No estilo paz e amor, seleção faz charme na volta para casa

Fernando Duarte

Do UOL, em Estocolmo (Suécia)

  • Moacyr Lopes Junior/Folhapress

    Técnico Mano Menezes acena após a vitória do Brasil sobre a Coreia do Sul pelas semifinal dos Jogos

    Técnico Mano Menezes acena após a vitória do Brasil sobre a Coreia do Sul pelas semifinal dos Jogos

Não fosse a tendência "pacheca" do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva no que diz respeito a assuntos esportivos, alguém poderia imaginar que o telefonema dado no início da semana para José Maria Marin e Mano Menezes, presidente da CBF e técnico da seleção, respectivamente, teria sido uma consultoria improvisada.

Pois o tom adotado pela equipe após a vitória de quarta-feira sobre a Suécia, por 3 a 0, em Estocolmo, teve muito em comum com a estratégia conciliadora adotada em 2002 pelo então candidato Lula para arrefecer ânimos e suavizar opiniões – estratégia apelidada de "Lulinha Paz e Amor".

Prestes a disputar uma sequência de partidas em casa, diante de uma torcida decepcionada com mais um fracasso olímpico, a seleção se reunirá na esperança de se fazer atraente e charmosa para trazer de volta os brasileiros para seu lado. E, de quebra, diminuir a pressão sobre o técnico, cujo futuro passou a ser fortemente questionado após a campanha em Londres.

E os adversários escolhidos pela CBF estão muito longe de representar algum perigo ao time de Mano. Nunca foi tão fácil se redimir.
 
A África do Sul será o rival do dia 7 de setembro, no Morumbi. Três dias depois, em Recife, a seleção enfrentará a China. A partida deve ser envolta em clima de festa já que marca o retorno da seleção a Pernambuco depois de três anos.  A posição dos adversários no ranking da Fifa ajuda a projetar o nível do futebol que eles mostrarão no mês que vem. Os africanos são os 67º colocados; os asiáticos, os 69º. O Brasil está atualmente na 13ª posição.

Depois desses dois jogos, a seleção de Mano enfrentará a Argentina. Um time cuja qualidade rivaliza com qualquer seleção top, certo? Mais ou menos. Válidas pelo torneio amistoso Superclássico das Américas, as duas partidas serão disputadas apenas por jogadores que atuam em seus respectivos países. Nessa situação, a seleção argentina perde a maioria de seus bons atletas, enquanto o Brasil, ao contrário, consegue manter grande parte de suas estrelas.

Mas essa missão de reencontro com o torcedor oferece muito mais dificuldades que a qualidade dos adversários, ainda mais se levado em conta que o local da primeira partida será justamente São Paulo, uma praça tradicionalmente volátil com a seleção.
 
Desde a perda do ouro olímpico, declarações de Mano e de jogadores-chave têm girado em torno da reconciliação com a torcida. Ao mesmo tempo em que o capitão Thiago Silva falava sobre a necessidade de reconquistar a confiança do público, o lateral Daniel Alves, que não esteve em Londres, insistia na tese de que o grupo entende o sentimento de frustração na arquibancada.
 
"Temos muito mais em comum com o torcedor do que se pode imaginar. Para começar, todo jogador de futebol é apaixonado pelo esporte. A gente sofre quando perde e fica feliz quando ganha. E ninguém aqui menospreza a responsabilidade de representar o Brasil", afirma o jogador. Durante a passagem pela Suécia, ele reclamou do que classificou como pressão injusta do público e da imprensa.
 
Mano também criticou as cobranças sobre o time, mas admitiu que apenas resultados positivos podem garantir as pazes com o público. O treinador também revelou mágoa guardada depois de um episódio na última passagem da seleção pelo Brasil.
 
"Jogamos com a Holanda em Goiânia [em junho do ano passado] e estávamos com a vice-campeã mundial numa partida em que perdemos o Ramires por uma expulsão. A torcida começou a gritar 'olé' quando os holandeses tocavam a bola. Acho que as pessoas podem ter um pouco mais de carinho com a seleção", argumentou o treinador. Mano também apelou a uma potencial ajuda da imprensa "na formação de opiniões".
 
Mas o técnico e a CBF sabem que sua contra-partida será obrigatória. E que vai além do resultado em campo. Não será surpresa se as próximas exibições forem marcadas por treinos abertos ao público e por uma política populista no preço dos ingressos. O nível dos adversários também projeta duelos mais abertos e com muitos gols, como aconteceu em Estocolmo.
 
Os adversários já estavam escolhidos antes da medalha de prata olímpica. A CBF diz encontrar dificuldades de marcar amistosos contra rivais mais fortes porque a maioria deles disputa as eliminatórias para o Mundial de 2014, das quais o Brasil não precisa participar por ser o país-sede. De qualquer forma, China e África do Sul parecem ter vindo bem a calhar. 
 
"A gente vai ter sempre que lidar com as exigências do torcedor. Isso faz parte da vida de quem quer jogar na seleção brasileira. Temos sempre que lembrar disso", afirmou o zagueiro David Luiz, que também se incorporou à seleção após a queda em Londres.
 

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