Sindicatos protestam contra governo de Goiás no hotel da seleção

Gustavo Franceschini e Ricardo Perrone

Do UOL, em Goiânia

Aos gritos de "Marconi, bicheiro, devolve meu dinheiro", um grupo de cerca de 50 pessoas se reuniu, na tarde desta terça-feira, à frente do hotel da seleção brasileira, em Goiânia. O grupo reúne ao menos quatro entidades classistas e estudantes da UEG (Universidade Estadual de Goiás), que pedem reajuste salarial e investimento em educação ao governador do Estado, principal alvo dos protestos.

"Quando o governador gasta com seleção e deixa a universidade em condições precárias, ele mostra que só está preocupado com o espetáculo. A presença da seleção é uma contradição na cidade", Bernardo Cunha, professor da UEG. 

A reivindicação principal dos trabalhadores diz respeito ao Database, reajuste salarial anual que deveria ser liberado em maio. Segundo os sindicatos, o dinheiro não saiu e o Governo do Estado se recusa a negociar com os trabalhadores. Já os estudantes pedem que uma fatia maior do orçamento seja investida na universidade que, segundo eles, está sucateada. 

Diante disso, eles resolveram aproveitar a presença de parte da imprensa nacional na cidade para protestar diante do hotel da seleção, localizado em uma das avenidas mais movimentadas da cidade. 

O ato foi pacífico. Com faixas, gritos de guerra e alguns rojões, os sindicalistas gritaram palavras de ordem contra Marconi Perillo. O uso do termo "bicheiro" é uma referência à suposta ligação do governador com Carlos Cachoeira, bicheiro que chegou a ser preso por crime organizado e corrupção. 

Os letreiros exibidos diante do hotel fizeram alusão à Copa do Mundo. "Enquanto a bola rola, o Marconi só enrola", dizia um dos textos. "Saúde e educação, da Copa eu abro mão", gritavam os manifestantes em outro momento. 

Os sindicatos protestam também contra o investimento que o governo estadual fará na reforma da Serrinha, sede social do Goiás que recebeu apenas um treino da seleção. Como o UOL Esporte revelou na semana passada, Marconi Perillo alterou grande parte da lei do projeto Proesporte, que destina verba do ICMS para o setor, para poder investir R$ 2,5 milhões no clube local, sob o pretexto de que o novo gramado abrigaria Luiz Felipe Scolari e companhia. 

O protesto teve seu ápice na chegada do ônibus da seleção brasileira. Por trás dos vidros fechados e escuros do veículo, os jogadores mal tiveram contato com a manifestação e entraram direto no hotel. 

O ato foi organizado por estudantes da UEG, que está parcialmente em greve desde o fim de abril. Além do movimento "Mobiliza UEG", estiveram presentes ao menos quatro sindicatos: Sindipublico, Sindifisco (dos fiscais de arrecadação), Sindisaúde (dos profissionais de saúde) e a União Goiana de Policiais Civis e Associação de Cabos e Soldados, segundo . 

Só que o protesto não foi unânime. Na praça que fica em frente à concentração estavam os sindicalistas e estudantes, com faixas, rojões e palavras de ordem. Do outro, na calçada do hotel, as torcedoras fanáticas por Neymar e Lucas seguiam aos berros pelos jogadores, de costas para toda a movimentação. Quando um protestante perguntou "cadê você, Marconi?", um garoto logo emendou: "Ele não está aqui", dando o tom de contraste na situação. 

A reportagem consultou a assessoria de imprensa do governo estadual, que minimizou os protestos. O órgão diz que está em contato com os estudantes para encerrar a greve da UEG e admite que o reajusta do Database está atrasado. A explicação seria o aperto financeiro do Estado, que não teria aumentado os salários para não ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal. 



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