Jornal inglês relata prostituição infantil nos arredores do Itaquerão
Do UOL, em São Paulo
O jornal inglês "Mirror" publicou uma extensa reportagem escrita por Matt Roper relatando casos de prostituição infantil nos arredores do Itaquerão, palco da abertura da Copa do Mundo de 2014 e de uma partida da Inglaterra na fase de grupos. Segundo a publicação, garotas de 11 a 14 anos cobram entre R$ 10 e R$ 15 para manter relações sexuais com trabalhadores da obra do estádio.
A publicação ressalta a disparidade da obra que custará mais de R$ 800 milhões localizada em uma área pobre de São Paulo, repleta de favelas e que favorecem, segundo o "Mirror", a prática ilegal a preços irrisórios. A Inglaterra joga contra o Uruguai no dia 19 de junho.
O "Mirror" entrevistou algumas garotas que se prostituem e uma delas é Poliana, de 14 anos. Segundo a menina, ela é uma das mais velhas e realiza os programas em um hotel próximo ao estádio ou até mesmo em sua casa.
Poliana disse que entrou no mundo da prostituição por falta de opção após a morte da sua mãe.
"Foi na noite em que minha mão morreu. Eu tinha sido tentada a me prostituir antes – algumas amigas meus estavam fazendo e queriam que eu também o fizesse. Mas quando ela morreu, eu perdi o controle. Eu saí na rua naquela noite e não sabia como iria encontrar dinheiro para comer ou pagar o aluguel. Não demorou muito para encontrar pessoas que querem pagar. Havia um monte de homens do estádio querendo sexo", disse Poliana ao jornal inglês.
Outra garota ouvida pela publicação foi Thais, de 16 anos. Viciada em crack, ela faz cerca de 15 programas por dia. "Quase todos os meus clientes são da obra. Eles sempre pagam, mas nem sempre me tratam bem", revelou.
As duas esperam lucrar ainda mais no ano que vem pela presença de turistas estrangeiros na região para os jogos no Itaquerão durante a Copa do Mundo. A expectativa é cobrar até R$ 50 reais pelo programa.
Segundo o jornal, foi instalado um inquérito para investigar as diversas denuncias que chegaram à Câmara Municipal. O vereador Laércio Benko, presidente da comissão, teme que São Paulo pode se tornar um centro de prostituição antes do início da Copa.
"São Paulo não está organizada para evitar esse tipo de exploração sexual infantil. Não agora e muito menos durante grandes eventos como a Copa do Mundo de 2014. O que ouvimos são acusações muito graves e que exigem respostas, mas tenho medo de que exista uma falta de vontade política para chegar ao fim", analisou Benko.
O "Mirror" também revelou uma pesquisa, feita pela própria publicação, realizada nas outras cidades-sedes do Mundial. Foram ouvidos cerca de 300 trabalhadores envolvidos nas obras e 57% admitiu a existência de prostituição infantil no entorno dos canteiros, enquanto 25% afirmaram já ter pago para ter relações com menores.
Procurada pelo jornal, a Odebrecht, empresa responsável pela obra do Itaquerão, relatou que não foi notificada das acusações de abuso infantil e desconhece qualquer informação.