Italianos esbanjam sinceridade nas falas e criam polêmica e até mal-estar

José Ricardo Leite

Do UOL, em Salvador

A reclamação do lateral direito Maggio de que Neymar recebe muitas faltas inexistentes que são assinaladas e que o jogador da seleção brasileira é protegido pela arbitragem foi um exemplo das marcantes declarações sinceras e polêmicas dos jogadores da seleção italiana na passagem pelo Brasil até agora durante a Copa das Confederações.

Em geral,  os atletas da Azzurra fogem do padrão de respostas políticamente corretas e de não querer falar sobre temas que saiam da esfera esportiva. Comentaram protestos, desigualdades no Brasil e alguns não conseguiram fazer média com respostas padrão sobre alguns dos orgulhos dos brasileiros, como Maracanã e passeios.

Teve até uma saia-justa por brincadeira que poderia ser mal interpretada. Um exemplo foi a entrevista coletiva do técnico da seleção italiana, Cesare Prandelli, na última sexta-feira chegou a gerar até certo mal-estar e explicações posteriores sobre uma brincadeira feita com o polêmico Balotelli ao dizer que o atacante foi liberado para sair por "ser negro".

A fala do comandante da Azzurra veio depois de uma declaração em tom sincero e sem fugir da pergunta quando questionado sobre os protestos no Brasil ao dizer que os italianos estão sim, preocupados com o tom violento das manifestações, e proibidos de saírem do hotel.

Depois, explicou porque o camisa 9 furou a regra. "Balotelli tem a cor da pele e não é reconhecido como italiano, não tem problema. Não se passaria por italiano. Foi porque tem uma cor diferente dos outros", brincou, para depois se explicar. "É bom que vocês tenham perguntado isso de novo, eu fiz uma brincadeira. Ele [Balotelli] disse ´eu tenho essa cor, vou com essas crianças na minha associação´. Ele fez uma coisa bela, não é que ia fazer um passeio", falou.

Estas estão longe de ser as únicas declarações polêmicas dos italianos durante os 15 dias até agora no Brasil. Antes de Prandelli dizer que o time está preocupado com os protestos, o meia-atacante Giaccherini resolveu até opinar e apoiar o movimento por se impressionar com a pobreza do cenário que viu pelas cidades.

"Vi ontem pela TV os (protestos) que estavam ocorrendo em São Paulo. O que vi no Brasil é que é um país pobre, muito pobre, e que está procurando por essas manifestações encontrar soluções", disse na zona mista após a vitória sobre o Japão.  

O zagueiro Barzagli não economizou nas sinceridade em suas respostas. Antes da estreia da equipe azul na Copa das Confederações, foi questionado sobre o que sabia da história do Maracanã. A resposta foi que não tinha conhecimento nenhum. "Não estudei isso."

A falta de conhecimento sobre o Maracanã pareceu ter influenciado o desempenho do defensor no estádio. Ele falhou feio ao se embananar com a bola e perde-la para Giovani dos Santos na entrada da área. Finalizou o serviço sujo cometendo pênalti. Para sua sorte, seu time venceu por 2 a 1. Na hora de explicar o lance, nova sinceridade. "Fiz cagad...".

O volante De Rossi reclamou da temperatura do Brasil e disse que foi o pior clima que o time italiano já jogou na vida. E ainda usou seu estilo de jogo um tanto quanto viril como explicação para uma tatuagem feita na perna em que um jogador dá um carrinho e machuca a perna de outro. E ainda revelou seu sentimento ao ser perguntado se é triste ver um domínio tão grande. "Tristeza, não; inveja, talvez", afirmou o jogador.

Fazer turismo no Brasil foi algo comum entre jogadores e comissão técnica da seleção italiana, principalmente no Rio de Janeiro. Mas há quem não vá levar muitas recordações turísticas do país. Perguntado sobre o que achava do país no primeiro dia, o meio-campista Marchisio foi seco. "Estou aqui para jogar futebol e não conhecer lugares."

Considerado um dos melhores jogadores do mundo, o meio-campista Pirlo deu exemplo de humildade e não se acanhou e nem teve vergonha de dizer que se inspirou no brasileiro Juninho Pernambucano para executar suas famosas de faltas. "Eu o via chutar quando ele jogava no Lyon, e quis tentar aqueles chutes nos meus treinos. Percebi que estava dando certo e assim tentava chutar como ele."

O polêmico Balotelli vem sendo marcado pela marra com que trata a imprensa. Até agora, só falou oficialmente dentro do campo do Maracanã em entrevista obrigatória pela Fifa. Desde então, vem esnobando os jornalistas com um irônico silêncio acompanhado de risos sempre que é abordado.

Uma das poucas palavras ditas pelo jogador já mostrou a sua marra. Em um passeio a pé pelas ruas de Salvador cheio de joias, ouviu que era perigoso aquilo e o fato de o país estar em um momento turbulento e de protestos. Foi o suficiente para sua personalidade vir à tona. "Eu não tenho medo", rebateu.

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