Valcke tem recepção fria em sua primeira viagem ao Brasil após "chute no traseiro"
Ricardo Perrone e Vinicius Konchinski
Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro
-
Fabrice Coffrini/AFP
Jérôme Valcke perdeu espaço em negociações sobre a Copa após críticas ao Brasil
A divulgação do slogan da Copa do Mundo de 2014, "Juntos num só ritmo", serviu de motivo para a primeira viagem do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, ao Brasil após o episódio do "chute no traseiro". O francês chegou na segunda-feira ao Rio de Janeiro e tem um compromisso na cidade nesta terça-feira. Seu tratamento no Brasil, porém, nem de longe lembra o de suas visitas anteriores ao país.
Antes recepcionado quase como uma autoridade em suas viagens à cidades-sede da Copa, Valcke, desta vez, participará de um único evento público em sua volta ao Brasil. O secretário-geral da Fifa estará nesta manhã na entrevista coletiva de divulgação da tabela da Copa das Confederações de 2013, promovida pelo Comitê Organizador Local da Copa (COL).
RELEMBRE A POLÊMICA
-
No início de março, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, afirmou que os organizadores da Copa de 2014 precisavam de um "chute no traseiro". A declaração criou uma crise entre Fifa e governo federal. O ministro Aldo Rebelo chegou a pedir o afastamento de Valcke das negociações sobre a Copa, mas depois aceitou as desculpas do francês
Nenhuma reunião com membros do governo brasileiro consta da agenda de Valcke nesta viagem. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, por exemplo, não pretende discutir com o representante da Fifa nenhum assunto relacionado ao Mundial enquanto ele estiver no Brasil.
Nos bastidores, sabe-se que Valcke não é mais um interlocutor bem visto pelo governo federal depois de ter tido que os organizadores da Copa de 2014 precisavam de um "chute no traseiro". Apesar do ministro Rebelo ter afirmado publicamente que o desculpou por essas declarações, Valcke perdeu espaço nas discussões sobre o Mundial, obrigando o presidente da Fifa, Joseph Blatter, a assumir as negociações do assunto.
Rejeitado pelo governo federal, Valcke agora não recebe mais tanta atenção também de governos locais. Nem o prefeito do Rio, Eduardo Paes, nem o governador do Estado, Sérgio Cabral, pretendem recebê-lo em sua volta ao Brasil.
Depois do que Valcke afirmou, governantes locais temem que uma aproximação com o secretário-geral da Fifa possa parecer um "desacato" à decisão da presidente Dilma Rousseff isolá-lo. Por isso, todos preferem tratá-lo com a mesma frieza do governo federal.
Por todo esse clima, Valcke chega ao Brasil mais quieto do que em outras ocasiões. Antes de suas viagens ao Brasil, o secretário da Fifa costumava divulgar cartas públicas sobre seu roteiro e seus compromissos aqui. Nessas cartas, ele sempre fazia cobranças a respeito da preparação do Brasil para a Copa. Desta vez, entretanto, nada foi divulgado até o momento.
A única mensagem de Valcke relacionada à sua visita ao Brasil consta do material de divulgação do slogan da Copa. "Com base na ideia central do 'ritmo', ele unirá as torcidas no Brasil e no exterior em torno do que será uma celebração colorida e vibrante em um ritmo exclusivamente brasileiro", disse Valcke, sobre a frase "Juntos num só ritmo".
Sobre a divulgação da tabela da Copa das Confederações, ela será feita sem que o torneio tenha todas suas sedes definidas. Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Fortaleza já foram anunciadas com locais de jogos. Atrasos em obras de Recife e Salvador, porém, fazem com que a Fifa ainda considere realizar o torneio em quatro cidades.
Oito times participarão do torneio. Desses, só cinco estão confirmados: Brasil (anfitrião), Espanha (campeã do mundo), Japão (campeão da Ásia), México (campeão da América do Norte e Central) e Uruguai (campeão da última Copa América). As últimas três vagas estão reservadas para os campeões da Eurocopa, para um representante da Oceania e da África.