Cinco anos após ser escolhido sede, Brasil muda planos e organiza Copa com verba pública
Do UOL, no Rio de Janeiro
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Jorge Araújo/Folha Imagem
Fifa oficializa o Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, em cerimônia em Zurique, na Suíça, em 2007
O dia 30 de outubro de 2007 foi histórico para o futebol brasileiro. Há exatos cinco anos, a Fifa anunciava o Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014. Quase 60 anos depois receber o Mundial de 1950, o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, finalmente conseguia usar de seu prestígio e trazer novamente para o país o maior torneio de futebol.
Apoiado por ex-jogadores como Romário e pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Teixeira alcançou naquela data um de seus maiores objetivos. Tomou frente da organização do Mundial e prometeu realizá-lo usando "prioritariamente recursos privados".
Cinco anos depois, entretanto, muita coisa mudou. Teixeira deixou a presidência da CBF e do Comitê Organizador Local da Copa (COL). O governo assumiu responsabilidades na organização. Hoje, ele toca e, principalmente, paga a maior parte dos preparativos.
Em cinco anos, o projeto de Copa do Mundo do Brasil já não é mais o mesmo. Confira abaixo algumas das principais mudanças ocorridas desde o dia em que o país foi eleito sede.
Obras da Copa
RICARDO TEIXEIRA DEIXA CBF E COMITÊ ORGANIZADOR DA COPA
Há cinco anos | Como está hoje |
Quando o Brasil foi confirmado como sede da Copa de 2014, o presidente da CBF ainda era Ricardo Teixeira. O ex-mandatário da confederação assumiu a presidência do Comitê Organizador Local do Mundial (COL) e trouxe para o órgão pessoas de sua confiança. | Teixeira deixou a presidência da CBF e do COL. José Maria Marin assumiu as duas funções e manteve a linha de comando. Mudanças do COL, porém, foram inevitáveis. Pessoas ligadas a Marin, como o vice-presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, ganharam um cargo do comitê do Copa. |
GOVERNO FEDERAL GANHA ESPAÇO NA ORGANIZAÇÃO
Há cinco anos | Como está hoje |
A Copa que Ricardo Teixeira idealizou mantinha o governo em segundo plano na organização do torneio. O ex-presidente da CBF queria um Mundial da iniciativa privada e manteve o COL isolado da influência governamental enquanto presidiu o órgão. | O governo federal tem hoje papel central na preparação do Brasil para a Copa do Mundo. Coordena todos os projetos de infraestrutura para o torneio e ainda mantém um representante no COL, que trata diretamente com a Fifa e a CBF de detalhes da organização do torneio. |
COPA PRIVADA DÁ LUGAR A INVESTIMENTO PÚBLICO
Há cinco anos | Como está hoje |
Enquanto o Brasil fazia campanha para ser sede da Copa do Mundo, o então presidente da CBF Ricardo Teixeira dizia que o Mundial de 2014 seria organizado "prioritariamente com recursos privados". Segundo ele, empresas teriam condições de arcar com boa parte dos investimentos necessários para depois lucrarem com o torneio. | Em cinco anos de preparação do Brasil para a Copa do Mundo, o dinheiro público assumiu um papel fundamental no pagamento dos investimentos necessários para o torneio. Segundo o relatório do TCU divulgado em agosto, 85% dos custos da preparação do país estão sendo pagos diretamente pelo governo ou com financiamentos de bancos públicos. |
CUSTO DAS OBRAS DOS ESTÁDIOS DA COPA TRIPLICA
Há cinco anos | Como está hoje |
Quando o Brasil ainda era candidato à sede da Copa, a CBF informava que algumas reformas e adequações em estádios nacionais os deixariam prontos para receber os jogos do Mundial. Por isso, em 2007, a entidade divulgou que 1,1 bilhão de dólares (cerca de R$ 2,35 bilhões) seriam suficientes para preparar as arenas para o torneio. | Cinco anos depois do Brasil ser confirmado como sede da Copa do Mundo de 2014, o custo para preparar os estádios para o Mundial praticamente triplicou. De acordo com a última previsão oficial divulgada pelo governo no final de setembro, as 12 arenas do torneio vão consumir investimentos de R$ 6,7 bilhões. Desse valor, menos de 10% será pago com dinheiro privado |
PROJETOS DE MOBILIDADE FICAM PELO CAMINHO
Há cinco anos | Como está hoje |
A Copa foi vista por governantes como uma forma de acelerar investimentos no transporte. Logo que o Brasil foi confirmado como sede, projetos foram anunciados e prometidos para o torneio. O trem-bala São Paulo-Rio de Janeiro foi um desses projetos. O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) de Brasília chegou a ir para a lista oficial de obras | Em cinco anos de preparação, alguns projetos de mobilidade urbana foram modificados e outros esquecidos. O trem-bala, por exemplo, não chegou a sair do papel. Já o VLT de Brasília chegou a ser iniciado, mas foi paralisado por irregularidades na sua contratação. O trem urbano da capital federal foi oficialmente retirado da lista de obras da Copa no início deste mês |
EMBAIXADOR DA COPA VIRA CRÍTICO DO TORNEIO
Há cinco anos | Como está hoje |
Entre os membros da comitiva brasileira enviada à Zurique, na Suíça, para a cerimônia de escolha da sede da Copa do Mundo de 2014, estava o ex-jogador Romário. Naquela época, o Baixinho era um dos embaixadores do Mundial do Brasil e fazia campanha para a favor do torneio | Eleito deputado federal em 2010, o ex-jogador Romário assumiu na Câmara uma postura crítica quanto à realização da Copa do Mundo no Brasil. O ex-jogador é atualmente um dos maiores opositores do torneio por achar que seu benefício à população será pequeno |