Governo do CE admite insegurança no Estado e promete criar "centrais de flagrantes" para Copa

Roberto Pereira de Souza

Do UOL, em Fortaleza (CE)

  • Almeida Rocha/Folhapress

    Plano nacional para a Copa prevê a capacitação de 40 mil agentes de segurança

    Plano nacional para a Copa prevê a capacitação de 40 mil agentes de segurança

A segurança pública em Fortaleza (CE) foi apontada como o ponto mais frágil na organização da Copa do Mundo de 2014 e da Copa das Confederações (junho de 2013). O levantamento foi feito durante debates do comitê que acompanha as obras dos eventos da Fifa (CapCopa), na Assembleia Legislativa do Estado, na última sexta-feira.

SEGURANÇA NA COPA de 2014

  • Arte/UOL

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Um dado foi debatido com certa indignação pelos presentes: faltam delegacias policiais distritais em Fortaleza, e entre as que existem, a maioria não funciona em fins de semana.
Para resolver o problema, a Secretaria de Segurança Pública "pretende criar uma central de flagrantes para aliviar a demanda nos DPs", anunciou o  delegado Andrade Jr, que representava a pasta da segurança. Ele detalhou em lâminas digitais os investimentos do governo estadual na área: "teremos capacitação de 2.000 policiais para a Copa do Mundo, e já investimos cerca de  R$ 24,5 mihões em prédios e equipamentos", disse o delegado.

O deputado estadual Ferreira Aragão (PDT/CE) criticou o padrão de segurança pública praticado em Fortaleza: "Segurança é nosso calcanhar de Aquiles para a nossa vida na cidade e para os eventos da Fifa", sentenciou.

Já nas palavras do presidente do comitê, deputado Danniel Oliveira (PMDB-CE). "o nome do Brasil ficará visado no exterior e os visitantes é que irão levar essa imagem. Essa Copa será um divisor de águas para o País".

Estado Policial?

O detalhamento dos investimentos milionários na repressão policial não foi suficiente para satisfazer o representante da Central Única das Favelas (Cufa) no Ceará, conhecido por Preto Zezé, que participa do CapCopa.

"Estão querendo montar um estado policial para a Copa do Mundo e isso não vai resolver o problemas de menores viciados em crack, pegos em arrastões nos semáforos da cidade", criticou o líder comunitário, durante o encontro.

Com base nos dados de investimentos milionários feitos pelo Governo do Estado isoladamente ou em convênio com o Governo Federal, Preto Zezé foi ainda mais incisivo, olhando para o delegado e para o representante da Guarda Municipal: "Nunca se investiu tanto em carros de polícia, em pistolas automáticas, a laser,  em munições, coletes, equipamentos de monitoramento...Mas também é verdade que nunca se matou tanta gente em nossa cidade, apesar desses investimentos", afirmou, sem, no entanto, apresentar dados estatísticos que sustentassem seu discurso.

Obras para a Copa de 2014
Obras para a Copa de 2014

Apartheid cearense

"Temos uma população vulnerável na cidade, não apenas idosos...Temos viciados adolescentes, abandonados. Um estado policial pode "higienizar"a cidade para tirar essa gente da vista da imprensa estrangeira, mas não teremos legado social a comemorar, porque essa população excluída continuará após a Copa a fazer a mesma coisa", previu Zezé. "Não teremos legado social, vivemo em um apartheid social aqui (ideologia racista praticada oficialmente na África do Sul, antes da presidência de Nelson Mandela (de 1994-1999).

Para finalizar seu discurso, Preto Zezé lembrou ainda que um policial militar teria lhe confessado que "não sabia mais o que fazer com os menores apreendidos pela cidade. "Não temos para onde levá-los e não podemos ajudá-los com o estamos fazendo", teria confidenciado o PM.

"Este policial sozinho", continou Zezé, " montou uma estrutura para ajudar esses menores porque o Estado é omisso nesse atendimento. Há superlotação desumana nas unidades sociais.  Essas crianças e adolescentes ficarão mais velhos e serão mortos em confronto com a polícia", previu com amargura o líder comunitário. O delegado Andrade Jr não teve como contestar as elegações de Preto Zezé.

Ao passar a palavra de volta para o deputado Daniel Oliveira (PMDB/CE) que preside o  Comitê da Copa,  Zezé repreendeu o parlamentar, que usou a expressão "situação negra" para se referir aos menores, aos homicídios e à insegurança na cidade. "Fala isso, não,  deputado. Faz isso não, use outra palavra", pediu o presidente da Cufa.

Constrangido, o deputado gaguejou, sem encontrar um sinônimo para a expressão e foi ajudado pelo próprio Zezé: "use situação difícil, deputado, não use a palavra negra".

Castelão

Feliz com a instalação das traves, o chefe da Secretaria Especial da Copa (Secopa-CE), Ferruccio Feitosa, saiu do debate antes dos apartes mais ácidos. A arena Castelão será entregue no próximo dia 16, com a presença da presidente Dilma Rousseff.

Em sua exposição, Feitosa exibiu fotos dos banheiros do estádio, das traves, do gramado, da cobertura e da pele de vidro: "Esta semana devemos instalar os placares eletrônicos de mais de 90 metros quadrados cada um", celebrou com orgulho. Feitosa informou também que todas as sedes da Copa receberão investimentos totais de "cerca de R$ 2 bilhões em mais uma ação financeira do Governo Federal,  para  melhorar a segurança dessas cidades".

O Comitê de Acompanhamento da Copa é composto por deputados, policiais de alto escalão, por um membro do Ministério Público do Estado, por um representante da Justiça Federal e por  todos os envolvidos em obras de mobilidade urbana e aeroportuária.

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