Operários da Copa no Qatar-2022 trabalham há mais de um ano sem receber
Do UOL, em São Paulo
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AFP PHOTO / Qatar 2022 committee
Visão externa do estádio Al Bayt, palco que receberá uma das semifinais da Copa de 2022, no Qatar
Trabalhadores da Índia, do Nepal e do Sri Lanka que foram ao Qatar para trabalhar nas obras da Copa do Mundo de 2022 não recebem o pagamento faz mais de um ano. Segundo relatos feitos por operários ao jornal britânico The Guardian, o governo do Qatar deve 13 meses de salários para os funcionários que trabalharam na obra da Torre Bidda, em Doha, popularmente chamada de Torre do Futebol.
A torre abriga escritórios de luxo usados pelos organizadores do Mundial, cada um deles no valor de 2,5 milhões de libras (aproximadamente R$ 9,3 milhões). Os escritórios foram equipados com móveis italianos, vidros jateados e banheiros climatizados pelos trabalhadores cujo pagamento ainda não foi feito.
Segundo o Guardian, o projeto foi encomendado pela empresa Katara Projects, do governo do Qatar, o que levanta, mais uma vez, a questão do comprometimento do país com as leis trabalhistas nas obras da Copa.
Os operários já cobraram os salários do governo, alegando ser incompreensível o atraso, já que os valores são baixos, mas nada foi feito até então. Os trabalhadores recebem, ou deveriam ter recebido, o valor equivalente a R$ 22 por dia, cerca de R$ 660 por mês.
"Não sabemos quanto eles estão gastando com a Copa do Mundo, mas nós precisamos do nosso salário", declarou um operário ao Guardian após perder um ano de pagamento. "Nós estamos trabalhando, mas não recebemos o nosso salário. Governo, empresas: apenas forneçam o dinheiro", completou.
Além disso, os imigrantes trabalham no país de maneira ilegal, já que ficaram sem documentos após a falência da empresa que os contratou, a Lee Trading and Contracting. Com medo de serem presos, eles vivem em quartos apertados, com sete pessoas em cada, e dormem em finos e sujos colchões no chão ou em beliches.
Cinco operários chegaram a ser presos pela polícia do Qatar por não possuírem os documentos que legalizam o trabalho deles no país. A questão foi levantada pela Anistia Internacional ao Primeiro-Ministro do Qatar, mas os estrangeiros continuam presos já que uma ação na Justiça contra a Lee Trading and Contracting não teve sucesso e eles não têm dinheiro para ir ao tribunal recorrer da decisão.
Segundo a Katara Projects, o contrato com a Lee Trading and Contracting foi quebrado assim que descobriram os maus-tratos aos operários e o atraso de salários. A empresa também garante ter ajudado trabalhadores a se repatriarem ou encontrarem novos empregos. "Se há trabalhadores que não foram repatriados, não conseguiram um novo emprego ou não receberam a compensação financeira, nós ficaremos felizes em levantar esforços com o Ministério do Trabalho e com o Ministério do Interior para corrigir a situação", declarou o porta-voz da empresa ao Guardian.
O caso dos trabalhadores da Torre Bidda, porém, não é isolado. Em 2012 e 2013, 70 trabalhadores da Índia, do Nepal e do Sri Lanka morreram por quedas em obras ou por serem atingidos por objetos de construção, 144 morreram em acidentes de trânsito e outros 56 cometeram suicídio, conforme os números do governo do Qatar mostram.