De olho no cofre

Seis dos 14 hotéis financiados para Copa não funcionarão no Mundial

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

  • Divulgação/Grupo EBX

    Maquete mostra Hotel Glória, cuja obra é financiada pelo BNDES e será concluída em 2015

    Maquete mostra Hotel Glória, cuja obra é financiada pelo BNDES e será concluída em 2015

Dias depois de a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) informar que o preço de uma diária em um hotel brasileiro subirá até 583% na Copa do Mundo de 2014, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, foi questionado sobre o assunto. Sereno, ele disse em entrevista no Rio de Janeiro que o governo criara anos atrás uma linha de crédito especial justamente para impulsionar investimentos no setor hoteleiro visando ao Mundial. Segundo ele, esses investimentos aumentariam a oferta de leitos para turistas que viajarão pelo país, e isso evitaria aumentos abusivos no valor nas diárias durante o torneio.

De fato, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem uma linha de financiamento para obras em hotéis desde 2010: a ProCopa Turismo. Acontece que mais de um terço das empresas que conseguiram um empréstimo para construir ou reformar um hotel pela linha criada para o Mundal só vai entrega-lo após o torneio.

Faltando menos de dez meses para o início da Copa, 14 projetos de expansão da rede hoteleira já conseguiram mais de R$ 900 milhões em financiamentos com juros abaixo do mercado com o banco estatal. No entanto, pelo menos seis desses projetos só vão ser entregues após o início do Mundial ou até meses depois do término dele (veja tabela abaixo).

Os maiores projetos hoteleiros financiados por meio do ProCopa Turismo, aliás, não estarão prontos até a Copa. A construção de um hotel da rede Hyatt na zona oeste do Rio de Janeiro, por exemplo, que está sendo apoiada com um financiamento de quase R$ 300 milhões, só deve estar concluída em abril de 2015 –nove meses após o Mundial.

Mais atrasada ainda deve ser a entrega da reforma do Hotel Glória, que também fica no Rio. A obra é um empreendimento do ex-bilionário Eike Batista. O BNDES emprestou R$ 190 milhões ao empresário, que prometeu reabrir o hotel em abril de 2014. Após a crise que abateu o grupo X, porém, a reforma praticamente parou e agora só deve acabar em maio de 2015.

Assim como o Hotel Glória e o Hyatt, o Hilton do Rio, o Ibis de Natal, o Hotel Tulip Inn de Itaguaí (RJ) e o Ibis Budget de Porto Alegre também conseguiram financiamento, mas tem abertura marcada para após a Copa.

CONHEÇA AS OBRAS EM HOTÉIS FINANCIADAS PELO BNDES

Hotel Local Financiamento Abertura
Grand Hyatt Barra Rio de Janeiro R$ 298,5 milhões Abril de 2015
Hotel Glória Rio de Janeiro R$ 190,6 milhões Maio de 2015
Hotel Hilton Rio de Janeiro R$ 118,5 milhões Final de 2014
Hotel Grand Mercure Rio de Janeiro R$ 87 milhões Maio de 2014
Cidade do Romeiro Aparecida (SP) R$ 32,5 milhões Concluído
Mar Hotel Recife, do Hotel Atlante Plaza e do Summerville Beach Resort Porto de Galinhas (PE) R$ 32 milhões Janeiro de 2014
Hotel Linx Galeão Rio de Janeiro R$ 27,7 milhões 2º sem de 2013
Hotel Ibis Budget Porto Alegre R$ 22,9 milhões 2º sem de 2014*
Hotel Ibis Botafogo Rio de Janeiro R$ 20,3 milhões Concluído
Hotel Tulip Inn Itaguaí (RJ) R$ 19,6 milhões Setembro de 2014
Tivoli Ecoresort Salvador R$ 16,4 milhões Concluído
Hotel Sotero Salvador R$ 15,1 milhões Concluído
Hotel Ibis Copacabana Rio de Janeiro R$ 11,6 milhões Concluído
Hotel Ibis Natal  Natal R$ 10 milhões Março de 2015
Total   R$ 902,7 milhões  
  • *Previsão do BNDES

Todos eles conseguiram mais de R$ 660 milhões em empréstimos, ou seja, cerca de 65% do total já aprovado pelo BNDES para hotéis. Oito projetos financiados pelo banco que ficarão prontos para a Copa conseguiram R$ 242 milhões, o que dá 27% do montando emprestado.

Em nota, o BNDES informou que, para ele, o prazo de conclusão dos projetos não importa para a concessão do crédito. "O BNDES não financia hotéis para a Copa do Mundo, mas para o Brasil", resumiu o banco, em comunicado ao UOL Esporte.

O BNDES explicou que o ProCopa Turismo surgiu, sim, da escolha do Brasil como sede do Mundial de 2014 e da Olimpíada de 2016. Contudo,  o banco vê esses eventos como "catalisadores" dos investimentos turísticos no país, não como simplesmente geradores de uma demanda emergencial por leitos. Na visão do BNDES, o mais importante é elevar a qualidade dos hotéis brasileiros para o futuro, não garantir que os turistas tenham quartos só na Copa.

Sobre os preços das diárias nesses grandes eventos, quem falou foi o ministro Aldo Rebelo. Ele afirmou que o governo acompanha essa questão. Segundo ele, se os investimentos no setor não forem suficientes para moderar os reajustes, será o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) quem garantirá tarifas razoáveis.

"Já temos acompanhado essa questão via Ministério da Justiça, como Cade (Conselho Administrativa de Defesa Econômica) e a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo)", afirmou ele, na mesma entrevista coletiva do Rio.

*Atualizada às 19h30

Obras da Copa
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