Especialistas indicam colete gelado e 'tike-taka' contra clima de Manaus

Renan Rodrigues

Do UOL, no Rio de Janeiro

Longa adaptação, estilo de jogo baseado no toque de bola e até mesmo um colete refrigerado. Essas são algumas dicas de especialistas para as seleções que disputarão jogos em Manaus durante a Copa do Mundo de 2014. O calor e os altos índices de umidade fizeram com que a Fifa alterasse horários de algumas partidas, além de ter criado uma 'saia justa' entre o prefeito da cidade e a seleção inglesa.

Segundo o professor John Brewer, que realizou um estudo na Universidade de Beadfordshire sobre os efeitos do calor e umidade nos jogadores de futebol, quanto antes as seleções chegarem a Manaus, melhor será a adaptação dos atletas durante a atividade física. Ele diz que o ideal é uma preparação no local de quatro ou cinco dias antes dos jogos.

Os testes foram realizados em uma câmara ambiental com 50% de umidade e temperatura em torno de 30 graus Celsius. Em julho deste ano, a temperatura média em Manaus foi de 28 graus Celsius e umidade de 65% - a medição foi feita pelo Inmet (Instituto Nacional de Metereologia) sempre às 18h.

"O estudo mostra que a prática do futebol em condições quentes e úmidas aumenta a frequência cardíaca, taxas de suor, temperatura do corpo, nível de cansaço e dificuldade em tomada de decisão. Mas os jogadores podem começar a se adaptar. Mesmo que nunca sejam capazes de jogar tão bem em relação às condições mais frias, ainda podem manter um ritmo razoável de trabalho", disse Brewe ao UOL Esporte.

Além da Inglaterra, Camarões, Croácia, Estados Unidos, Honduras, Itália, Portugal e Suíça atuarão na cidade - veja a tabela com todos os jogos da Copa. A umidade em Manaus em julho deste ano atingiu picos de até 90%. Por conta disso, o suor corporal evapora de maneira muito mais lenta no ar e mantém a temperatura do corpo elevada por um período maior. Hidratação intensa e até um colete de refrigeração são indicados por Brewer.

"Todos os times vão precisar adotar uma estratégia de hidratação e refresco. Isso deve incluir beber regularmente antes, durante e depois dos jogos, e talvez o uso de "coletes de refrigeração" antes do jogo, e no intervalo, para reduzir a temperatura do corpo. Além disso, um estilo de jogo que enfatiza os passes, juntamente com o uso de substitutos quando os jogadores começarem a cansar", disse o diretor do departamento de ciência do esporte da Universidade de Bedforshire, que também fez parte da FA (Federação Inglesa de Futebol) durante a Copa do Mundo de 1990, na Itália. 

O colete refrigerado foi utilizado por países como Austrália e Inglaterra nos Jogos Olímpicos de 2004, na Grécia, e 2008, na China. Alguns modelos possuem uma espécie de bolso com gel, que colocado em geladeira ou em caixas com gelo, baixam a temperatura corporal e também reduzem a transpiração.

Dicas locais

Técnico do Fast, clube sete vezes campeão amazonense, Aderlba Lana diz que as condições climáticas podem ser um fator de desequilíbrio entre as seleções durante a Copa do Mundo. Ele dá dicas táticas e de preparação para que as equipes consigam se adaptar ao índice de umidade e alerta para o cansaço no segundo tempo.

"Quando equipes de fora do estado jogam aqui, fazemos uma marcação sob pressão no início e sentimos que no final eles cansam. Acho que é um detalhe que as seleções devem prever. Se chegarem no dia do jogo, sofrerão mais. O ideal é que treinem por uma semana com corridas para adaptar o corpo à temperatura e umidade. Em campo, se jogarem em bloco, mais próximos, com toque de bola, também sentirão menos".

Brewe explica que, com treinos em condições locais, o volume de plasma dos jogadores aumenta, o que ajuda a manter a frequência cardíaca e garante que o sangue possa chegar à superfície da pele para perder calor. Além disso, a adaptação ao clima ajuda no fornecimento de oxigênio para os músculos durante a atividade.

Pesquisa à Fifa

A polêmica por conta das condições climáticas em algumas cidades-sede se arrasta desde o início do ano. Na semana do sorteio dos grupos da Copa do Mundo, a Itália sugeriu paradas técnicas para hidratação. A medida já é usada em campeonatos como o Carioca, perto dos 20 minutos de cada tempo, com três minutos de paralisação, e foi autorizada pela Fifa.

Além disso, o técnico da seleção inglesa, Roy Hodgson, se envolveu em uma polêmica ao dizer que gostaria de evitar os jogos na cidade por conta do clima e dos longos deslocamentos. O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, rebateu afirmando que preferia não receber a seleção de Rooney e companhia. Posteriormente, as arestas foram aparadas.

Em julho, o fisiologista Turíbio Leite de Barros coordenou uma pesquisa para o Sapesp (Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo) alertando sobre o risco de jogos às 13h em cidades do Norte e Nordeste. O documento foi enviado à Fifa em agosto, em uma tentativa de mudar novamente o horário de alguns jogos.

Quatro fisiologistas foram a Brasília, Manaus, Fortaleza e São Paulo para monitorar o desempenho e as condições dos jogadores durante partidas neste horário. Cada atleta ingeriu uma pílula com um termômetro que envia dados a outro aparelho enquanto participava de um jogo. A entidade, porém, não deve realizar novas mudanças no calendário.

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