Cafu cobra time titular de Mano e diz que Neymar sente pressão por não ter apoio

Luiz Paulo Montes

Do UOL, em São Paulo

  • AFP

    Cafu vê Neymar como o melhor do Brasil, mas diz que comparação com Messi é desigual

    Cafu vê Neymar como o melhor do Brasil, mas diz que comparação com Messi é desigual

Responsável por erguer a taça do pentacampeonato mundial em 2002, Cafu diz que deposita todas as suas fichas no trabalho de Mano Menezes. É contra as vaias e críticas que o técnico tem recebido por seu trabalho à frente da seleção brasileira. Evita comparar o trabalho do gaúcho com o de Felipão. Mas faz uma ressalva: os 11 titulares precisam ser decididos rapidamente.

"Esse time precisa treinar, jogar junto, pegar competições oficiais para entrosar. É uma boa seleção individualmente. Agora, precisa do conjunto. Em 2002 nós tínhamos um conjunto pois jogamos juntos quase quatro anos, com o mesmo time na grande maioria das competições. Agora não é assim. Então, o Mano precisa decidir logo os 11 titulares e começar a treinar essa equipe", afirmou o ex-camisa 2, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte

Para Cafu, Neymar é a maior joia do futebol brasileiro atualmente. O ex-lateral, aposentado desde 2010, quando deixou o Milan, lamenta, porém, que o santista não consiga ter o mesmo rendimento que tem em seu clube na seleção brasileira, devido à pressão que está tendo de lidar mesmo com apenas 20 anos. 

"Tem sentido o peso por não ter apoio. Está sentindo bastante. Estão dando a responsabilidade da seleção na mão de um menino. Na minha época, em 2002, 2006, a responsabilidade era dividida, todo mundo assumia um pouco, os mais experientes e os mais jovens. Hoje estão jogando tudo no Neymar, e isso é errado", declarou.

Entre outros assuntos, Cafu falou sobre a Copa do Mundo no Brasil, as críticas da Fifa e o trabalho de Mano Menezes.

Cafu
Cafu

Confira a entrevista exclusiva com o capitão do penta:

UOL Esporte:  Por que você resolveu se aposentar depois que saiu do Milan?

Cafu:  Eu tive propostas do Barueri, do Santos e de um outro grande de São Paulo. Mas quando voltei, meus pais não estavam bem de saúde e vieram a falecer. Decidi não dar mais sequência. Dei uma desanimada. Eu queria voltar para o Brasil para que os meus pais voltassem a ter alegria me vendo jogar. Mas isso não era mais possível e, por isso, parei.

UOL Esporte: Como está a vida de aposentado?

Cafu:  Aposentado só na palavra mesmo (risos). Estou trabalhando bastante, sou embaixador de grandes empresas no Brasil, multinacionais, e faço parte do Comitê da Fifa para a Copa de 2014. Além disso, tenho duas empresas e ainda a Fundação Cafu, da qual sou o presidente e tenho que dar atenção lá também. Tudo é ligado ao futebol, tanto as empresas que trabalho quanto as que sou embaixador, e trabalho com ativação. Tirando a Fundação, tudo é futebol.

NEYMAR DRIBLA FALTA DE BRILHANTISMO COM GOLS DECISIVOS

  • Victor R. Caivano/AP Photo

UOL Esporte:  Falando em futebol, você vê o Messi acima do Pelé, talvez como melhor de todos os tempos?

Cafu:  Acima do Pelé é desigual falar, porque o Pelé ganhou muita coisa, foi o jogador do século, fez mais de mil gols. É desigual comparar. Mas acho sim que ele pode chegar ao ponto que o Pelé chegou, construir esta mesma história.

UOL Esporte:  Comparar o Messi ao Pelé é desigual. E comparar Neymar ao Messi?

Cafu:  Também é desigual. Messi é mundialmente conhecido e respeitado. Neymar é muito respeitado, mas no Brasil. Mundialmente ainda falta muita coisa. Falta jogar no exterior, inclusive. Passou o momento de ele ir embora. Agora, estamos às vésperas da Copa de 2014, acho que não teria um tempo adequado. Mas eu sempre disse que ele deveria sair, ganhar experiência lá fora, crescer culturalmente e profissionalmente. E isso aconteceria no exterior. Agora ficou em cima da hora. Estamos perto da Copa das Confederações já. Mas se ele tivesse saído há dois anos, estaria bem mais maduro e experiente para a seleção.

UOL Esporte:  Mas hoje ele é o melhor do Brasil?

Cafu:  É o melhor do Brasil. Um talento. Um fenômeno. Referência, craque.

UOL Esporte:  Acha que ele tem sentido o peso na seleção e por isso não tem rendido tanto quanto no Santos?

Cafu: Tem sentido o peso por não ter apoio. Está sentindo bastante. Estão dando a responsabilidade da seleção na mão de um menino. Na minha época, em 2002, 2006, a responsabilidade era dividida, todo mundo assumia um pouco, os mais experientes e os mais jovens. Hoje estão jogando tudo no Neymar, e isso é errado.

UOL Esporte:  Pode prejudicá-lo no futuro?

