Paulo André e Raí 'apertam' Marin sobre mudanças no futebol brasileiro
Guilherme Costa e Rodrigo Mattos
Do UOL, em São Paulo
Em um evento marcado pela adulação ostensiva, o presidente da CBF, José Maria Marin, encontrou no zagueiro Paulo André um grande opositor. O jogador do Corinthians questionou duramente o dirigente nesta sexta-feira, cobrou mudanças na gestão dos clubes brasileiros e colocou o mandatário da entidade esportiva em visível desconforto. Na resposta, até a exportação de atletas virou argumento para defender a gestão da instituição nacional. Em alguns momentos, o ex-jogador Raí reforçou a ofensiva do corintiano por esclarecimentos.
Marin participou nesta sexta-feira do Fórum Nacional do Esporte, evento organizado pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais). Ele foi apresentado sob elogios, e o tom de bajulação ficou ainda mais intenso quando o presidente da CBF passou a palavra a Ricardo Trade, diretor de operações do COL (Comitê Organizador Local) da Copa do Mundo de 2014.
Depois, o presidente da CBF fez um pequeno debate com Paulo André e Raí. O tom do evento mudou radicalmente a partir desse momento, sobretudo por causa das intervenções do zagueiro.
Quando Paulo André foi convidado a fazer a primeira pergunta do debate, Marin havia acabado de enaltecer a campanha da seleção brasileira na Copa das Confederações. "Ganhamos, mas o nosso futebol vive uma crise existencial. Isso ficou claro nas viagens de dois times para o exterior recentemente. Nós não vemos nenhuma ação da CBF ou dos clubes nesse sentido, mas é nítida a distância. Queria saber quais são os planos do país para se aproximar de novo do futebol que é praticado lá fora", questionou o defensor.
"Você tem de entender que o Brasil tem uma grandeza territorial que cria um cenário diferente. Se você pegar um avião e for para o Amazonas, vai viajar quatro horas e ainda vai falar português. Na Europa, com o mesmo tempo de voo você passa por vários países e idiomas. Por isso, por exemplo, não podemos ajustar o calendário", teorizou Marin. "Quanto ao futebol nacional, tivemos uma vitória categórica da seleção sobre a atual campeã do mundo. Temos hoje em dia a Série B quase tão boa quanto a Série A, e estamos investindo muito na Série D. Só temos uma dificuldade maior por causa da questão territorial", completou o dirigente.
Marin ainda usou a exportação de atletas como argumento para defender o atual momento do futebol brasileiro: "Muita gente aqui não vai saber onde o Hulk jogou. O outro rapaz do Atlético não jogou nem meio tempo na seleção e foi negociado. Isso prova que o futebol brasileiro é bem conceituado".
Nesse momento, Paulo André interveio e respondeu: "O futebol brasileiro é bem conceituado porque é pentacampeão mundial, mas todos nós sabemos que há uma necessidade de evoluir. Subsidiar a Série D do Campeonato Brasileiro em vez de capacitar os clubes que fazem o futebol nacional?".
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Paulo André ainda usou uma história pessoal para fundamentar a argumentação. "Eu joguei a sexta divisão do Campeonato Paulista pelo Águas de Lindoia e ganhava R$ 180 por mês. O futebol brasileiro precisa evoluir para uma gestão de século 21", cobrou o defensor.
"Subsidiar a Série D gera empregos e oportunidades. Temos as comissões técnicas de todas as equipes, por exemplo. Também investimos nas seleções de base, e temos um técnico que já foi jogador. Ele teve conquistas", afirmou Marin em alusão ao treinador Alexandre Gallo.
Depois do bate-boca com Paulo André, Marin foi questionado por Raí. Menos incisivo do que o zagueiro, o ex-jogador perguntou sobre a relação da CBF e do COL com patrocinadores da Copa do Mundo de 2014, a transparência na gestão do evento e a responsabilidade de clubes e CBF na formação de garotos.
Raí sugeriu que a CBF procurasse entidades sociais e desenvolvesse um regulamento básico para categorias de base no futebol. Marin disse que a instituição esportiva não pode interferir na gestão dos clubes, e então começou a citar jogadores revelados no futebol nacional.
"Mas não é uma questão técnica, presidente. É uma questão de responsabilidade sobre o garoto. Os meninos das categorias de base moram nos clubes, mas não existe nenhuma regra básica para lidar com eles", contestou Raí.
Quando debateu com os atletas, Marin tergiversou o quanto pôde. O presidente da CBF evitou qualquer postura enfática – por exemplo, ele não admitiu brigar pela sugestão proposta por Raí.