PM agredida na Libertadores vira protagonista de manifestações em BH

Gustavo Franceschini

Do UOL, em Belo Horizonte

  • Gustavo Franceschini/UOL

    Coronel Claudia, comandante da Polícia Militar em Belo Horizonte, virou protagonista das manifestações

    Coronel Claudia, comandante da Polícia Militar em Belo Horizonte, virou protagonista das manifestações

A policial com maior visibilidade nas manifestações anti-Copa que estão ocorrendo em Belo Horizonte nos últimos dias é uma velha conhecida de quem acompanha futebol. Comandante da Polícia Militar em Belo Horizonte, Cláudia Romualdo despertou manifestações de amor e ódio das pessoas que estiveram nas ruas da cidade para protestar e virou protagonista dos atos, papel que já havia ocupado em abril, quando foi agredida em um jogo da Libertadores.

Na ocasião, ela ganhou projeção nacional pela serenidade com que tratou a confusão entre Atlético-MG e Arsenal de Sarandí, no estádio Independência. No fim da partida, jogadores argentinos cercaram o árbitro e uma confusão se iniciou no gramado, parando apenas no vestiário dos visitantes. Cláudia, que levou uma pancada nas costas, foi quem levou à imprensa os detalhes da investigação e do conflito.

Foi a "estreia" da coronel em cadeia nacional, mas àquela altura ela já era bastante conhecida em Minas Gerais. Filha de um militar e uma professora, Cláudia é a primeira mulher a assumir o comando do policiamento em Belo Horizonte, quarto posto mais alto na hierarquia da corporação no Estado.

No início do ano, ela havia sido destaque nas redes sociais por ter se emocionado ao conceder uma entrevista. O choro era por conta da morte de um soldado da corporação, que fazia o cerco ao ladrão de um veículo que tentou escapar jogando o carro roubado em cima de uma viatura. O oficial morreu preso nas ferragens e a coronel Cláudia foi muito comentada nos programas policiais pela emoção demonstrada no momento da tragédia e no velório.

Nos últimos dias, ela voltou a aparecer com destaque. Até agora, Belo Horizonte teve manifestações em pelo menos seis dias. Na primeira delas, em 15 de junho, 8 mil pessoas foram às ruas e foram acompanhadas pacificamente pela polícia local.

A decisão de escoltar os protestos sem conflito foi justamente da coronel Claudia, que assim descumpriu a decisão judicial do dia anterior que proibia qualquer tipo de ato no Estado por conta da Copa das Confederações. Ela rapidamente virou celebridade entre os manifestantes, que tiraram fotos e rasgaram elogios à sua postura.

Quando surgiu a notícia de que o descumprimento da decisão poderia prejudicá-la, um grupo criou uma petição no site Avaaz em apoio à coronel. Mais de 38 mil pessoas assinaram o documento virtual pedindo que ela não fosse multada por ter dado aval às passeatas.

CORONEL É TIETADA EM PROTESTO

  • Carlos Eduardo Cherem/UOL

A lua-de-mel duraria só um dia. Na segunda manifestação, ela começou a tarde sendo chamada até de "presidenta" pelos presentes, que entregaram flores e novamente posaram para fotos. A insistência na aproximação do Mineirão, porém, transformou a passeata pacífica em confusão.

A coronel Claudia, segundo relato do jornal mineiro O Tempo, chegou a ser ameaçada de linchamento e teve de ser defendida por manifestantes pacíficos. Foi o início de uma série de atos que perturbaram Belo Horizonte. O pior deles se deu no último sábado, quando uma multidão (60 mil para a polícia, 200 mil para os manifestantes) foi às ruas antes do jogo entre Japão e México.

Mais uma vez, policiais alegaram que o radicalismo dos protestantes iniciou a confusão, enquanto esses, por sua vez, criticaram a truculência e o abuso dos oficiais. A imagem da coronel Claudia saiu arranhada.

"Onde está a coronel Claudia, que no começo falou que a polícia ia ser pacífica, que tirou fotos com os manifestantes, que recebeu flores? Onde está ela agora que o pau comeu?", cobrou aos berros um dos participantes da assembleia da última segunda, que definiu a desmilitarização da polícia como uma das pautas do protesto marcado para esta quarta, antes do jogo entre Brasil e Uruguai.

Cláudia, respondendo à pergunta do manifestante indignado, está justamente se preparando para conter quem hoje a critica. A reportagem procurou a comandante da PM em Belo Horizonte para tentar entrevistá-la, mas ela explicou que não falaria com a imprensa antes da ação desta quarta, que a tem deixado "sem dormir".

Aos 45 anos, a policial parece ainda estar tentando acostumar-se ao protagonismo que a função que ocupa lhe impõe. Sua visibilidade causa estranhamento na corporação, mas ela, aparentemente, consegue lidar bem com a situação.

Calma, ela lida em tom respeitoso com superiores, é simpática com os oficiais que a abordam e respira fundo ao falar da ação da polícia nesta quarta. Toda a corporação trata a contenção à manifestação como uma espécie de "dia D".

Nos três dias que antecederam a partida, o coronel Márcio Sant'Ana, comandante-geral da PM em Minas Gerais e superior imediato de Claudia, já concedeu duas entrevistas coletivas para tratar dos preparativos.

Na última quinta, o governador Antonio Anastasia ainda se reuniu com membros do Comitê Atingidos pela Copa, principal articulador dos atos, para tentar reduzir o impacto do ato. Resta saber se a medida funcionará e qual será a imagem da coronel depois do evento. 

 

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