Em dia sem jogos, esquemas táticos e escalações perdem foco para manifestações nas entrevistas
Do UOL, em São Paulo
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Jefferson Bernardes/VIPCOMM
Manifestações pelo Brasil viraram assunto na coletiva de Felipão e Hulk nesta terça
A ausência de jogos nesta terça-feira foi pouco sentida na Copa das Confederações. Escalações, esquemas táticos e a torcida pela seleção brasileira ficaram em segundo plano. No dia de folga, a onda de protestos por todo o país ganhou o destaque na competição internacional.
Jogadores e técnicos da seleção brasileira e de equipes estrangeiras comentaram as manifestações que levaram milhares de pessoas às ruas nas cidades brasileiras contra o aumento das tarifas do transporte público, o fim da corrupção ou os altos gastos de dinheiro público na Copa do Mundo.
Atletas do Brasil endossaram o coro de boa parte da população. O atacante do Zenit-RUS, Hulk, disse que os manifestantes têm razão e chegou a dizer que sentiu vontade de ir às ruas.
"Eles têm toda a razão e o que pedem faz todo o sentido. Temos que dar ouvidos. O Brasil precisa melhorar em muitas coisas. A gente sabe que é verdade", afirmou. "Eu vim de baixo, passei muita dificuldade na vida e hoje estou numa situação melhor. Mas bate uma vontade (de ir às ruas)".
O zagueiro do Chelsea, David Luiz, também defendeu os protestos, desde que sejam realizados de forma pacífica. "Sou brasileiro. Vivo fora, mas amo meu país. Sou a favor do direito de expressão do cidadão, mas sem violência. O cidadão, se não está feliz, tem direito de se expressar, é só assim que vamos enxergar onde estão os erros. O brasileiro ama o seu país e é por isso que as manifestações estão acontecendo".
O lateral direito Daniel Alves, o zagueiro Dante e o atacante Fred usaram as redes sociais para comentar o assunto mais falado do momento. Todos apoiaram as pessoas que lutam por um país melhor.
"Eu sou completamente a favor de toda a manifestação, desde que seja democrática e pacífica. Tenho muito orgulho em ver que o povo está lutando para mudar as condições do transporte, da saúde, de tantos outros problemas. E nem poderia ser diferente, senão eu estaria indo contra a minha origem humilde, afinal eu e minha família já sofremos muito com a precariedade dos serviços públicos. (...) Vale quase tudo por um Brasil melhor – menos vandalismo", postou Fred em seu Twitter.
Mesmo concentrada para a disputa da Copa das Confederações, a seleção tem convívio de perto com manifestantes. Em Goiânia, estudantes e sindicalistas reclamaram das más condições de trabalho em frente ao hotel da delegação.
Em Brasília, ao menos três ações contra os gastos de dinheiro da Copa envolveram o time e obrigaram a seleção até a mudar sua logística e usar um avião ao invés de um ônibus para se locomover de Goiânia para a capital federal.
O técnico Luiz Felipe Scolari adotou um discurso mais evasivo e não quis entrar em polêmica. "Em uma democracia é normal haver manifestações e tomara que continuem a ser pacíficas e democráticas. Acho que vocês viram também muitas manifestações em Londres, antes das Olimpíadas. O que se fala é de algumas pessoas que não conhecem muito bem o Brasil", disse.
Estrangeiros opinam sobre protestos no Brasil
O assunto já chegou às outras seleções que estão no Brasil para a disputa da Copa das Confederações. O técnico da seleção italiana Cesare Prandelli admitiu que acompanhou o noticiário pela televisão e considerou normal esse tipo revolta por ser comum na Europa.
"Vimos isso ontem e que tinham muitos estudantes. Mas não tenho preocupação nenhuma. É um Estado e as manifestações civis também acontecem na Europa. Acho que têm que ser resolvido na base do diálogo", falou.
Já o volante do Uruguai, Walter Gargano, vê como um problema os movimentos realizados no Brasil em meio à disputa do torneio. Ele espera um ambiente festivo no país. "Tomara que acabem todos esses protestos. Vimos algumas imagens na televisão. Não entendo muito bem do que se trata, mas é lamentável".
Curiosamente, a delegação uruguaia também foi até afetada por uma manifestação de 700 funcionários do hotel onde a delegação estava hospedada, o Catussaba Resort, em Salvador. Com um megafone, eles reivindicaram salários maiores e menor jornada de trabalho. Diego Forlán, no entanto, disse que estava dormindo e só soube do ocorrido no café da manhã.