Na reta final para Copa, defesa do Brasil vai de ponto alto a interrogação
Gustavo Franceschini e Paulo Passos
Do UOL, em Teresópolis
Estrelada e experiente, a defesa da seleção brasileira deveria ser o menor dos problemas de Luiz Felipe Scolari a menos de uma semana da estreia na Copa do Mundo. Ledo engano. Desgastada pela temporada europeia, a defesa verde-amarela ainda não engrenou na preparação para a competição em casa. Cinco dias antes de enfrentar a Croácia no Itaquerão, laterais, zagueiros e volantes são as posições que que mais causaram sobressaltos no treinador até agora.
O setor ainda goza de prestígio, é verdade. Dos cinco homens mais recuados, só Júlio César ainda sofre com questionamentos individuais. Thiago Silva e David Luiz, agora colegas de PSG, formam a dupla de zaga mais cara do mundo – custaram, juntos, 86,9 milhões de libras ao clube francês (R$ 328,3 milhões). Daniel Alves e Marcelo, por sua vez, são titulares de Barcelona e Real Madrid, respectivamente, dois dos maiores clubes do mundo.
Mesmo assim, Luiz Felipe Scolari teve de distribuir broncas em quase duas semanas de treinos e amistosos. No domingo passado, ele deu uma bronca pública no time ao ver erros de marcação em um treino coletivo. No primeiro trabalho com bola já havia feito o mesmo. Um áudio captado pelo Jornal Nacional mostrou o técnico alertando que o Brasil precisava corrigir o posicionamento para não tomar mais gols do México, segundo rival da fase de grupos.
Nos amistosos as falhas ficaram mais claras. Quando Daniel Alves e Marcelo subiram, deixaram espaços nas costas que não foram bem cobertos por Luiz Gustavo, Paulinho e Ramires, trio que dividiu a função de volante. Contra a Sérvia, os descuidos colocaram a seleção em risco.
Foi em bolas pelas pontas que o time europeu criou as suas melhores chances. No primeiro tempo, Mitrovic subiu livre após cruzamento da esquerda e cabeceou para fora. Na etapa final, Jojic acertou a trave de Júlio César após um lance no mesmo lado. A aposta no contra-ataque não foi exatamente uma surpresa para o Brasil.
"Acho que a gente conseguiu lidar bem, controlou. Eles tiveram a bola na trave de cabeça, mas foi bom para a gente porque teve um grande teste. Eu falei com o Ivanovic [capitão da Sérvia e ex-companheiro de Chelsea] e ele falou que vinham os dez atrás da linha da bola. Vieram só para o contra-ataque", disse David Luiz, na saída do Morumbi.
Só que não foi só pelas laterais que o Brasil sofreu. Em alguns momentos, especialmente no primeiro tempo, o time teve dificuldade para sair jogando e quase se complicou. Em uma delas, David Luiz e Thiago Silva trombaram entre si e tiveram sorte, já que o ataque sérvio foi paralisado por causa de um impedimento. A aposta dos europeus pelo alto, usando o atacante como pivô, também deu trabalho.
"Essa bola aérea é difícil de conseguir antecipar. Para zagueiro é complicado enfrentar jogadores assim, principalmente na nossa frente. Nesse jogo o Luiz Gustavo estava na nossa frente, a gente dava uma escorada e ele conseguia desarmar", disse Thiago Silva.
Não bastasse o desempenho errático em campo, a defesa ainda vê seus dois principais pilares às voltas com problemas médicos. David Luiz, segundo o próprio Felipão, vem sentindo dores em um dos joelhos. Thiago Silva, por sua vez, chegou a ser poupado da goleada sobre o Panamá para fazer um trabalho de reequilíbrio muscular. Mesmo sem estar com 100% da forma física, porém, a dupla deve entrar em campo.
"Tenho de estar [pronto]. Mesmo se estivesse com uma perna só ia dizer que estava pronto. A temporada foi cansativa para todos. O entrosamento não é o ideal, a parte física também não. Para a estreia tem um prazo para aprimorar, acertar algumas coisas e estrear bem", disse Thiago Silva.