Protestos nunca chegaram tão perto da seleção. Nem em junho de 2013

Gustavo Franceschini, Luiza Oliveira e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em Teresópolis (Rio de Janeiro)

Em junho de 2013, milhares foram às ruas em uma revolta coletiva que impressionou o país e colocou a Copa das Confederações no centro de um furacão. A seleção, porém, nunca esteve tão próxima das manifestações como na última segunda-feira, quando cerca de 150 pessoas protestaram na porta do hotel que recebeu Neymar e companhia, que se apresentavam no Rio de Janeiro.

A pressão durou poucos minutos, mas a (curta) distância entre manifestantes e jogadores impressionou. O time de Luiz Felipe Scolari se encontrou pela manhã no hotel Lynx, a poucos metros do Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro. Uma vez reunidos, os atletas seriam levados de ônibus até Teresópolis, onde a seleção faz a sua preparação.

Só que a aparição de cerca de 150 manifestantes, que se apresentaram como membros do Sindicato dos Profissionais da Educação do Estado do Rio de Janeiro, mudou os planos. Sob xingamentos, o ônibus saiu do hotel cerca de meia hora depois do horário combinado e teve de pegar uma rota alternativa para fugir do protesto, que fechava a principal via de saída do local.

Como em 2013, o salário de Neymar foi comparado ao dos professores e os manifestantes pediram saúde e educação em vez da Copa do Mundo. A diferença é que, dessa vez, a seleção ouviu o discurso com os próprios ouvidos, e não pela televisão.

Os jogadores foram para Teresópolis acusados de fugirem da manifestação. Quando estavam cercados pelo grupo, alguns dos atletas ficaram de pé dentro do ônibus e pareciam impressionados com a virulência de quem estava protestando. O ônibus que levou a delegação chegou a Teresópolis repleto de adesivos, colados à força na lataria do veículo. A mensagem principal era "não vai ter Copa", palavra de ordem dos descontentes.

A cena é inédita para um grupo que, em 2013, só teve motivos para agradecer o público. Durante a Copa das Confederações, enquanto os protestos tomavam as ruas, arrastavam dezenas de milhares em diversas capitais e deixavam um rastro de indignação e violência, a seleção fazia sua campanha brilhante no torneio nos braços da galera, com direito a hino à capela e pressão nos rivais.

A seleção que bateu a Espanha no Maracanã só chegou perto dos manifestantes em duas oportunidades. Em Goiânia, ainda antes dos protestos principais eclodirem, um grupo de servidores estaduais pediu melhores condições de trabalho na frente do hotel da seleção. Depois, em Fortaleza, menos de cem pessoas foram até a concentração do Brasil reclamar da realização da Copa. Em nenhum momento, porém, houve contato direto entre as partes.

Enquanto o Brasil jogava, porém, cenas fortes ocorriam nas cercanias dos estádios. Em Belo Horizonte, por exemplo, um manifestante morreu ao cair de um viaduto durante um protesto que terminou em confronto com a polícia. Quase ao mesmo tempo, a seleção venceu o Uruguai no Mineirão, a poucos metros do local da fatalidade.

O roteiro visto em 2013 bate com o que prevê a comissão técnica: a seleção está blindada. "Cada um interpreta como interessar. Houve um contratempo no início, 200 pessoas no máximo, mas eu tenho certeza de que a seleção é um patrimônio cultural e esportivo do povo brasileiro. Todo mundo vai apoiar a seleção. Ninguém vai ficar contra a seleção", disse Carlos Alberto Parreira, repetindo o discurso que Felipão vem adotando há meses.

É difícil saber, no primeiro dia, o quanto essa previsão estará correta. O protesto nesta segunda só não foi pior porque a Polícia anteviu a manifestação e impediu as pessoas de chegarem ao hotel com vans e uma carreata. Na Granja Comary, mais protestos, que dessa vez ao menos pararam no portão da "casa" da CBF.

Curiosamente, a aproximação ocorre em um outro momento da ondade manifestações. No ano passado, os protestos surgiram inicialmente por conta do aumento das tarifas dos transportes públicos. Depois de alguns atos, o movimento ganhou adesão nacional e chegou a levar, em um só dia, mais de 1 milhão de pessoas às ruas de 388 cidades, incluindo 22 capitais.

Hoje, os atos estão bem menores, não costumam movimentar mais de mil pessoas e são compostos majoritariamente por movimentos sociais e sindicais. Ainda assim, os grupos têm incomodado. A seleção, por exemplo, preparou um forte esquema de segurança. Segundo a Folha de S. Paulo, o sistema com agentes do Exército, da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e Polícia Militar é o maior da história da CBF, que está preocupada em manter os jogadores afastados do burburinho. 

Flávio Florido/UOL Houve um contratempo no início, 200 pessoas no máximo, mas eu tenho certeza de que a seleção é um patrimônio cultural e esportivo do povo brasileiro Parreira, , coordenador-técnico da seleção, relativizando a importância dos protestos

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