Por que os jogadores brasileiros estão chorando tanto?

Roberto Shinyashiki

Roberto Shinyashiki

  • Ronald Martinez/Getty

    Neymar não se aguenta e chora copiosamente após a classificação brasileira contra o Chile

    Neymar não se aguenta e chora copiosamente após a classificação brasileira contra o Chile

O choro dos atletas brasileiros tem chamado atenção de todos nós. As pessoas me perguntam: "Atleta chorar é bom ou é ruim?" Depende. Pode ser sinal de fraqueza ou excesso de responsabilidade.

E para entendermos as consequências é importante avaliar o que acontece com a mente de qualquer atleta em uma competição do tamanho dos Jogos Olímpicos ou da Copa do Mundo. 

O melhor estado mental para um atleta competir é quando ele está em alta performance. Nesse estado, a sua mente está totalmente focada no objetivo, e todas as forças físicas, emocionais e mentais estão dirigidas para realizar a melhor performance. É por isso que ele, o atleta, tem prazer em competir e o sorriso aparece fácil. Um bom exemplo disso são as dancinhas dos jogadores colombianos quando marcam um gol ou a alegria do time holandês quando comemora um gol.

Esse estado mental de alta performance pode ser traduzido por algumas expressões tais como: "estar ligado", "estar no momento" e "trabalhando no presente".

Quando um atleta sai desse estado de alta performance ele tem a tendência de se desligar do jogo ou ficar agitado 

O atleta no estado de agitação tende a ficar agressivo, muito emocional, reclamar do juiz ou querer resolver tudo sozinho.

O atleta que fica desligado tende a ficar mentalmente fora do jogo, não entrar nas jogadas com energia e parecer distante da partida.

Todos os atletas tendem a ter uma qualidade de entrar em um estado mental de alta performance e ter um padrão para sair desse estado mental produtivo.

Cito alguns exemplos de atletas que tendem a sair da alta performance agitando: Pepe do Real Madrid, Maradona e Neymar, assumindo a responsabilidade para si e querendo driblar todo mundo…

Exemplos de atletas que tendem a se desligar: Messi e Cristiano Ronaldo. Embora sejam gênios, eles dão a sensação de que "não entram" em alguns jogos. Porém, como são dois atletas fora de série, ambos têm o poder de "entrar no jogo" por três minutos e definir uma partida.  

O trabalho da preparação mental é treinar o atleta a ficar em estado de alta performance mesmo nos momentos de maior pressão. 

Falando do time do Brasil e do choro dos atletas…

O estado mental do time é definido pelo estado psicológico dos seus líderes e esse atual time do Brasil está agitado. Como todos são atletas com um grande senso de responsabilidade, eles não extravasam as suas emoções brigando com adversários, arrumando problemas com o juiz e sendo expulsos, mas o choro mostra que por dentro eles estão agitados. Um sinal significativo disso é que alguns deles não estão jogando em grupo. No jogo contra o Chile até o Hulk tentou driblar vários jogadores.

Na Copa de 2006 o time estava fora do jogo. As fotos do Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos e Adriano em baladas mostram que a diversão era o foco…

O choro dos nossos atletas mostra que eles estão conscientes de sua responsabilidade mais do que o necessário e que estão precisando se desligar um pouco das responsabilidades da competição para jogar com mais prazer e tranquilidade.

Esses dias o Ricardo Rocha, zagueiro da seleção campeã de 1994, falou que está faltando um Romário para assumir a responsabilidade e tranquilizar os jogadores.

Verdade pura! Estão faltando líderes que falem sobre a alegria e o prazer de jogar a Copa no Brasil.

Só aumenta o peso nas costas dos jogadores quando alguém diz que eles têm a responsabilidade por 200 milhões de brasileiros e que somente a vitória deles pode evitar manifestações contra roubos na Copa e governos corruptos.

Ganhar a Copa já é muito complicado e tentar limpar toda a corrupção do Brasil é uma tarefa impossível.

Esses atletas estão chorando tudo o que não podemos chorar quando vemos a atual situação política. Hoje eles não comemoram a vitória, eles simplesmente respiram aliviados por ter superado mais uma batalha.

Agora é hora de falar mais de prazer do que de responsabilidade para que eles voltem a sorrir e comemorar as suas vitórias.

O que me preocupa é que a turma não esta sorrindo quando joga e principalmente quando ganha...

Roberto Shinyashiki

Roberto Shinyashiki é medico psiquiatra, psicoterapeuta , escritor ,doutor em Administração e Economia (Faculdade de Administração e Economia - USP) , foi coordenador da preparação mental do EC Pinheiros e já trabalhou com seleções nacionais de varias modalidades esportivas



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