Saiba quais são os três sintomas de uma seleção sob pressão

Roberto Shinyashiki

Roberto Shinyashiki

  • AFP PHOTO / FRANCISCO LEONG

    Cristiano Ronaldo abalado após a goleada sofrida pela Alemanha

    Cristiano Ronaldo abalado após a goleada sofrida pela Alemanha

Em um campeonato do porte de uma Copa do Mundo é inevitável que alguns times sintam a pressão do torneio. É aí que as surpresas começam: times pequenos crescem e favoritos são eliminados e voltam para casa mais cedo. Nesses torneios rápidos a recuperação muitas vezes fica impossível...

Os três principais sinais apresentados por uma equipe quando bate a pressão são as contusões, os cartões vermelhos e os erros primários.

O primeiro jogo de Portugal foi um dos maiores exemplos de um time que sentiu a pressão: Pepe recebeu vermelho, Coentrão teve distensão muscular e a maioria dos jogadores cometeu erros básicos durante o jogo.

Quer outro exemplo? O Brasil eliminado pela Holanda na Copa da África do Sul: como é possível que Julio Cesar, o melhor goleiro do mundo na época, saia para o cruzamento parecendo um jogador inexperiente e, logo depois, Felipe Melo pise no adversário como se estivesse em uma briga de rua?

A seleção de Camarões, no jogo contra a Croácia, também pode ser citada: no papel, a diferença entre as duas seleções não seria tão grande, mas quando os camaroneses perdem a cabeça... A agressão do experiente Song sobre Mandzukic em uma jogada sem importância e, na sequência, um erro do goleiro Itandje facilitaram o segundo gol croata.

Por que isso acontece? Para compreendermos essas reações é importante conhecermos um pouco da fisiologia do medo.

Em momentos importantes, como Copa do Mundo ou Jogos Olímpicos, alguns dos atletas começam a ficar exageradamente preocupados com a possibilidade de fracassarem. A possibilidade de ter a sua imagem destruída em praça pública afeta profundamente sua capacidade de concentração.

Para identificarmos as consequências dos erros desse tipo basta olhar o que aconteceu com goleiro Julio Cesar, que foi rebaixado de jogador do Inter de Milão para o Toronto do Canadá. Também podemos analisar o que esta acontecendo com os jogadores da Espanha.

Preocupados com a possibilidade de falhar, alguns atletas começam a se sentir ameaçados, e seu cérebro fica em um estado de alerta permanente. Esse estado de alerta faz com que o indivíduo não consiga relaxar para poder descansar. A insônia toma conta dos atletas e eles entram no jogo em estado de exaustão. Lembra daqueles dias em que você participou de uma reunião importante sem ter dormido bem por vários dias seguidos?

À medida que eles vão se sentindo mais fracos aumenta ainda a sensação de que correm perigo.

Quando nos sentimos ameaçados, a tendência é de fugir ou lutar. Por isso Pepe, Felipe Melo e Song agridem fisicamente o jogador adversário enquanto outros jogadores desaparecem do jogo.

As áreas do cérebro que reconhecem a ameaça enviam estímulos ao organismo para prepará-lo para a fuga ou para a luta.

Ocorre então um redirecionamento sanguíneo, principalmente para os músculos, e por isso o rosto fica pálido (por isso seria mais adequado chamar de empalidecer do que amarelar, ou no mínimo esbranquiçar). A partir desses estímulos os músculos ficam em permanente estado de tensão.

Por isso o Coentrão tem uma distensão muscular quando faz um movimento que, em estado normal, ele faria sem problemas. Os seus músculos estavam tensos.

Essas mudanças no organismo produzem uma transformação no estado psicológico e o atleta ao invés de jogar futebol começa a ter os diálogos internos psicológicos. Em vez de estar atento ao jogo ele fica conversando consigo mesmo, tentando responder as perguntas:

E se? E se nós perdermos? E se formos eliminados? E se eu tomar um frango? E se eu jogar mal? E se eu perder o pênalti?

Enquanto o atleta fica "debatendo" com a sua mente como deveria reagir caso algo dê errado, ele começa a se distrair e então os erros primários acontecem.

Quando dois ou três atletas importantes mergulham nesse estado, eles contaminam os outros colegas e o time todo desaparece na hora do jogo.

Por que as comissões técnicas tem ajudado muito pouco os seus atletas nesse sentido?

Porque eles procuram negar o estresse desses atletas com uma pseudo-psicologia machista do tipo: "larga de bobagem, nós vamos ganhar fácil, nós temos um time melhor do que o deles, medo é coisa de pessoas fracas, pense positivo."

A negação do estresse faz com que a maioria dos atletas esconda suas inseguranças para não passar a impressão de que são fracos. Até que o medo finalmente aflore no momento mais inadequado possível: uma partida de futebol na Copa do Mundo...

Roberto Shinyashiki

Roberto Shinyashiki é médico psiquiatra, com pós-graduação em Administração de Empresas (MBA - Universidade de São Paulo) e doutorado em Administração e Economia (Faculdade de Administração e Economia - USP). É também Consultor e orientador de altos executivos de empresas dos setores público e privado



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