Shaun Botterill/Getty Images

Um dos destaques da Copa, Schweinsteiger lamenta a eliminação para a Espanha

08/07/2010 - 09h00

Festa de intrusa e troca de televisão estragam semi na "Alemanha brasileira"

Luiza Oliveira
Em São Paulo

Um pedaço da Alemanha no Brasil. No Instituto Goethe o português torna-se quase impraticável, a comida obrigatória é salsichão com chucrute e a cerveja só pode ser Erdinger dos mais variados tipos. A festa estava armada para a classificação alemã à final da Copa do Mundo, mas o gol do espanhol Puyol somado à superstição quebrada e uma comemoração inimiga estragaram os planos dos germânicos.

Terão que se contentar com a disputa do terceiro lugar contra o Uruguai no sábado, uma decepção para os mais de 200 torcedores que lotaram três ambientes com telões e vistosas TVs LCD do centro cultural Brasil-Alemanha. Mas poucos imaginariam que essa estrutura se tornaria justamente um problema.

TORCIDA ALEMÃ REUNIDA EM SÃO PAULO

  • Luiza Oliveira/UOL

    Mais de 200 torcedores da Alemanha se reúnem no Instituto Goethe durante jogo contra a Espanha

  • Luiza Oliveira/UOL

    Os alemães Tobias Link, Judith Antkowiak e Moritz Rittmeyer pintam o rosto para o jogo da Alemanha

Até a semifinal, os torcedores assistiram a todos os jogos da Alemanha na Copa em uma televisão bem antiga e com a imagem pouco nítida, chamada carinhosamente de “jurássica”. Na semifinal, a diretoria decidiu fazer uma surpresa para alunos, professores e integrantes da comunidade alemã e trocou a velha telinha por uma moderna tela plana.

Com medo de “quebrar o feitiço”, os funcionários foram contrários à mudança, mas tiveram que acatar diante da negativa dos superiores. Não deu outra. A Alemanha acabou derrotada pela Espanha por 1 a 0 e ficou fora da final do Mundial da África do Sul.

A dona da lanchonete Lucinéia Delgada já sabe os culpados. “Quando vi o técnico trocando a televisão não acreditei e fui atrás dele para pedir para deixar a ‘jurássica’. Mas não teve jeito. Se a TV velha estivesse aí, pensaria que a Alemanha perdeu porque era para perder, mas agora fica a interrogação na minha cabeça. Os alemães não ligam muito, falam que é bobagem, mas nós brasileiros somos supersticiosos e temos que respeitar”, disse ela que aprendeu o idioma aos 16 anos.

Este não foi o único percalço no caminho dos germânicos. A tristeza pelo gol de Puyol aos 28 minutos do segundo tempo foi agravada pela comemoração ostensiva de uma torcedora em meio ao silêncio e à frustração alemã.

Maria gritou, pulou, abraçou uma amiga e passou no meio de todos até chegar à sua sala, onde exerce a função de assistente de cursos. Brasileira, ela diz que seu apoio é para que nenhuma seleção alcance os únicos pentacampeões mundiais em número de títulos. E não se importa em estar em “território alemão”.

“Paciência, não sou paga para jogar futebol. Alguns também torceram contra o Brasil. Se a Alemanha for tetra fica só a um título da gente”, disse ela, que não quis revelar seu sobrenome por ‘não confiar em jornalista’. “Já vi o que muitos jornalistas fazem. A gente fala uma coisa e eles escrevem outra.”

PASSO DE FLAMENCO DÁ O TOM NA FÚRIA

  • Flavia Perin/UOL

    Poucos, mas suficientemente efusivos. O que bastou para que houvesse barulho, emoção e apoio durante a partida que levou a Espanha à final da Copa. Eram espanhóis reunidos em dois pontos de São Paulo, que representaram bem sua seleção. Deram toques de vigor latino à torcida da Fúria: gritaram, levantaram da cadeira, mexeram os braços, bateram os pés no chão... Flamenco? Leia

Já a coordenadora de artes visuais Simone Molitor era uma das torcedoras mais fervorosas do local, apesar de ter nascido em terras tupiniquins e ser apenas filha de alemães. As bandeiras pintadas no rosto e a roupa nas cores amarela, preta e vermelha denunciam o envolvimento.

No momento gol, Simone não suportou a frustração e se levantou para tomar um ar na varanda longe do jogo, após reprovar a atitude da colega de trabalho. “Sofro mesmo. Depois do 4 a 0 sobre a Argentina acho que imaginávamos um pouco mais. Vamos ver como será em 2014. Mas este tipo de atitude irrita. Estamos em comunidade alemã. Não dá para torcer contra.”

Nos minutos finais, a torcida continuou acreditando mesmo com as poucas chances criadas pelos bávaros em Durban. Apenas as bandeiras do país, os balões na decoração e a simbologia das comidas típicas no cardápio (como os doces Käsekuchen, Apfelstrudel e Schokostrudel) davam esperanças.

Mas nada adiantou e a Espanha conseguiu a vaga. Curiosamente, os alemães pareciam mais contidos e conformados com a derrota que os brasileiros. Os amigos Judith Antkowiak, Moritz Rittmeyer e Tobias Link, todos de 20 anos, estão no Brasil há dez meses para trabalharem como voluntários em uma ONG para dar oportunidade a crianças e adolescentes carentes do bairro Jardim Ângela.

Eles fizeram questão de assistir à partida com conterrâneos e pintaram o rosto com a bandeira da Alemanha. Torcedor do Bayern de Munique, Moritz mostrava confiança durante o jogo. “Está indo bem. Acho que seremos campeões”. Mas foi Judith foi quem previu o que estava por vir. “Não acho que a Alemanha será campeã”.

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