Empresários contestam trabalho voluntário na Copa e querem impedir programa da Fifa
Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio de Janeiro
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Divulgação
Trabalho voluntário na Copa do Mundo foi tema de uma audiência na Câmara dos Deputados
A Fifa deve abrir em agosto as inscrições para seu programa de voluntariado para a Copa do Mundo de 2014. A entidade espera contar com até 18 mil pessoas que doarão até dez horas de trabalho por dia para ajudar na realização do Mundial do Brasil.
Para o Comitê Organizador Local da Copa (COL), o programa de voluntários do Mundial é uma das melhores formas pôr o torneio em contato com o maior número de pessoas possível. Entretanto, empresários brasileiros não concordam com a iniciativa e contestam a ação da Fifa.
Segundos eles, a Fifa ganhará bilhões de dólares com a realização da Copa do Mundo no Brasil. Não é justo, portanto, que a federação internacional de futebol recrute 18 mil pessoas para trabalhar sem qualquer remuneração durante o torneio. Muito menos que ela seja a única entidade da iniciativa privada que obtém lucros no país e ao mesmo tempo pode usar o trabalho voluntário.
Isso é o que diz, por exemplo, Ermínio Alves Lima Neto, representante da Federação Nacional das Empresas de Serviços e Limpeza Ambiental (Febrac). Em entrevista ao UOL, ele afirmou que o Brasil tem uma lei sobre trabalho voluntário. A lei 9.608/1998 deixa claro que só entidades públicas ou instituições privadas sem fins lucrativos podem recrutar trabalhadores e não remunerá-los.
Por causa da Copa do Mundo de 2014, no entanto, essa regra foi alterada. A Lei Geral da Copa, sancionada em junho pela presidente Dilma Rousseff, abriu a possibilidade de a Fifa, suas subsidiárias e o COL usarem o trabalho voluntário, independentemente de seus lucros.
"É inaceitável o Brasil autorizar que 18 mil pessoas trabalhem até dez horas por dia a troco de um lanche e um uniforme. A Fifa não precisa disso", argumentou Lima Neto. "O Brasil deveria dar exemplo para o mundo e acabar com essa prática."
De acordo com o balanço da Fifa referente ao ano de 2011, a Copa do Mundo de 2014 já rendeu um faturamento de cerca de R$ 1,6 bilhão para a entidade. Só de lucro a Fifa teve no ano passado aproximadamente R$ 68 milhões.
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Para o deputado federal Laercio Oliveira (PR-SE), esses dados mostram que a Fifa tinha é que contratar trabalhadores e não recrutar voluntários. Oliveira também é empresário e presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Setor de Serviços. Ele promoveu uma audiência pública na Câmara dos Deputados para falar do voluntariado na Copa. Nela, ele criticou a iniciativa.
Como deputado, Oliveira disse ainda que pretende agir para impedir o programa. "Já pedi uma audiência no Ministério do Trabalho e vou acionar o Ministério Público", afirmou ele. "Se a Fifa quer organizar um evento no Brasil, tudo bem. Mas que arque com os custos disso."
O UOL procurou o Ministério do Trabalho na última terça-feira para ouvir a posição do órgão sobre o programa de voluntários da Copa do Mundo. Até a publicação desta reportagem, ninguém do ministério havia se posicionado sobre a questão.
O COL também foi procurado. O órgão informou que seu programa de voluntariado está de acordo com a legislação brasileira. Informou também que ele segue padrões adotados pela Fifa em outros países que sediaram a Copa e por outros grandes eventos, esportivos ou não.
O COL ainda disse que todos os voluntários passarão por treinamentos, que ajudarão na qualificação profissional de trabalhadores. Também ressaltou que o programa de voluntariado da Copa deixará como legado para o Brasil a ampliação da cultura desse tipo de trabalho.
Confira a íntegra da resposta do COL sobre o trabalho voluntário na Copa de 2014:
"O Comitê Organizador Local (COL) acredita que o programa de voluntários é um dos principais responsáveis pela atmosfera de celebração, integração e intercâmbio cultural que faz da Copa do Mundo da FIFA um evento tão especial. O programa tem a capacidade de ampliar a experiência da Copa do Mundo da FIFA a um público muito maior que jogadores, técnicos e público presente no estádio, incluindo e integrando diferentes culturas, idades, países e camadas sociais, além de pessoas com deficiências. A enorme procura nos últimos programas de voluntários da Copa do Mundo da FIFA mostra o interesse de pessoas do mundo todo por uma experiência que, embora não remunerada, representa uma satisfação pessoal inigualável. Esse sucesso pode ser observado não apenas na Copa do Mundo da FIFA, mas também em diversos outros grandes eventos de porte internacional, esportivos ou não. É importante lembrar que as áreas para os quais os voluntários prestarão serviço durante a Copa das Confederações da FIFA e a Copa do Mundo da FIFA envolvem orientação aos fãs e à mídia, serviço de idiomas, transporte, protocolo, entre outras. Os voluntários passarão por um período de treinamento, elaborado de acordo com a função que irão exercer. O COL acredita que o programa de voluntários capacitará milhares de pessoas para eventos futuros e, em muitos casos, impactar positivamente a vida profissional dos participantes. Como legado, o COL tem confiança de que ficará ainda a ampliação da cultura do voluntariado, fazendo com que a Copa do Mundo da FIFA seja a primeira de outras experiências que virão para os moradores de um país que se posiciona cada vez mais no roteiro de grandes eventos internacionais."