Comentarista nº 1 da Espanha prevê choque na final: "Brasil vai ser dominado em casa"
Bruno Freitas
Do UOL, em Fortaleza
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Arquivo pessoal/Julio Maldonado
Comentarista espanhol Julio Maldonado posa para foto dentro do gramado do Maracanã
A Copa das Confederações ainda não tem seus finalistas definidos, mas não há nada que o mundo do futebol deseje mais do que ver a grande geração espanhola se confrontar pela primeira vez com o Brasil, desafiando tudo que o país anfitrião do torneio emblematicamente representa. Comentarista mais famoso da Espanha, Julio Maldonado prevê um choque cultural em um eventual encontro no Maracanã, com a seleção da casa experimentando uma condição de submissão desconhecida em sua história.
Conhecido na Espanha como Maldini, o comentarista está no Brasil para comentar a Copa das Confederações para o grupo Mediaset. Maldonado tem seis parabólicas em sua casa em Madri para ver o futebol de quase todo o mundo e fala sobre o momento da seleção de Scolari com a autoridade de quem assiste a até dez jogos do Brasileirão por rodada.
"Acho que pode ser um jogo muito duro para o futebol do Brasil. Nos últimos tempos, o Brasil tem tido seleções mais com o estilo europeu, não com o estilo do 'jogo bonito', que é o conceito que temos do Brasil na Europa. Se jogam Espanha e Brasil, haverá um domínio da bola por parte da Espanha, isso está claro. Não quer dizer que o Brasil não possa ganhar o jogo, porque pode ganhar. Mas será um choque tremendo ver um time dominando tão descaradamente o outro em um jogo dentro do Brasil. E não será de outra maneira. Por muito que tente pressionar, como fez contra a Itália, o Brasil não vai conseguir tirar a bola da Espanha. Isso pode machucar do ponto de vista do ego dos brasileiros, não?", pondera o comentarista.
Maldini diz ver o futebol brasileiro defasado em relação ao que se pratica de melhor atualmente na Europa. Mas deixa uma observação de exceção a respeito do trabalho do técnico Tite à frente do Corinthians.
"Os jogadores brasileiros, quando atuam no Brasil, são taticamente menos desenvolvidos do que o temos na Europa. O único técnico realmente que me parece estar a um nível europeu é Tite, do Corinthians. Ganhou uma Libertadores e um Mundial de Clubes com um estilo que não é brilhante, os jogos do Corinthians eram chatos de ver. Mas, taticamente, era a equipe mais pronta do Brasil. Eu, pessoalmente, teria chamado Tite para ser o treinador do Brasil no Mundial", afirma.
Na projeção do comentarista, a condição de força dominante da Espanha no futebol internacional tem prazo expirando junto com a atual geração. O país acaba de conquistar o bicampeonato europeu sub-21 e também detém o troféu da categoria sub-19. No entanto, Maldini não enxerga potencial na base para a transição da histórica geração de Xavi, Iniesta e companhia.
"Vai haver uma queda. Quando a sub-19 atual chegar à absoluta, vai haver um vazio. Da seleção sub-21 que acaba de ganhar a Eurocopa, falando de jogadores de três quartos de campo (meias, atacantes), o único comparável com os atuais da seleção principal é Isco (...) Os jogadores vão se sobrepondo, para o seguinte Europeu e Mundial não estarão Xavi, Villa. Iniesta chegará em cima. O Mundial do Qatar (2022) já vai ser difícil para a Espanha chegar nesse nível", analisa.
PARABÓLICAS PARA CAPTAR O FUTEBOL DO MUNDO INTEIRO
Durante a conversa com a reportagem do UOL Esporte, Julio Maldonado insiste para que o interlocutor assista a um vídeo disponível na internet, em material que explica sua complexa metodologia de trabalho. O jornalista espanhol praticamente controla tudo que acontece no futebol mundial desde sua residência em Madri, graças a uma coleção de potentes antenas parabólicas que captam as ligas desde a Ucrânia até a Turquia.
Maldini também organizou um banco de dados invejável, com edições completas de revistas tradicionais do futebol, como World Soccer, El Gráfico e France Football. O espanhol também tem, por exemplo, todas as edições da brasileira Placar desde seu lançamento, em 1970. Tudo catalogado e organizado em um moderno banco de dados.
O comentarista diz que habitualmente costuma ver em torno de quatro partidas do Brasileirão por rodada. Mas, na preparação para acompanhar a Copa das Confederações, decidiu ver todos os dez jogos de cada final de semana, na largada da competição. Em Fortaleza, antes de Espanha x Nigéria, publicou uma análise minuciosa de cada um dos titulares africanos.
Considerado a cabeça número 1 da análise de futebol em seu país, o jornalista ganhou o apelido no início dos anos 90, quando começou a comentar os jogos da Itália. "O nome do Paolo Maldini é parecido com o meu, Maldonado", conta.
Além dos comentários nos canais do grupo Mediaset, Maldonado atualmente também tem um programa no Canal Plus ("Fiebre Maldini"), onde acompanha as ligas de Itália e Inglaterra. O jornalista ainda escreve para o Diário AS e dá suas opiniões no rádio, na Cadena Ser.
No vídeo abaixo do Diário AS, em espanhol, Maldini explica como controla o futebol mundial, com arquivo de 234 mil revistas e vídeos de campeonatos de Peru, Croácia, etc [o jornalista autorizou a utilização do vídeo].