Cafu: Pode prejudicar muito. Se o Brasil for bem na Copa, vão falar que o Neymar foi bem. Se for mal, é porque o Neymar não jogou nada. Outros grandes jogadores foram taxados de fracassados por não ganharem Copa. Zico, que é um dos maiores de todos os tempos, Falcão, e outros grandes jogadores. É normal, infelizmente.

Neymar
Neymar

UOL Esporte:  Como é sua relação com a seleção brasileira hoje?

Cafu: Eu me dou bem com o Mano, com o Sidney (Lobo, auxiliar), que jogou comigo. Estamos sempre trocando ideias. O Mano já esteve em casa, jogamos conversa fora. O relacionamento é muito bom.

UOL Esporte:  Mas futebolisticamente falando, tem deixado a desejar?

Cafu: O futebol em geral tem deixado a desejar. Não pode comparar a seleção brasileira com o futebol brasileiro. As críticas são injustas. Tem que dar tempo ao tempo. Muita gente fala "ah, a Copa está chegando". Sim, a Copa está aí para o Mano e para qualquer outro treinador se tirarem o Mano de lá. Não sei qual o argumento vocês (imprensa) usam. Se um treinador entrar agora, terá um ano e meio para trabalhar. É melhor dar sequência ao Mano, já que ele tem mais ou menos a base, sabe o que quer.

UOL Esporte:  Você acha então que as vaias que a seleção recebeu nos últimos jogos são injustas?

Cafu: As vaias são injustas. É injusto também pedirem o Felipão. O Mano está trabalhando, está lá para fazer o trabalho dele e conquistar resultados. Às vezes a culpa não é dele, é dos jogadores. Ele pega o time para treinar no domingo e jogar na quarta. É humanamente impossível entrosar uma seleção assim. Tem que dar tranquilidade e paz para o treinador trabalhar. Independente de quem seja. Hoje é o Mano.

UOL Esporte:   O Brasil pode conquistar o título da Copa, em 2014?

Cafu:  É capaz. Esse time precisa treinar, jogar junto, pegar competições oficiais para entrosar. É uma boa seleção individualmente. Agora, precisa do conjunto. Em 2002 nós tínhamos um conjunto pois jogamos juntos quase quatro anos, com o mesmo time na grande maioria das competições. Agora não é assim. Então, o Mano precisa decidir logo os 11 titulares e começar a treinar essa equipe.

UOL Esporte:  Se em 2014 a torcida vaiar a seleção, como tem feito nos últimos jogos, isso pode atrapalhar?

Cafu:  Pode atrapalhar. Se a seleção entrar na Copa sendo vaiada pela própria torcida, é óbvio que atrapalha. Os jogadores querem ver o povo a seu favor, torcendo, gritando o nome deles, e não contra. O clubismo atrapalha um pouco também, o pessoal não sabe distinguir. Mas o jogador tem que esquecer isso. É a camisa da seleção, não a do clube.

UOL Esporte:   O Brasil está preparado para a Copa do Mundo?

Cafu:  Claro que está. Preparadíssimo. Tem mais um ano e meio para estar 100%. Em todos os aspectos estaremos preparados. Vai melhorar tudo. Não tem como fugir disso. Aeroporto tem que melhorar, os estádios terão que ficar prontos, o transporte tem que melhorar, hospitais, etc. Eles (governo) sabem disso.

UOL Esporte:   Na sua passagem pela Suíça, o Jérome Valcke (secretário-geral da Fifa) fez uma brincadeira e disse "cuidado para não perderem a taça no Brasil". Você acha que, mesmo brincando, é uma frase que reflete o que a Fifa pensa do Brasil?

Cafu:  A brincadeira reflete o que aconteceu com a Julies Rimet. Roubaram, não roubaram? Se não tivessem roubado não haveria essa brincadeira. Mas tem que levar na esportiva. Deixei claro para ele que no Jardim Irene a taça "está em casa". Ele deu risada e ficou por isso mesmo. Mas o povo brasileiro está com pé atrás em relação à Copa. Por que nós vamos criticar o pessoal que fala mal se alguns de nós fazem isso? Não entendo. O brasileiro está desconfiado, por que o estrangeiro não pode? Eles falam o que escutam por aqui. As pessoas falam que não temos condições, que está tudo atrasado. É isso que levam para a Fifa. Se falarem como eu, que vai ser uma baita Copa, a melhor de todas, que o Brasil vai dar show, é isso que eles (Fifa) vão acatar.

UOL Esporte:   Em 2006, a seleção brasileira sofreu muitas críticas por causa da preparação feita em Weggis. O que aconteceu, de fato? A empolgação atrapalhou o Brasil?

Cafu:  Foi uma festa, claro que foi. Vocês viram, teve festa. Era bagunça na hora de ir para o treino, não tinha concentração para treinar. Mas não foi por isso que perdemos a Copa. Perdemos por falta de consciência nossa. Depois que entra em campo, tem que estar focado. Uma vez perdido, não adianta procurar álibi. Perdeu, perdeu. Ninguém fala que a França jogou melhor que o Brasil, né? Tiveram oportunidade, fizeram o gol e pronto.

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