Empresa de Eike discute novo Maracanã em reunião com governo antes de licitação
Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio de Janeiro
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Ismar Ingber/Divulgação
Presidente da IMX, Alan Adler (centro), junto com Eike Batista e presidente da IMG: interessados no Maracanã
O governo do Rio de Janeiro ainda não lançou o edital de licitação do Maracanã, mas um represente seu já participou de uma reunião com a IMX, companhia do bilionário Eike Batista, e dirigentes esportivos para discutir o que será feito do complexo esportivo do estádio após sua privatização. O vencedor da licitação administrará o Maracanã por 35 anos.
PRESIDENTE DA IMX DEIXA MARACANÃ
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Vídeo obtido com exclusividade pelo UOL mostra o presidente da IMX, Alan Adler, deixando o complexo esportivo do Maracanã após uma reunião com representante do governo e o presidente da CBDA (Confederação Brasileiro de Desportos Aquáticos), Coaracy Nunes. Nunes disse que Adler e ele falaram sobre a privatização do Maracanã.
A IMX já declarou que quer assumir o Maracanã. A companhia é parceira da multinacional IMG Worldwide. Formalmente, o consórcio formado pela IMX e a IMG disputará o controle do espaço com qualquer outra empresa que atender requisitos do edital da privatização.
Contudo, enquanto o governo prepara esse edital, a IMX participou de uma reunião com gente do próprio governo justamente para falar sobre seus projetos para o Maracanã. Essa reunião foi realizada na tarde de sexta-feira, dia 26, no Parque Aquático Julio Delamare. O parque fica ao lado do estádio e também será privatizado.
O encontro contou com a presença do presidente da IMX, Alan Adler, o presidente da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), Coaracy Nunes, e o presidente da Farj (Federação Aquática do Rio de Janeiro), Marcos Firmino. Coaracy Nunes e funcionários do parque confirmaram ao UOL Esporte a presença de um representante do Estado, mas o nome dele não foi revelado. O governo estadual nega a participação no encontro (leia nota abaixo).
Vídeo cedido ao UOL Esporte pelo Comitê Popular da Copa do Rio mostra Alan Adler deixando o Julio Delamare após esse encontro. No vídeo, ao ser questionado sobre a reunião, o executivo evita dizer que trabalha no grupo EBX, de Eike Batista. Afirma que se reuniu com Coaracy na condição de ex-atleta.
Adler foi campeão mundial de iatismo em 1989 e 2006, e medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de 2003, em Santo Domingo, República Dominicana. Como esportista, o agora executivo foi vinculado à CBVM (Confederação Brasileira de Vela e Motor). Coaracy preside a confederação responsável pela natação, nado sincronizado, saltos ornamentais e outros.
Obras no Maracanã
Em entrevista ao UOL Esporte, Coaracy disse, a princípio, que não tinha informações sobre a privatização do Maracanã e do Julio Delamare. Contou que havia passado alguns dias fora do país e que não havia tido a oportunidade de se inteirar sobre a proposta de concessão do complexo esportivo.
O UOL Esporte, então, recordou o dirigente sobre a reunião do dia 26 de outubro. A lembrança refrescou a memória de Coaracy, que disse não ter falado sobre esportes com Adler na ocasião. O dirigente afirmou que tratou do futuro do Julio Delamare após a privatização do Maracanã.
"Recebi o pessoal do governo e da IMX rapidamente. Eles vieram nos dar uma satisfação sobre o que vai ser feito do Julio Delamare", revelou o dirigente.
Questionado sobre o fato de representantes do governo do Rio de Janeiro tratarem da privatização do Maracanã na presença do presidente da IMX sabendo que a empresa é declaradamente concorrente no processo que definirá o administrador do complexo, Coaracy respondeu: "prefiro não ver fantasma onde não há fantasma. Não vi nada anormal."
Marcos Firmino, da Farj, também confirmou o encontro com o pessoal do "consórcio que deve ficar com o Maracanã". Segundo ele, gente ligada à atual administração do estádio, que ainda é tocado pelo Estado, também esteve na reunião.
PRIVADO POR R$ 7 MILHÕES POR ANO
A IMX, em nota, confirmou a reunião. Informou também que considera "natural" a empresa participar de encontros com "envolvidos" na privatização do Maracanã já que ela quem fez os estudos de viabilidade econômica do projeto.
"A IMX foi a única empresa a apresentar um estudo de viabilidade para o complexo do Maracanã, fato que já é público. Nessa condição, é natural que representantes da empresa consultem envolvidos no projeto", informou a companhia.
O referido estudo foi entregue ao governo do Rio de Janeiro em abril. Desde então, é considerado um documento "reservado". Por esse motivo, nunca foi divulgado.
De acordo com o secretário estadual da Casa Civil, Regis Fitchner, o documento serviu como base para a elaboração da proposta do governo para a privatização do Maracanã. Foi repassado pela IMX pronto. O governo pode acolher integralmente ou parcialmente as sugestões contidas nele.
Fitchner explicou no dia em que o governo apresentou o projeto estadual de Maracanã que a definição do edital da privatização do estádio é de reponsabilidade exclusiva do Estado. A IMX não participaria disso até para não ter informações privilegiadas sobre a concorrência que ela disputará.
O presidente da Comissão de Direito Administrativo da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo), Adib Kassouf Sad, afirmou que a reunião entre IMX e governo, em si, não é ilegal. Ressaltou, porém, que o fato de ela ter sido reservada e contar com a presença de apenas uma empresa concorrente pode levantar suspeitas.
"Nenhum concorrente de uma licitação pode ter informações privilegiadas", afirmou Sad. "Por isso, reuniões reservadas entre o governo e uma concorrente devem sempre ser evitadas. Elas não são transparentes."
Segundo Fitchner, as únicas informações que a IMX tem acesso garantido são as que já foram publicamente divulgadas. A companhia, como qualquer outra, também pode participar da audiência pública sobre a privatização que acontece nesta quinta-feira, às 18h, no Galpão da Cidadania, região portuária do Rio de Janeiro.
Sobre a reunião, confira a íntegra da nota do Estado enviada ao UOL Esporte.
"O Estado não participou da mencionada reunião. O Estado não tem comentários a fazer sobre uma suposta reunião do presidente da IMX com o Sr. Coaracy Nunes, até porque não compete ao Estado interferir nas eventuais conversas mantidas por possíveis empresas participantes da licitação com terceiros".