O maior legado que a Copa do Mundo deixaria para a população de Porto Alegre deve ser excluído da lista de projetos do Mundial de 2014. A prefeitura da capital gaúcha desistiu de entregar antes do início do torneio os três BRTs (Bus Rapid Transit) prometidos para o evento. Após atrasos nas obras, os novos ônibus de alta capacidade só devem começar a circular por corredores exclusivos em construção na cidade em outubro do ano que vem, três meses após a Copa.

Esse, pelo menos, é o novo prazo com o qual trabalha a administração municipal. Vale ressaltar que, quando a construção dos três BRTs foi anunciada, em janeiro de 2010, a prefeitura havia firmado um compromisso de entregar todos eles até junho deste ano. Hoje, a obra do corredor mais adiantado (BRT Bento Gonçalves) está 85% concluída.

Os BRTs seriam as "estrelas" de uma proposta de transformação do sistema de transporte de Porto Alegre para a Copa do Mundo. Visando ao Mundial, a capital gaúcha elaborou um plano audacioso de melhorias de mobilidade urbana e o incluiu na chamada Matriz de Responsabilidades da Copa, lista de todas as obras que estão sendo tocadas para o torneio.

Porto Alegre, aliás, foi a cidade-sede da Copa que mais inclui projetos de mobilidade nessa matriz. Ao todo, foram dez.

Todas as obras estão orçadas em R$ 887,9 milhões atualmente. Só os três BRTs devem custar R$ 195 milhões. No entanto, nem tudo o que é necessário para que o novo sistema de ônibus esteja funcionando já foi providenciado pela prefeitura. É justamente por isso que as linhas não estarão em operação durante o Mundial.

A administração municipal dividiu a construção dos BRTs. Os corredores com pavimento diferenciado para o tráfego dos ônibus foram contratados primeiro. A construção dos novos pontos de parada e a escolha das companhias que vão operar o novo serviço foram deixadas para depois. Acontece que as obras dos corredores atrasaram, e isso mudou todo o planejamento do sistema.

Hoje, a prefeitura de Porto Alegre ainda trabalha nos projetos dos pontos de parada e dos terminais que atenderão aos BRTs. Quando os projetos estiverem prontos, as obras serão licitadas.

Futuramente, a prefeitura ainda abrirá uma concorrência para escolher quatro empresas que operarão as linhas de BRT. "A operação mesmo ficará para outubro de 2014", afirmou o diretor-presidente da EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre), Vanderlei Cappellari, em entrevista ao UOL Esporte.

Cappellari culpou problemas para desapropriações e corte de árvores pelo atraso no cronograma de obras dos BRTs. Disse também que os projetos acabaram levando mais tempo que a prefeitura espera para serem aprovados pela Caixa Econômica Federal e conseguirem um financiamento com baixos juros.

O presidente da EPTC ressaltou, entretanto, que os BRTs não farão falta para a Copa. Segundo ele, a própria Fifa aprovou o plano de mobilidade de Porto Alegre para o Mundial já sabendo que o sistema não estará operando. Cappellari afirmou que obras consideradas essenciais pela entidade serão concluídas a tempo.

Já sobre o legado que o torneio deixaria, Cappellari reconhece que o resultado não será o esperado. Contudo, disse que as obras dos BRTs seguirão em ritmo acelerado para que o sistema esteja operando o quanto antes, com qualidade. "Preferimos entregar um sistema funcionando a fazer algo com pressa", explicou. "Não vamos atropelar uma etapa por causa da Copa."