Dois meses após mortes, inquérito no Itaquerão não tem prazo para acabar
Há exatos dois meses, em 27 de novembro de 2013, um acidente grave no estádio programado para sediar a abertura da Copa do Mundo no Brasil deixou dois mortos, após a queda de um guindaste que carregava o último módulo da cobertura.
Passados 60 dias da tragédia, os motivos do acidente na Arena Corinthians, em São Paulo, ainda não são conhecidos e a investigação do caso segue sem prazo para acabar.
O estádio em Itaquera, na zona leste de São Paulo, sediará seis jogos do Mundial, incluindo a partida que abrirá o torneio entre Brasil e Croácia no dia 12 de junho.
A queda do guindaste interditou parte da obra na área leste da arena e atrasou em quase quatro meses a entrega do estádio à Fifa. Antes programado para estar pronto até 31 de dezembro, o Itaquerão agora trabalha com o prazo de 15 de abril.
No mesmo dia do acidente, a Polícia Civil abriu um inquérito para investigar o caso e começou a ouvir testemunhas. O prazo inicial para a conclusão da investigação era de 30 dias, mas o delegado do 65º DP (Artur Alvim) responsável pelo caso, Luiz Antonio da Cruz, entrou com um pedido na Justiça no dia 27 de dezembro para prorrogá-lo.
Enquanto o juiz não determina se aceita ou não o pedido, a Polícia Civil seguiu com as investigações e ouviu mais pessoas envolvidas. Até esta segunda-feira, porém, o 65º DP ainda não tinha novidades sobre o inquérito, nem soube estipular um prazo para sua conclusão.
O delegado Luiz Antonio da Cruz explicou à BBC Brasil que ainda faltam pelo menos 20 ou 30 pessoas a serem ouvidas. Ele também reiterou que precisa aguardar a conclusão do laudo pericial.
"A investigação está em andamento. Estamos tentando concluí-la com rapidez, mas dentro do bom senso. Precisamos ouvir todas as partes envolvidas, precisamos do laudo pericial, dos laudos das vítimas, então não dá para falar em prazo", disse o delegado.
"Já ouvimos cerca de 30 pessoas, entre bombeiros, defesa civil, engenheiros e técnicos da Odebrecht, o motorista do guindaste. Ainda faltam mais outras 20 ou até mais, é difícil prever", completou.
Questionado se havia a possibilidade de o inquérito ser concluído apenas após a Copa do Mundo, o delegado desconversou: "Pode ser que fique pronto depois, pode ser que fique pronto antes, não posso te dar um prazo".
Laudo pericial
Elemento essencial para o inquérito sobre as duas mortes na Arena Corinthians, o laudo pericial do acidente também não foi concluído por enquanto. Ele está sob responsabilidade do Instituto de Criminalística (IC), que analisa as possíveis causas do acidente: falha do operador do guindaste, problema na própria máquina ou ainda uma possível intervenção das condições climáticas no acidente.
"O que eu posso te dizer é que estamos cobrando o Instituto de Criminalística por esse laudo ou pelo menos por uma previsibilidade. Porque o laudo pode mudar a investigação. Dependendo da conclusão da perícia, teremos que ouvir de novo (algumas testemunhas), intimar outras pessoas a depor. Por isso não dá para prever um prazo", afirmou Cruz.
Segundo o delegado, o inquérito sobre o acidente na Arena Corinthians já tem 200 páginas e a polícia está trabalhando no segundo volume dele.
A caixa preta do guindaste já foi entregue a peritos da empresa Liebherr, fabricante do guindaste utilizado na obra, e está sob análise.
Obras
Após o acidente que matou os operários Fabio Luis Pereira, de 41 anos, e Ronaldo Oliveira dos Santos, de 43, o cronograma das obras do estádio sofreu consideráveis alterações. À época, até mesmo uma possível mudança de local da partida de abertura chegou a ser considerada.
Na semana passada, porém, o secretário geral da Fifa, Jérôme Valcke, visitou o estádio e se disse satisfeito com a evolução das obras. Segundo o Corinthians, clube responsável pela construção da arena, as obras estão 97% concluídas e estarão finalizadas até 15 de abril.
Em 14 de janeiro, a Odebrecht, construtora do estádio, anunciou a retirada total do guindaste que caiu e disse que em breve também concluirá a remoção do módulo da cobertura que despencou no dia do acidente.
A Arena Corinthians terá capacidade para 68 mil pessoas e receberá seis jogos do Mundial, incluindo a abertura e uma semifinal.