falar com menosprezo das palestras motivacionais, mas dentro do vestiário saber falar com energia para inspirar o time a acreditar nas suas possibilidades é fundamental.

Agora é hora de aproveitar a crise que estamos enfrentando para repensar a nossa estrutura que vai desde a CBF até a escolha do novo treinador.

Como toda a contratação de um novo profissional é importante montar a lista das competências necessárias e então sair atrás do profissional. 
Se não tiver nenhum treinador em nosso país que tenha todas as qualidades desejadas devemos procurá-lo onde estiver...

Mas ainda tem um jogo que pode definir a imagem final da nossa participação nessa Copa por isso é importante deixar o jogo para a Alemanha para trás porque se entrarmos de ressaca o resultado pode ser pior.

Roberto Shinyashiki

Roberto Shinyashiki é medico psiquiatra, psicoterapeuta , escritor ,doutor em Administração e Economia (Faculdade de Administração e Economia - USP) , foi coordenador da preparação mental do EC Pinheiros e já trabalhou com seleções nacionais de varias modalidades esportivas



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